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Teste rápido de farmácia pode ser impreciso e requer cautela

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou que farmácias apliquem testes rápidos de covid-19. O órgão afirma que esse tipo de teste não tem o objetivo de diagnosticar a doença e que a autorização é temporária e excepcional. Especialistas ouvidos pelo R7 são a favor da medida, mas apontam que o exame tem limitações e que é essencial seguir regras para aplicá-lo.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) manifestou em nota sua preocupação com as consequências dessa resolução. De acordo com a instituição, se o teste rápido for realizado no período incorreto, 75% dos resultados podem ser “falsos negativos”.

“Apesar de úteis em situações específicas, como no mapeamento epidemiológico de uma infecção viral, estes exames podem apresentar número significativo de resultados falso negativos. Eles apresentam deficiências, pois devem ser realizados após sete dias da apresentação dos primeiros sintomas”, diz o CFM.

O conselho ainda pede que seja priorizada a aplicação do teste RT-PCR, de biologia molecular. Ele é considerado “padrão ouro” porque detecta a presença do material genético do novo coronavírus, ou seja, é capaz de diagnosticar uma infecção ativa pelo vírus.

Detecta anticorpos, mas não a infecção

O teste rápido, por sua vez, detecta a presença de anticorpos contra o novo coronavírus no sangue da pessoa. Isso significa saber se houve exposição ao vírus – e não se a pessoa está infectada no momento da testagem.

Sete dias é o prazo necessário para que o organismo consiga produzir essa resposta do sistema imune em níveis detectáveis pelo exame que será disponibilizado em farmácias- período conhecido como “janela imunológica”. Entretanto, resultados melhores foram obtidos a partir do décimo dia com a utilização de produtos registrados pela Anvisa,

O virologista e biólogo Flávio Guimarães da Fonseca, do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é a favor da medida, mas ressalta que é preciso ter noção sobre a limitação do teste rápido.

“A gente precisa de alguma alternativa para testar as pessoas que não estão com sintomas e não chegam a ir aos hospitais, porque elas dificilmente vão ter a oportunidade de fazer o teste molecular”, pondera.

Falhas nos resultados

“O teste rápido dá muitos resultados falsos negativos, então não pode ser usado como diagnóstico definitivo. Deve haver sempre uma consideração técnica e profissional”, enfatiza o virologista.

A pesquisadora do ICB (Instituto de Ciências Biológicas) da USP Natália  Pasternak publicou um artigo na revista do Instituto Questão de Ciência, do qual é presidente, em que cita as limitações desse tipo de teste.

Uma delas é que como ele só mede anticorpos, não funciona no período inicial de infecção e deixa passar pessoas assintomáticas ou com sintomas leves que, mesmo assim, podem transmitir o vírus.

A especialista também aponta a possibilidade de falsos positivos. “A sensibilidade (capacidade do teste de evitar falsos negativos) e a especificidade (capacidade de evitar falsos positivos) desses testes variam muito”, afirma.

Por conta dessa característica, a interpretação dos resultados exige cuidado. “Um resultado negativo pode indicar que a pessoa nunca teve contato com o vírus, ou pode ser erro do teste (falso negativo)”, explica.

“Um resultado positivo para IgM pode acontecer quando a pessoa ainda está com o vírus, ou algumas semanas depois do fim da doença. Um resultado positivo para IgG sugere que a pessoa teve o vírus e se recuperou, mas não garante imunidade”, completa.

IgM e IgG são os dois tipos de anticorpos identificados pelo teste rápido. O IgM é o primeiro a ser produzido tende a desaparecer, indica que o paciente está infectado ou teve uma infecção recente. Já o IgG demora para ser fabricado, porém é mais abundante e permanece no sangue, como uma memória de defesa que dura a vida toda.

Testes devem ser regularizados

Na opinião de Guimarães, o exame não deve ser feito sem que exista a indicação médica. A Anvisa não exige a a apresentação de pedido médico para a realização do teste, no entanto, ressalta que o ato não deve ser aleatório.

“Reforçamos que o farmacêutico deve estabelecer procedimento escrito para o atendimento, incluindo a árvore decisória para a utilização do teste”, afirma a instituição em nota. “O usuário que procurar a farmácia deve ser orientado quanto ao correto momento de realizar o teste rápido”.

O órgão ainda estabelece diversos critérios para que as farmácias possam aplicá-los. Entre eles está a utilização de dispositivos regularizados, que podem ser consultados aqui, e a garantia do registro e da rastreabilidade dos resultados obtidos.

O presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), Marcos Machado, afirma que a permissão da Anvisa é importante para garantir o acesso à testagem para a população em geral, mas enfatiza que é imprescindível capacitar todos os farmacêuticos para aplicar corretamente o teste.

“Nós fizemos um manual de orientação geral em que consta todas as normas da Anvisa e quais as exigências sobre a estrutura da farmácia, Ele será enviado por e-mail para todos os farmacêuticos”, afirma.

A instituição também vai produzir vídeos com cerca de 20 minutos com o intuito de ajudar na capacitação e esclarecer possíveis dúvidas desses profissionais. O conteúdo deve ser divulgado a partir desta quarta-feira (06).

Machado acrescenta que é responsabilidade do farmacêutico verificar se o kit de teste rápido está registrado na Anvisa, informar a quem deseja se submeter ao exame como ele funciona e também verificar os sintomas da pessoa para analisar se a aplicação do teste é realmente necessária.

Fonte: noticias.r7.com



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