Demoraram cerca de dois anos o namoro e o noivado entre o governo do Estado/Vale com a empresa argelina Cevital, que se mostrou interessada em implantar uma siderúrgica em Marabá, no local que estava reservado para a Alpa (Aços Laminados do Pará). Os três estão fazendo uma DR (Discussão da Relação) que começou entre quatro paredes há alguns meses e agora se tornou pública.
O próprio Adnan Demachki, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, que conduz o processo de negociação com a Cevital e Vale desde o início, esmoreceu e já fala publicamente que as chances de o negócio “miar” são grandes. Isso porque os argelinos da Cevital insistem em implantar a siderúrgica em Barcarena, onde há porto e o negócio é mais rentável, e não em Marabá.
Ontem, quinta-feira, 18 de agosto, durante audiência pública em Marabá para discutir a Ferrovia Paraense – outro sonho alto do governo do Estado – ele mesmo tocou no assunto em tom melancólico e disse que os argumentos da Cevital são justificáveis do ponto de vista econômico, mas que o governo do Pará retiraria os incentivos fiscais que prometeu e a Vale alegou que não venderia mais minério de ferro a preço abaixo do mercado.
É que tanto o governo do Estado quanto a Vale têm dívida com a região sudeste do Pará. O primeiro porque não investe nem 5% do Orçamento do Estado nesta região e a mineradora porque prometeu implantar a Alpa, abandonou o projeto e agora quer encontrar uma saída para a falsa expectativa que criou na população de Marabá e região.
Demachki disse que aceitou a sugestão da vereadora Irismar Melo, de Marabá, que havia proposto que o Estado buscasse outras alternativas de investidores para o setor de siderurgia e ocupar o terreno da extinta Alpa. “Naquele momento eu respondi que não poderia atropelar a negociação que estava em curso e que precisávamos esperar a decisão dela (Cevital). Mas agora é outro momento e como criamos uma modelagem, as coisas ficarão mais fáceis. As empresas terão preços mais competitivos, haverá ZPE, incentivos fiscais do Estado, terreno de graça. Como os argelinos disseram que querem ir para Barcarena, não estamos mais fazendo reserva para eles”, disse.
UM NOVO PROJETO
Segundo Adnan, depois que o negócio com a Cevital “esfriou”, a Vale está trabalhando com bastante dedicação em busca de um parceiro que queira implantar uma siderúrgica em Marabá e que possa produzir cerca de 1 milhão de toneladas de aço por ano. O foco seria diferente, porque a Cevital planejava produzir 3 milhões de toneladas de aço para exportação, enquanto a nova proposta que está sendo articulada, toda a produção seria para abastecer o mercado interno. “Quero dizer que a Cevital ainda está analisando o projeto, não está descartado. Só que agora temos essa outra possibilidade”, disse.
As reuniões neste sentido iniciaram há cerca de três semanas, segundo o secretário de Estado, com a participação do presidente da ACIM (Associação Comercial e Industrial de Marabá) Ítalo Ipojucan Costa. Disse que a Vale resgatou o projeto original da Alpa e contratou uma empresa para fazer novos estudos, com no mínimo 700 mil toneladas por ano, podendo chegar a 1 milhão de toneladas. “Estamos convencendo a Vale para que ela seja uma das parceiras desse projeto. Inicialmente, o governo estava buscando empreendedores, agora é a Vale quem está nesta função. No momento em que a Vale viabilizar a siderúrgica para Marabá, ela volta a receber incentivos fiscais”, argumenta Adan.
O secretário de Estado disse que espera que em poucos meses traga representantes da própria Vale em Marabá para alinhar com a empresa o projeto da siderúrgica “que nós desenterramos”.
MENOS EMPOLGADO
O prefeito Tião Miranda, no mesmo evento desta quinta-feira, também se mostrou cético em relação à vinda da Cevital para Marabá. Disse que todo empreendedor quer tudo para fazer investimento e fazer uma siderúrgica perto do porto, que fica mais fácil para importar e exportar. “Já estive mais empolgado com a Cevital, e hoje não estou mais. É hora de nos unirmos para cobrar da Vale. Ela não tem expertise em siderúrgica e nunca teve interesse em desenvolver o Pará. A Vale se beneficia com a Lei Kandir, que a isentou de imposto para poder exportar. Mas, ao mesmo tempo, pode ser parceira com investimento em outra siderúrgica em Marabá”, pondera o prefeito. (Ulisses Pompeu)
Fonte: Correio de Carajás
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