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Trabalhadores rurais são executados a tiros em Marabá

Mais um crime contra a vida abalou a já conturbada zona rural da região sudeste do Pará. Na manhã de ontem, quarta-feira (13), dois sem-terra foram assassinados a tiros na localidade conhecida como Assentamento Boa Esperança. As vítimas foram identificadas como Eraldo Moreira Luz, o “Pirata”, que morreu na rede onde descansava, e Jorge Matias da Silva, de 25 anos, que chegou a ser socorrido, mas morreu na carroceria de uma picape que tentava buscar socorro médico em Parauapebas.

A localidade onde o duplo assassinato aconteceu fica no município de Marabá, mas está mais perto do perímetro urbano de Parauapebas, na região do Garimpo das Pedras. Segundo os moradores da ocupação, naquela área vivem cerca de 500 famílias e os assentados agora estão apavorados.

Um dos moradores que presenciou o duplo assassinato foi Raimundo Dantas da Silva. Ele conta que ao chegar perto do barracão onde as vítimas moravam havia dois homens numa motocicleta, que perguntaram por Eraldo “Pirata”, mas este ainda não havia chegado. Raimundo conta que não chegou a prestar muita atenção aos dois estranhos e se afastou um pouco. Os dois, no entanto, eram os pistoleiros que estavam lá para fazer o “serviço”.

Passaram-se alguns instantes até que Eraldo e Jorge Matias chegaram e foram descansar no barracão. Nessa hora os criminosos agiram: efetuaram vários disparos contra Eraldo e Jorge Matias e em seguida mandaram Raimundo correr. Após o crime, fugiram na moto. “Quando eu dei fé, um fez os disparos, aí eu varei porque mandaram eu varar”, relembra, visivelmente assombrado com a cena policialesca.

Ainda de acordo com a testemunha, um dos pistoleiros, antes da fuga, ainda teria gritado que há outros sem-terra marcados para morrer naquele acampamento. Por isso, muita gente abandonou tudo e foi embora na mesma hora.

Perguntado se é capaz de ajudar a polícia a produzir um retrato-falado que identifique pelo menos um dos criminosos, Raimundo Dantas disse que o susto foi tamanho e tudo aconteceu tão rápido que ele não conseguiu memorizar o rosto de ninguém.

Vítima ainda recebeu ajuda

Outra testemunha que prestou depoimento à polícia sobre o caso foi Agenor Mendes Silva, que é dono de uma pequena propriedade rural na localidade e vizinho de terras de Jorge Matias. Ele conta que estava perto do local do crime e, ao escutar os disparos, foi até o barracão, onde se deparou com Jorge caído sobre um colchão no chão, com um ferimento no rosto, mas ainda com vida, enquanto Eraldo “Pirata” estava morto na rede, também vítima de disparo de arma de fogo. Ele tentou salvar Jorge.

De acordo com o depoimento, Agenor colocou Jorge, com colchão e tudo, na carroceria da picape e rumou para a Parauapebas. O carro, porém, apresentou pane no meio do caminho. Ele parou para consertar o problema e verificou que Jorge já estava morto. Diante disso, Agenor telefonou para a polícia e  seguiu com o corpo para 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil.

Ainda no depoimento prestado à polícia, Agenor pode ter dado uma pista capaz de levar a polícia a entender o que aconteceu. Segundo ele, Eraldo, o “Pirata”, era líder de uma ocupação na área e já havia se envolvido em algumas confusões, inclusive com outros sem-terra, devido a problemas com lotes ocupados, ao passo que Jorge Matias era pessoa tranquila e não se envolvia em confusão com ninguém.

Diante desse quadro, ele diz acreditar que Jorge Matias morreu porque estava no lugar errado, na hora errada e com a pessoa errada. Ou seja, foi morto para não servir como testemunha.

Clima tenso

As mortes no campo andam longe de se constituírem uma novidade no sul e sudeste do Pará. Neste pedaço da Amazônia existem nada menos de 158 áreas de ocupação rural disputadas por camponeses sem-terra e fazendeiros, com 14 mil pessoas envolvidas, de acordo com dados apresentados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A entidade alerta ainda que o mais preocupante é que esse quadro se desenha num momento em que o governo federal lavou as mãos para os conflitos no campo, deixando as partes resolverem a questão entre si, prevalecendo a lei do mais forte, como no Velho Oeste.

Por outro lado, a coordenadora da Justiça Global, Sandra Carvalho, denuncia que “mais de 600 trabalhadores rurais já foram assassinados a mando de fazendeiros na região, mas não há um único autor atrás das grades em razão disso”. (Chagas Filho com informações de Ronaldo Modesto)

Fonte: www.correiodecarajas.com.br



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