Em sua edição de número 3.030, o Jornal CORREIO publicou Reportagem contando sobre a Ação Civil Pública instaurada pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) cobrando do Governo do Estado e da Prefeitura de Marabá providências quanto a estudantes sem acesso a igualdade de condições de educação nas escolas públicas em decorrência de alguma deficiência física, mental ou motora.
Algumas chegaram a relatar o que pode ser considerado o caso mais grave de violação de direitos à educação inclusiva: há alunos matriculados, mas que não vão à escola desde 2015 devido à falta de profissionais que deem apoio aos professores em sala de aula.
Hoje, em Marabá, são 314 os alunos com deficiência e transtornos que necessitam de auxílio profissional. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Marabá (Semed), eles teriam acompanhamento de professores com especialização na área. No entanto, de acordo com informações contidas no documento que deu origem à ação, durante reunião em maio a Secretaria alegou que 26% desses alunos estão sem o acompanhamento especializado em sala de aula.
Apelo
A pedido de pais e responsáveis, o Correio esteve na APAE (Associação de Pais e Amigos Excepcionais) para conversar com algumas mães de crianças com Transtorno de Espectro Autista. A angústia é grande ao ver seus filhos fora da escola ou sem o acompanhamento necessário. Juntas, elas formam um movimento, composto por 10 mães, que luta pelo direito das crianças e adolescentes autistas em Marabá. Durante a entrevista, elas falam sobre os entraves para conseguir fazer valer a inclusão e acessibilidade a que têm direito.
Uma delas é Eliana Oliveira Costa, de 35 anos, que veio de Tucuruí há cinco meses e é mãe de um menino de dois anos e uma menina de nove anos, diagnosticada com autismo. Ela conta que somente no ano passado o laudo foi fechado e que há quatro meses sua filha está longe da escola. Eliana conta que no primeiro mês, quem serviu de profissional de apoio foi ela mesma.
“Em Marabá, de modo geral, nós enfrentamos a dificuldade de estarmos deixando as crianças no ensino regular. Aqui não existe inclusão de forma alguma. Nossos filhos estão matriculados, porém não estão indo para a escola; se vão não recebem o auxílio necessário. Precisamos de profissionais de apoio capacitados para atenderem nossos filhos, agradecemos aos estagiários, mas queremos profissionais. É um crime nossos filhos não estarem na escola”, desabafa Eliana, acrescentando que irá lutar para ver sua filha estudando novamente na escola.
Roseane Cruz tem 36 anos e uma menina de cinco anos, também diagnosticada com autismo. Ela conta que a filha tem dificuldade para interagir e que a escola seria uma ótima ferramenta para trabalhar essa limitação, não fosse ela estar afastada de sala desde 2015.
“A escola seria uma ferramenta muito boa de interação para ela, ver e imitar os amiguinhos, seria um aprendizado muito bom para ela. Nunca me deram resposta sobre esse tipo de auxílio. Cheguei a fazer um acordo com a escola para acompanhar minha filha por alguns dias. Fiz isso por alguns dias. Eu quero um profissional capacitado para acompanha-la. A equipe da escola trata bem minha filha, mas saber lidar com o autismo dentro de sala ninguém sabe”, conta.
Já Leila Martins, de 39 anos, conta que na escola do filho de 8 anos tem estagiário, mas que não dá a devida atenção e desconfia que o pequeno não esteja sendo avaliado corretamente. “Na escola não há inclusão. Meu filho é um menino inteligente, a escola diz que ele está bem avançado comparado à turma dele, mas tive uma decepção grande porque a primeira nota do boletim foi repetida em todas as avaliações do ano. Será que ele foi avaliado de verdade? A professora não tem trabalho com ele, não sabe nem se ele foi ou não foi à escola. Esse ano ele não evoluiu em nada”, relatou Leila.
Além da carência de profissional de apoio nas Instituições de ensino, as mães também concordam quando dizem que o Autismo não é debatido nas escolas. Inclusão para elas também é desconstruir preconceitos.
(Jackeline Chagas)
Fonte: Fonte: CT ONLINE
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