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Pesquisa inédita traz solução para 6 mil acidentes de trabalho

Um estudo pioneiro desenvolvido por um engenheiro de minas graduado em Marabá pode colocar ponto final em parte dos 6.000 acidentes de trabalho que ocorrem anualmente na indústria extrativa mineral. Artur Alves, que recebeu título de mestre em Recursos Naturais pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV) em dezembro, desenvolveu uma pesquisa experimental com foco em mina subterrânea capaz de revolucionar a segurança do trabalho em ambientes hostis, como as minas de ouro, responsáveis por uma fatia significativa das riquezas minerais e, de igual modo, pela elevada taxa de letalidade na mineração.

Em linhas gerais, Alves ajustou um método de sensoriamento empregado em outras atividades laborais para a mina subterrânea capaz de localizar e identificar eficientemente objetos e pessoas, mesmo em longas distâncias chão adentro. Pela relevância social e praticidade industrial do estudo, o engenheiro foi aprovado pela banca com conceito máximo. A pesquisa foi orientada pelo professor Gustavo Pessin, pós-doutor em Ciências da Computação e Matemática Computacional pelo conceituadíssimo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

A produção técnica, de 50 páginas, intitulada “Localização por Radiofrequência a Serviço da Segurança do Trabalho: Análise em Mina Subterrânea” teve como ponto de partida uma mina subterrânea do Pará, localizada no município de Itaituba, oeste paraense. O Pará só tem duas minas subterrâneas e Itaituba é o terceiro maior produtor de ouro do Brasil, com operações minerais que já chegam a R$ 1,11 bilhão em 2017, de acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

62 MIL ACIDENTES EM 9 ANOS

Nos últimos três anos, foram produzidas 170 teses e dissertações no Brasil sobre o tema Segurança do Trabalho, sendo apenas uma delas relacionada à mineração. A pesquisa de Artur Alves é, além da mais atualizada, a que oferece a maior gama de dados estatísticos, de diversas fontes oficiais, particularmente voltada à indústria extrativa.

Conforme a dissertação, os números mais recentes do Ministério da Previdência Social apontam que entre 2006 e 2015 aproximadamente 62 mil acidentes de trabalho foram registrados em projetos de mineração, ocasionando uma pilha de afastamentos laborais. No município de Itaituba, foram registrados 194 acidentes de trabalho na mineração em apenas um ano com duas mortes notificadas, ambas as quais em minas de ouro. “A mineração de ouro em Itaituba é a mais letal do país”, assinala Alves, revelando, inclusive, que a quantidade de garimpos mascara as estatísticas, visto que os garimpeiros não possuem vínculo de trabalho formal e, por isso, quando se acidentam, não entram nos dados oficiais.

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA VIDA

Para contribuir tecnicamente com a indústria mineral e aperfeiçoar seus procedimentos, em termos de segurança, Alves percebeu que as tecnologias por radiofrequência podem ser utilizadas a serviço da vida humana. Ele testou o sinal de alguns equipamentos com chips acoplados em vestimentas de trabalhadores em ambiente simulado ao da mina subterrânea de ouro da multinacional Serabi Gold, que tem projeto em Itaituba.

A mesma tecnologia tem sido empregada largamente em ambientes abertos, mas as respostas para a mina subterrânea ? que eram desconhecidas — surpreenderam positivamente. “Os sinais foram testados em etiquetas. E estamos surpresos: a radiofrequência foi captada com facilidade, mesmo com os trabalhadores em movimento, e a localização é precisa e rápida”, comemora o engenheiro de minas, explicando que com utilização em larga escala, para a indústria, seu trabalho norteia o aperfeiçoamento do gerenciamento e do controle de processos operacionais, culminando na eficiente comunicação entre a empresa e o empregado, visando a minimizar o risco de acidentes.

Há limitações, como qualquer outro procedimento, mas elas são supostas, já que nos testes tudo funcionou com eficácia. “Uma eventual limitação diz respeito ao não funcionamento da etiqueta e, assim, não seja possível localizar o trabalhador”, informa. “Mas é possibilidade remota”, contemporiza.

Alves, que passou um semestre fazendo os testes para o estudo e também é especialista em Segurança do Trabalho, agora projeta o doutorado. “Eu me graduei em Engenharia de Minas pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, em Marabá, e queria deixar um legado de produção científica ao meu estado. Parti para a mineração subterrânea porque ainda é novidade técnico-científica aqui no Pará, já que só temos duas minas dessa natureza e quase nenhuma produção acadêmica sobre”, revela, prometendo que, em seu doutorado, vai focar em processos na região de Carajás, com destaque para Marabá, um dos campeões do Brasil em pedidos de pesquisa mineral. (André Santos)

 

 

 

 

ELA É GOLD!

Empresa abre as portas para pesquisa de mestrado

 

O engenheiro de minas, agora mestre, Artur Alves contou com uma ajuda de peso para desenvolver sua pesquisa de sucesso. A mineradora multinacional Serabi Gold, uma das 20 mais importantes na indústria de ouro do Brasil, abriu as portas para recebê-lo e desenvolver seu projeto de mestrado profissional.

Com duas minas (Palito e São Chico) no município de Itaituba, ambas as quais subterrâneas, a Serabi é a empresa que mais contribui com o desenvolvimento local, por meio de compensações financeiras e o pagamento de taxas e impostos à prefeitura. Só para se ter ideia, Itaituba — que possui 62.042,302 quilômetros quadrados de superfície, é o 13º maior município brasileiro e dentro do qual cabe uma Suíça e meia ? possuía em 2017 um total de 45 mineradoras ativas de ouro, sendo a recordista no país em requerimentos de pesquisa desse minério junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Mas é a Serabi quem paga a maior quantia de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), mesmo sendo a quinta em movimento operacional no município, conforme dados do DNPM.

“Graças, sobretudo, à Serabi, Itaituba é o 3º maior produtor de ouro do Brasil. A empresa tem bastante interesse em aprimorar seus processos de segurança a fim de evitar acidentes, que são uma constante na indústria extrativa mineral em todo o mundo. Além disso, uma das visões da mineradora é promover o desenvolvimento da comunidade onde atua, sob os rigores da lei”, elogia Alves. Nos cálculos da empresa, 40 mil onças de ouro devem ter sido produzidos ao longo de 2017, mas o balanço consolidado de produção deve sair até março.

“Devo à gerente de Meio Ambiente da Serabi, Flávia Veronese, o apoio pessoal e profissional de que necessitei para executar minha pesquisa”, revela, destacando ainda que seus superiores na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Eduardo Leão, MArily Germano e Wilson Teixeira, foram compreensivos ao liberá-lo em várias ocasiões para fazer os experimentos necessários.

Seus colegas Eduardo Carvalho e Bruno Ferreira ajudaram-no na coleta de informações. “Muita gente, direta e indiretamente, se envolveu no meu trabalho para que chegasse a essa relevância”, lembra, exprimindo o desejo do doutorado. “Quero unir o conhecimento em segurança do trabalho com o planejamento de lavra de mina subterrânea”, anuncia, ressaltando que a mineração subterrânea é uma das futuras grandes fronteiras minerais do Pará na próxima década e com potencial de gerar muitos empregos. (André Santos)

Fonte: Correio de Carajás



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