A diretora a qual a cabeleireira se refere é Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, uma das responsáveis pela Colmeia Mágica. A mulher também é apontada por outras mães ouvidas pelo g1 como a responsável direta pelos maus-tratos às crianças da escolinha.
A mãe de uma menina de 1 ano e 4 meses, que ficava na escola infantil, contou que “algumas professoras informaram que as crianças passavam o dia todo de castigo na sala dela [da diretora]” e que “as crianças que estavam fazendo desfralde ficavam trancadas no banheiro por horas”.
Outra mãe contou que o filho de 2 anos voltava chorando para casa depois de ficar na escola. “As professoras falaram que não sabiam o que acontecia lá dentro, mas ouviam os gritos dele chorando muito e ela [diretora] gritando mandando ele calar a boca.“
Ela disse ainda que ouviu de uma professora que “a diretora jogou um copo de água gelada na cara dele [do seu filho] e mandou ele acordar para a vida.”
A Colmeia Mágica atende crianças com menos de 1 ano de vida até completar 6 anos de idade, que correspondem ao berçário e ao Jardim 2. Além desses casos, a escola já havia sido investigada há cerca de dois anos pela polícia por suspeita de maus-tratos contra um aluno. O caso teria sido registrado no 41º DP, Vila Rica.
Na semana passada a Justiça autorizou a polícia a cumprir um mandado de busca e apreensão na escolinha. Policiais recolheram sete lençóis e três celulares. Os aparelhos são de Roberta, da filha dela e da irmã da diretora. Os objetos serão periciados.
Peritos querem saber se os panos são os mesmos que aparecem nos vídeos que, de acordo com a polícia, foram gravados dentro da Colmeia Mágica e mostram as crianças amarradas. Alguns pais ouvidos pela investigação identificaram seus filhos nos vídeos e disseram que eles e as crianças estão traumatizados.
A denúncia chegou há pelo menos duas semanas ao Cerco-8 por meio dos vídeos que circulam na internet. A polícia ainda tenta identificar quem fez as filmagens. Até o momento ninguém foi responsabilizado pelos crimes.
Diretora da escolinha
O g1 não conseguiu localizar a Roberta, uma das donas da escola, para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem. Nesta segunda-feira (14), os portões da Colmeia Mágica estavam cobertos com tinta escura. Antes haviam sido pichados com mensagens como “crime”, “neonasistas [sic]”, “desumano”, “mals-tratos [sic]”, “Justiça”, “lixo”, “demônio”, “Deus ta vendo [sic]”.
A mulher, alguns professores e funcionários da Colmeia Mágica já prestaram depoimentos na polícia. A escola teria suspendido as aulas nesta semana em razão disso.
O que diz a Secretaria da Segurança
Até a última atualização desta reportagem a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não havia respondido qual foi a causa da morte de Heloísa e qual foi a conclusão da investigação.
Por meio de nota, a pasta da Segurança comunicou que a “Polícia Civil informa que os fatos citados são alvo de investigação pela instituição. Diligências e oitivas estão em andamento. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial.”
O advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, também assistiu às imagens gravadas na escola e comentou o caso.
“A Polícia Civil precisa instaurar inquérito para apurar a ocorrência do crime de maus tratos, previsto no Código Penal, e de submeter crianças a vexame e constrangimento, previsto no ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse Ariel ao g1.