Os irmãos Joca e Gil, personagens que vivem na Vila de Bacuriteua, em Marapanim, nordeste paraense, são trabalhadores da casa de farinha da cidade e do mangue da comunidade. Joca, interpretada por Dalila Costa, e Gil, interpretado por Matheus Amorim, trabalham para a família dos Amados, que são os colonizadores e personificam a opressão local, personagens com os quais se desencadeiam uma série de acontecimentos que despontarão no clímax do espetáculo “Bacuriteua”, que será apresentado neste sábado e domingo, 15 e 16, em ambiente virtual.
“Os disparadores do espetáculo, por assim dizer, são as leituras de alguns dramaturgos amazônidas. A gente se baseou nos contos de Inglês de Sousa – especificamente, em um conto chamado ‘A Feiticeira’ – e em uma dramaturgia do Paes Loureiro, chamada ‘A Ilha da Ira’”, explica Bolyvar Melo, diretor de “Bacuriteua”. Tendo como protagonistas um homem gay e uma mulher negra, o espetáculo visa denunciar o discurso de desumanização reproduzido por uma sociedade patriarcal e propõe um diálogo poético-político entre as opressões vivenciadas por essa comunidade e, desta forma, compreender a dimensão desse território onde cultura, sexualidade, religiosidade são discutidos através de narrativas que se entrecruzam no enredo da obra.
“A partir desses contos escolhidos, nós observamos que existe uma demonização das figuras místicas femininas. A gente constrói a narrativa de um vilarejo em que as mulheres são oprimidas por uma família colonizadora, e tem essa relação de descrença com a crença dessas mulheres”, conta Bolyvar. A trama, produzida de maneira coletiva, trata ainda sobre como o papel da mulher foi vilanizado ao longo da história da humanidade, como é possível observar desde a lenda da Medusa – uma vítima de abuso por parte de um deus que foi transformada em um monstro – até Eva, que foi responsabilizada pelo pecado original.
“No espetáculo, há uma entidade chamada Divina, que é uma mulher, que a gente associa ela com a mãe natureza”, conta o diretor, que escolheu como cenário a vila onde passou sua infância, um lugar permeado pela mística amazônica na memória do menino. Bolyvar Melo ressalta que a linguagem cênica do espetáculo desenvolve uma crítica aos estigmas estabelecidos pela sociedade, com enfoque na demonização de práticas ancestrais, que também passam por questões de religião e sexualidade.
“Bacuriteua” é um projeto teatral contemplado com a Lei Aldir Blanc através do Edital de Teatro promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult). Mesclando técnicas teatrais e de audiovisual, a produção foi gravada na Vila de Camutá, em Bragança, também no nordeste do Estado. Assucena Pereira, Enoque Paulino, Jam Bil, Lucas de Castro e Nilze Carvalho compõem o elenco, que conta com apoio da Correnteza Produções, Casa Tajá e Espaço São Folhas.
SERVIÇO:
Dias: 15 e 16 de maio de 2021
Horário: 20h
Local: aplicativo de vídeo chamadas Zoom.
Reservas pelos perfis de Instagram @saofolhas e @bacuriteua_
Fonte: oliberal.com.br
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