Durante semanas, Vladimir Putin, presidente da Rússia, negou que estaria planejando invadir a Ucrânia, e alegou que a movimentação das suas tropas perto da fronteira se tratava de exercício militar. Ele também não escondeu a convicção de que a Otan e a União Europeia estavam cada vez mais próximas dos ucranianos — o que diretamente, para ele, é um risco ao governo russo.
Agora, enquanto a Rússia invade a Ucrânia, países do Ocidente se unem para aplicar sanções econômicas que possam frear os avanços de Putin e enviam armas para apoiar o Exército ucraniano. Na mesma linha, empresas privadas também impõem restrições ou encerram as prestações de serviços na Rússia.
Tanto Tanguy Baghdadi, especialista em relações internacionais, quanto Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM, concordam que Vladimir Putin está isolado internacionalmente. Quanto ao apoio da população russa, ainda é difícil avaliar. Não restam dúvidas de que ele é um líder de grande poder, mas, como o presidente controla a imprensa e as opiniões que circulam no país, pouco se sabe sobre a avaliação dos russos em relação à invasão na Ucrânia.
“Há uma sinalização de que ele não tenha um apoio interno, mas com certeza ele teve apoio dos grandes milionários. Agora, com as sanções, isso pode estar sendo perdido porque o impacto para a pessoa física tem sido muito alto”, opina Denilde.
Ela também observa que não existe um aliado direto na guerra, nem mesmo a China. “É um conflito que é liderado e está sendo feito pelas forças russas. Para a leitura do Putin pode significar que ele tenha essa alienação, mas também não tem uma oposição direta da China contra ele”.
Na avaliação de Baghdadi, Putin não está isolado internamente. “Ele continua tendo um apoio bastante grande doméstico. Muitos continuam considerando que a culpa da guerra é da Ucrânia, dos Estados Unidos e da Otan. É importante contar que ele é sim um político popular dentro da Rússia”. Apesar disso, o especialista acredita que isso possa mudar com o decorrer da guerra.
Qual o posicionamento da China em relação ao conflito?
A China manteve sua imparcialidade durante a votação na ONU (leia mais abaixo). O que não significa que o país não esteja, também, defendendo seus próprios interesses. Os chineses são, inclusive, uma das apostas de especialistas como possíveis mediadores diplomáticos para lidar com o conflito.
Mas, afinal, quais seriam os interesses da China? Estabilidade. Tanguy Baghdadi comenta que, do ponto de vista chinês, “o respeito à soberania tem que existir porque senão há instabilidade, e instabilidade é ruim para todo mundo”. Com a premissa de que “é preciso crescer economicamente”, o país mira em manter suas parcerias internacionais e encontrar formas negociáveis para o fim da guerra.
“A China teria muito interesse em participar de alguma forma. Talvez não diretamente, mas agindo nos bastidores, demonstrando que é uma grande potência ponto de vista econômico e político, e apoia uma solução de paz”, aposta Tanguy.
Efeitos das sanções na estratégia russa
Inicialmente, estudiosos que acompanham política e economia internacional entenderam que as sanções econômicas já conhecidas, aplicadas em países como Cuba, Venezuela ou Síria, não eram eficazes para frear os avanços de Putin na Ucrânia.
À medida que mais restrições e bloqueios foram sendo feitos, a opinião de alguns analistas mudou. Baghdadi caracteriza as novas sanções como “nucleares”. “São sanções muito pesadas, muito fortes. Por exemplo, que impedem a Rússia de ter acesso a uma parte das reservas internacionais do país. Países ocidentais também tiraram a Rússia do sistema Swift. Essas são sanções impedem a Rússia de manter o valor da sua moeda”.
O ponto crucial para Baghdadi e para Denilde é que o impacto dessas novas sanções é imediato e causa, a curto prazo, um isolamento e um sufocamento econômico. Elas também atingem civis e elites locais, que podem ajudar a pressionar o presidente russo a cessar-fogo.
“Elas [sanções] sinalizam que as formas de atuação dos países da Europa vão ser de não entrar em uma confrontação direta, mas pressionar por vias econômicas”, diz Denilde.
Há também o posicionamento de empresas privadas que se colocaram contrárias à guerra. Tanguy Baghdadi destaca a decisão das empresas de serviços financeiros Visa e Mastercard em encerrar operações na Rússia. Assim como a Boeing e a Airbus, que pararam de prestar assistência para Moscou. “Com o espaço aéreo europeu fechado, nem mesmo as aeronaves russas, para voos comerciais, conseguem ir para a Europa”, ressalta Baghdadi.
Votação na Assembleia Geral da ONU
Na quarta-feira (2), foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) uma resolução contra a invasão russa na Ucrânia. Foram 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções. Sendo os países que votaram contra Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Rússia e Síria.
O destaque da votação, no entanto, não são os votos que foram contrários a resolução, já que, como descreveu Denilde, “são países liderados por ditadores, com histórico de estarem em situações de crise e conflito. Reflete em uma questão mais simbólica do que efetiva.”
A atenção fica em cima das abstenções da índia e da China, que mantêm a imparcialidade. A China, como explicam os especialistas, costuma se abster nessas votações, o que não traz surpresas. E os indianos, ao mesmo tempo que têm relações comerciais de produtos militares com a Rússia, sustentam bons laços com países ocidentais. A análise, então, é que os dois países demonstram que é preciso encontrar outros caminhos, diplomáticos, para encerrar o conflito.
Lembrando que a Venezuela, aliada da Rússia, perdeu o direito ao voto na Assembleia Geral por falta de pagamento de sua adesão à ONU. Segundo o jornal venezuelano “El Universal”, a divida é de cerca de 40 milhões de dólares.
Fonte: g1.globo.com
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