Foram sepultados na tarde de ontem, segunda-feira (10), os corpos dos irmãos Nelson Sirqueira da Silva, de 27 anos, Edimar Sirqueira da Silva, de 26 anos, e Daniel Sirqueira da Silva, de 17 anos, além de José Carlos de Carvalho Vieira, de 17 anos, que morreram eletrocutados em um equipamento da Companhia de Saneamento do Pará Empresa(Cosanpa), na tarde de sábado (8).
Uma quinta vítima, Carlos Henrique Ferreira de Carvalho, segue internada no Hospital Regional do Sudeste do Pará, mas não corre risco de morte. Os cinco receberam descarga elétrica proveniente da energia que abastece a bomba de sucção da Cosanpa no Rio Tocantins, à altura do Bairro Santa Rosa, na Marabá Pioneira.
Os cinco estavam em companhia de outros amigos e quatro deles sofreram a descarga enquanto tentavam ajudar o primeiro, que tomava banho próximo aos canos de ferro que isolam a fiação. Gabriel Silva Ernesto por pouco também não ficou ferido com gravidade e relata em detalhes o trágico acidente.
“Estávamos perto do cano, na horado choque eu fui jogado uns metros pelo choque. O Daniel ficou com o braço grudado e não soltou mais. Aí gritei pedindo ajuda pro Nelson e quando ele veio já caiu deitado em cima do cano, grudado. O Edinho veio tentar ajudar e também ficou grudado e o José Carlos”, afirma.
Gabriel e outro amigo correram até a estação da Cosanpa e pularam o muro para pedir ao vigilante que desligasse a energia. “A pessoa ainda foi ignorando perguntando se lá era local de banhar. Se é rio é local de banhar e a irresponsabilidade é deles que não dão manutenção na bomba. Se ele tivesse corrido na hora que falei ainda dava pra talvez salvar alguém, mas ele foi caminhando uns 30 metros, se tivesse corrido…”, relembra.
Ao retornar ao local do acidente,após a energia ser desligada, Gabriel diz que viu apenas Nelson e Carlos Henrique na parte de cima do cano e ainda houve tempo do último ser socorrido e encaminhado ao Hospital Regional. “O Nelson pedia pra tirar ele com um pau, comas costas grudadas”, rememora o amigo, lamentando a cena presenciada.
Conforme ele, era comum o grupo pescar e se divertir naquele ponto, assim como outras pessoas também o fazem e condena a falta de manutenção dos cantos. “Nunca deu choque, desde que me entendo por gente a gente banhava aqui, mas acho que a situação estava precária desse equipamento e era pra Cosanpa ter visto isso muito antes. Era pra ter feito manutenção. Tem uns 17 anos que eu moro aqui e isso nunca recebeu manutenção”.
Leo Vilar, que correu pedir para que a energia fosse desligada junto com Gabriel, também contou ao Jornal Correio a sua visão dos fatos. “A gente estava pescando e só o Daniel estava banhando na hora. Aí ele se enganchou na energia, gritou e os outros foram ajudar e grudaram também. Corremos lá pedir pra ele desligar, pulamos o muro. O único que não morreu foi o que empurraram com um pedaço de pau”.
Leo afirma que sempre se divertiu no local, desde criança, e nunca foi colocada nenhuma placa que informasse qualquer perigo. “A gente sempre brincou aqui e nunca aconteceu nada. Se ele disser que tinha placa aí é mentira, não tinha. Como que isolaram a energia com cano de ferro? Não dá certo. Tinha que ser plástico e não teria acontecido isso.Não tem como segurar as pessoas para não passarem por aí”, criticou.
O pai de José Carlos, um dos mortos, e de Carlos Henrique, internado, informou nesta segunda que o segundo está bem, além de lamentar a morte de um deles. Afirma que nunca gostou que os filhos brincassem na região, que considerava perigosa. “Eu reclamava quando eles iam pra lá, falava que era uma área de risco, mas sempre achei que fosse pela água e não necessariamente pela energia, mas área de bomba eu acho de risco”.
Ele estava trabalhando quando recebeu a notícia da tragédia. “Estou tranquilo, mas triste. Perdi meu filho,ele não volta mais”, comentou, acrescentando que as famílias não receberam qualquer apoio do Estado do Pará, responsável pela companhia de água.
Gerente sustenta que havia placas, mas que foram retiradas
O gerente da Cosanpa em Marabá, Paulo Barbosa, em entrevista ao Jornal Correio, afirma que em havia placas informando sobre os riscos de se nadar no local, mas que elas foram retiradas,contrariando a testemunha que diz nunca ter visto nenhum aviso de alerta no local. “A gente até preveniu a população, colocamos placas afirmando que era proibido tomar banho aqui, mas tiraram as placas e virou costume as pessoas se jogarem de cima do flutuante. Várias vezes eu vi e gritava aqui da beira que poderiam pegar choque”, disse.
Ele informou que a corrente que passapelo local é de 220 volts e questionado sobre como a Cosanpa lidaria com a questão, disse não ter alternativa se não dar continuidade ao serviço de abastecimento.“Claro que teremos que fazer uma revisão para vermos o que foi afetado, se algo ficou descoberto, mas precisamos continuar fazendo o abastecimento da cidade. Vou comunicar a diretoria da Cosanpa, sinto muito o ocorrido e não sei como vai ser daqui pra frente. É lamentável”, comentou.
Em nota, a assessoria de comunicação da Cosana afirma que a companhia se solidariza com as famílias dos jovens que sofreram o acidente e diz que está prestando assistência funeral aos jovens, o que foi negado por um dos pais. “A Cosanpa informa que já prestou as primeiras informações à Polícia Civil que está investigando o caso e está à disposição para contribuir com o que for necessário”, diz o texto.
A ascom acrescentou que uma equipe de manutenção preventiva da companhia, vinda de Belém, está junto com a equipe de Marabá para reativar o sistema de captação da Velha Marabá. A previsão era que o serviço fosse encerrado até à meia-noite de ontem. “A população da Velha Marabá, cerca de 3 mil clientes, está sendo abastecida com água através de dois carros-pipa, cedidos pela Prefeitura de Marabá”, informou. (Luciana Marschall – com informações de Josseli Carvalho)
Fonte: Correio de Carajás
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