“Quando nasce uma criança o mundo inteiro sorri porque brilha a esperança de algo bom que está por vir”. Esta é uma paráfrase de um trecho da música de Ana Paula Valadão, sobre o sentimento de todos que acompanham e esperam pelo nascimento de um novo ser. Imagina quando são três em uma mesma gestação.
Grávida pela primeira vez, Gleiciane Silva dos Santos, de 21 anos, moradora da Vila Casarão, zona rural de Itupiranga, nem imaginava o susto – e os presentes – que Deus estava enviando pra ela.
Assim que descobriu a gravidez, iniciou os exames do pré-natal – que detecta doenças e faz o acompanhamento gestacional do desenvolvimento do bebê – Gleiciane soube que seria mãe de gêmeos. “Eu fiquei triste pelo fato de não termos muitas condições. Com cinco meses, em um novo exame de ultrassom, descobrimos o terceiro bebê. Não fiquei tão surpresa como quando achava que eram dois. Eu já havia me acostumado com a ideia”.
A Reportagem acompanhou com exclusividade os momentos que antecederam o parto trigemelar, que aconteceu no início da tarde quarta-feira (13) no Hospital Materno Infantil de Marabá.
Dona de casa desde que casou, Gleiciane se responsabilizou pelos afazeres do lar, enquanto o marido trabalhava em serviços de diária. Sem emprego fixo, Elton Neves do Nascimento, 34 anos, consegue tirar sua renda dos trabalhos que faz como ajudante em pequenas obras, na roça e em qualquer outro trabalho para o qual é chamado.
Elton já é pai de um garoto de 11 anos de um relacionamento anterior, e há seis anos divide a vida e os cômodos de uma casa simples com Gleiciane. “Moramos só nós dois, agora vamos ter a companhia de mais três integrantes”, conta o papai, muito nervoso.
Gleiciane afirma que o esposo foi o que mais se assustou com a notícia da gravidez. “Ele ficou feliz, mas quase teve um infarto. Ter três filhos de uma vez não é fácil, ainda mais pra gente, que não tem condições”, diz ela, sobre a situação financeira.
Gravidez
Com muitos enjoos, a gestação foi sofrida até o segundo trimestre. “No começo, eu não conseguia comer nada. Acabei emagrecendo muito. Os médicos me passavam remédios e vitaminas para tomar, porque eu estava perdendo muito peso”, relembra.
Os vômitos e enjoos só foram cessar no início do quinto mês de gestação. Já o medo de ter nos braços três bebês de uma só vez, foram consolados com a ajuda de muitas pessoas, até de quem não os conhecia. “Muita gente se comoveu com a nossa história e nos ajudou. Já conseguimos ganhar algumas coisinhas e sempre que alguém pode, contribui. Nós não temos condições e tudo o que as meninas têm, foi que ganhamos”.
Maria Vitória, Maria Cecília e Maria Clara
“A família está toda feliz esperando as três Marias”, conta sorrindo a mamãe de primeira viagem das trigêmeas idênticas, ou seja, elas dividiram a mesma placenta.
Os nomes foram uma homenagem às avós maternas e paternas. Gleiciane explica que essa foi a forma que encontrou para mostrar os bons sentimentos que tem pela mãe e pela sogra.
Questionada sobre os cuidados com as filhas, ela conta que nasceu e cresceu na zona rural, e por morar perto dos familiares, muita gente já se dispôs a ajudar com as meninas. “Todo mundo já se prontificou a ajudar nos cuidados com as trigêmeas. Tem tanta gente que está difícil até escolher. Mas quero ver na hora que elas estiverem chorando se vai aparecer alguém ou vai sair todo mundo correndo”, fala, sorrindo.
Acompanhamento
Após descobrir a gravidez trigemelar, Gleiciane começou a fazer seu acompanhamento no HMI. Aos cuidados da obstetra Polyana Siqueira, há mais ou menos dois meses, a tri-mãe veio para Marabá para que pudesse estar mais próxima do centro médico, já que sua gravidez era de risco.
“Não tenho nenhum problema de saúde, mas os cuidados foram redobrados e como são três bebês, era melhor eu estar logo aqui em Marabá”, afirma.
Gleiciane estava internada desde o último sábado (9) no HMI. Como havia ameaça de parto prematuro – que é normal em uma gestação trigemelar – foi indicado que ela fosse acompanhada de perto, dentro do hospital.
A obstetra Polyana Siqueira, que acompanhou a gestação e realizou o parto das trigêmeas, explica que Gleiciane, que estava com 31 semanas – já começava a apresentar dilatação de dois centímetros e vinha tendo contrações. “Fizemos aplicação de corticoide para maturar o pulmão das meninas e programamos o parto para esta quarta (13), porque corria o risco de ela entrar em trabalho de parto a qualquer momento”.
Especialista em ginecologia e obstetrícia há três anos, pelo Hospital Materno Infantil de Goiânia, Polyana não tem nem ideia de quantos procedimentos já realizou durante todo esse período. “Foram muitos. No início eu até contava, depois me perdi”, conta, sorrindo.
A profissional trabalha no HMI desde o começo do ano de 2020. Foi bem no início da pandemia do coronavírus que ela iniciou sua trajetória em Marabá. “No Materno, realizamos uma média de 15 a 20 partos por dia. É um número bem elevado. Mas a gente sempre tenta fazer o melhor, afinal, trabalhamos com vidas”.
Sobre o parto trigemelar, ela assume que foi o primeiro. “Já tinha feito de gêmeos, mas de trigêmeos foi o primeiro. E que bom que deu tudo certo. É muito gratificante trazer ao mundo três bebês de uma vez. Elas foram encaminhadas para a UTI Neonatal, que é um procedimento comum para bebês prematuros. Mas estão bem e a mãe também. Esperamos que elas continuem bem e ganhando peso”, finaliza a médica.
As crianças nasceram com peso médio de 1,3kg e causaram uma verdadeira comoção nos corredores do HMI. A notícia das trigêmeas se espalhou como o choro de um bebê. Assim como a solidariedade de quem queria ajudar a nova família.
Muita gente soube da história do casal, que mora na zona rural, e ajudou com fraldas, roupinhas e alimentos.
O NASCIMENTO DAS TRIGÊMEAS
Não há palavras que possam descrever a emoção de ver três crianças nascendo ao mesmo tempo. É como se os olhos dos que ali acompanham o parto pudessem presenciar um milagre de Deus bem na sua frente.
A equipe médica, enfermeiros, técnicos, anestesista, pediatra… todos preparados para recebê-las com amor e cuidado que elas precisavam.
Os olhares atentos e curiosos estavam voltados para uma das salas do Centro Obstetrício do HMI. Todo mundo queria ver o nascimento das Marias.
Chegou a hora. As médicas Polyana e Luma estavam a postos. A cesárea começou. Maria Vitória foi a primeira. O choro foi o sinal que estava indo tudo perfeitamente bem. Como tinha de ser. Minutos depois, quase que ao mesmo tempo, vieram Maria Cecília e Maria Clara. Pronto. As trigêmeas nasceram lindas e saudáveis. Prematuras. Mas saudáveis.
Depois de um cheirinho da mamãe, as meninas foram encaminhadas diretamente para a UTI Neonatal, espaço reservado para bebês prematuros.
Durante todo o parto (antes e depois) lá estava ele, o pai. Nesse momento, os olhos sempre estão voltados para a mãe e os bebês. Ele também estava de olho nas filhas, mas as mãos não soltaram da mãe um só minuto.
Atento aos movimentos, a figura paterna se fez presente naqueles minutos – quase – intermináveis. Ele parecia suar frio de tão nervoso. Falou que não. Mas a voz estava embargada e saía trêmula.
Enfim, as Marias nasceram. Mãe passa bem. E as trigêmeas seguem com cuidados especiais, para logo, logo, se aconchegarem nos braços de Gleiciane e Elton.
Esse foi mais um dia daqueles inesquecíveis. Foi a forma mais humana e terna que Deus, em sua infinita generosidade, se mostrou presente dando a oportunidade de uma nova família nascer.
Hospital Materno Infantil
No primeiro semestre de 2019 foram realizados 1.362 partos normais e 1.177 cesarianas, totalizando de janeiro a junho, 2.539 partos.
Em 2020, tivemos o início da pandemia do coronavírus, e de acordo com os dados repassados pelo HMI, no primeiro semestre de 2020, 2.675 partos foram feitos na casa de saúde, sendo 1.450 normais e 1.225 cesarianas.
Já neste ano, os números continuam seguindo a média. No primeiro semestre de 2021 foram relatados 1.324 partos normais e 1.090 cesarianas, totalizando 2.414.
Sobre os partos de trigêmeos, a coordenação do HMI informou que somente três partos desta magnitude aconteceram desde que o hospital inaugurou. Um em meados de 2010, o segundo em 2020 e o terceiro e último nesta quarta-feira (13).
COMO AJUDAR?
Como o casal mora na zona rural e não tem nenhum contato telefônico, quem quiser ajudar as Três Marias de Gleiciane e Elton com fraldas ou outros itens necessários, pode procurar a Redação do Jornal Correio ou a recepção do HMI, onde as bebês estão internadas pelos próximos cinco dias.