Quase uma tragédia anunciada ocorre nas dependências da Escola Estadual de Ensino Médio e Integral Dr. Gaspar Vianna, na Folha 16, em Marabá. Na tarde de sábado, dia 19, parte do telhado de um dos pavilhões desabou. Por sorte, era final de semana e não havia ninguém em nenhuma das salas atingidas, dentre elas a biblioteca e a sala de informática. O dia em que o desabamento ocorreu evitou possíveis feridos ou mesmo mortos.
Para alunos e professores, não se pode chamar de acidente aquilo sobre o que se alertou por vários meses que poderia ocorrer a qualquer momento. O último alerta público, inclusive, ocorreu na manhã do dia anterior, sexta-feira (18), quando um grupo esteve no Ministério Público do Estado do Pará solicitando que o órgão intercedesse junto ao governo do Estado para que fossem solucionadas questões de infraestrutura desta e de outras duas escolas na cidade.
Na última quinta-feira (17), uma equipe da TV Correio, do Grupo Correio de Comunicação, esteve no local após ser chamada por alunos que queriam mostrar a situação degradante dos banheiros e as rachaduras nas paredes, mas foi proibida de entrar na escola: um prédio público. Há a informação de que na tarde de sexta, após o protesto de alunos, um barulho no telhado que desabou fez a direção da escola chamar o Corpo de Bombeiros para uma avaliação. Uma equipe esteve no local e mandou isolar a área, apenas um dia antes da estrutura ruir.
Pela escola passam, diariamente, aproximadamente 800 estudantes, além de 17 professores e funcionários de apoio administrativo e de serviços gerais. Boa parte da comunidade escolar não está frequentando aulas em decorrência da greve dos professores da rede estadual que cobram o pagamento do piso nacional e, ironicamente, melhorias na infraestrutura das escolas estaduais. Há, no entanto, algumas turmas que seguem frequentando aulas.
Na manhã desta segunda-feira (21), estudantes e corpo docente estiveram na escola para verificar a veracidade da informação que rapidamente se espalhou por redes sociais no final de semana, além de se posicionarem novamente em protesto acerca dos problemas que enfrentam todos os dias no estabelecimento educacional e que passam longe de serem apenas de estrutura predial.
“São muitas coisas irregulares, a quadra, as salas, as cadeiras, a merenda. Não tem banco pra sentar na hora de merendar”, diz o aluno André da Silva Mesquita. O colega, Ruan das Neves, complementa: “Eu vejo que esse colégio não tem estrutura pra nada. Não tem boa alimentação, não tem boas salas climatizadas porque o calor é demais, as carteiras estão quebradas e a merenda é precária”.
Ensino integral
Se já é difícil frequentar a escola em horário comum de aula, a preocupação dos estudantes aumenta quando se lembra que a Gaspar Viana é uma das quatro unidades do município que devem receber o Ensino Integral a partir deste ano. Além dela, foi anunciado o regime também para as escolas Gabriel Sales Pimenta, Liberdade e Plínio Pinheiro.
“É só olhar como está a infraestrutura e querem que fiquemos lá dentro de forma integral, das 7h30 às 17 horas numa escola que não tem condições. A merenda é sardinha e macarrão todo dia, até preso come melhor. Comemos isso todo dia e abusamos, não é porque não queremos comer é porque estamos abusados mesmo. Todo dia a mesma coisa, não mandam outra coisa”, diz Jhon Igor da Silva Gomes, afirmando que a única merenda que difere disso é leite com nescau “aguado” e biscoito salgado. “Nem uma manteiga tem”.
Sem serventia
Ivan da Conceição dos Santos chama a atenção para o caso dos banheiros, segundo ele inutilizáveis. “A escola já começa errada porque não existe como ter ensino integral sem estrutura nenhuma. O banheiro não se conta, não tem como tomar banho. O banheiro fede, não tem como fazer. O lanche na cantina não tem, é bolacha e suco ou bolacha com água. A gente que traz o lanche às vezes e eles ainda reclamam quando a gente sai pra comprar merenda no mercado aqui perto”, desabafa.
O CORREIO procurou o diretor da escola, Fernando Santiago, mas o técnico Valdeci Meireles informou que ele estava no Corpo de Bombeiros durante a manifestação. De acordo com o funcionário, a ordem é não deixar ninguém entrar no estabelecimento até que haja perícia do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves e do Corpo de Bombeiros.
Fiação comprometida e rachaduras aumentam riscos
De acordo com o professor Andretti Lemos, que ministra disciplinas de Sociologia e Filosofia na escola, a única maneira de estudantes, professores e corpo técnico permanecerem seguros é mudança para outro prédio enquanto ocorre uma reforma na escola.
“Nós estamos lutando para conseguir outro espaço para a escola até que o governo faça uma reforma descente e transmita segurança para os alunos porque, por enquanto, a escola não tem condições de dar segurança aos alunos”, diz, acrescentando que a manifestação desta segunda foi direcionada ao movimento dos estudantes com relação à estrutura e decadência na qual a escola se encontra.
“É uma escola tradicional, importante deste núcleo e está caindo aos pedaços. Por último, agora desabou o telhado do pavilhão onde ficam biblioteca e sala de informática e outra sala de múltiplo uso que a escola tem. Isso mostra o perigo e o descaso que o governo do estado tem para com a educação, com a falta de manutenção dos prédios públicos estaduais, principalmente as escolas”.
O professor Enoque Gomes, de Física, afirma que não foram poucas as vezes que houve reunião com a comunidade escolar nas quais foram apontadas as péssimas condições de estrutura do prédio. Ele ressalta que o prédio onde houve o desabamento ainda era um dos que aparentava estar em melhores condições, o que aumenta o temor.
“O prédio está à parte e é o que possui a melhor estrutura da escola. Ele não possuía rachaduras nas paredes e assim mesmo o teto cedeu, aí fico pensando os demais espaços que possuem rachaduras, infiltração e nos quais a instalação elétrica está completamente comprometida. Em horário de aula os ventiladores pegam fogo, as lâmpadas queimam, as centrais de ar não funcionam. Daí tiramos como está a situação da escola que é para ser uma escola de ensino integral”.
Ele destaca que a escola já passou por duas reformas nos últimos anos, porém, aparentemente, apenas a pintura foi retocada. “Segundo informações, peritos estiveram na escola, ela passou por perícia, e mesmo sendo apontada essa situação foi liberada para os alunos terem acesso. Certamente se fosse me um dia de aula, com 45 alunos por sala, seria uma tragédia imensurável”.
O estudante Daniel Almeida Alexandre confirma a péssima situação de estrutura apontada pelos professores. “São rachaduras nas salas, teto caindo, e a qualquer momento pode ocorrer algo ainda mais grave porque está havendo curto na instalação elétrica. Todas as salas têm rachaduras grandes. A estrutura do colégio está um lixo”.
Sintepp quer audiência pública sobre o caso
A coordenadora em Marabá do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará Sintepp, Joyce Rebelo, informou nesta segunda-feira que na última quinta-feira a direção da escola estava solicitando que alunos entrassem e assistissem aula, mesmo diante do quadro de greve, e que emitiu uma nota informando que no dia 18 notificou a 4ª URE que a parede estava cedendo.
Ela diz, no entanto, que isso não ocorreu. “É mentira porque, conforme os professores estão informando, foi uma aluna que identificou que a parede estava cedendo, ouviu um estalo, mas ninguém fez nada sobre isso. Como vai haver aula nessa situação? Ele mesmo estava convocando os alunos. A manifestação e a greve são reais, pelas reformas das escolas”.
Ela diz que a escola tem 36 anos e passou por reforma em 2009 e em 2013. “Reforma sem qualidade e se ali cedeu e foi a mesma reforma que passou pelos outros pavilhões, futuramente esses outros blocos podem ir ao chão também”.
Por fim, disse que o Sintepp pretende montar uma representação pública para solicitar uma audiência pública com o Ministério Público e tratar do assunto. “Já conversamos com a promotoria sobre a estrutura das escolas porque tem outras nessa situação”.
(Luciana Marschall)
Fonte: Correio de Carajás
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