“A gente estava tudo no quarto. Ele pegou a arma e mirou no rosto da minha amiga”, disse. “A gente não estava bebendo com ele desde cedo, nada. Só eles estavam. E a gente não ficou rodando com eles em bares a cidade inteira. E eles sabiam que éramos de menor”, conta a garota em vídeo.
Gabriel está preso pelo disparo. O outro militar, suspeito de ser o dono da arma, fugiu e é procurado pela polícia. Em nota, a polícia informou que “por envolver menores de idade, a investigação corre sob sigilo”
O que diz a defesa do militar
As informações da jovem de 14 anos divergem do que diz o advogado do militar preso. Segundo o advogado Delduque Thiago, o marinheiro não sabia que as adolescentes eram menores de idade e o disparo da arma teria sido acidental.
“Quando estava no motel, com essas jovens, ocorreu um disparo acidental de arma de fogo. Uma arma que não era do Gabriel. Ao que parece, ele foi manusear alguma outra coisa, em cima de um balcão, e acabou esbarrando na arma, que disparou. O serviço militar do Gabriel não é armado e ele não possui porte de arma. Pelo que eu percebi, essa arma era do outro militar”, afirma o advogado.
De acordo com a jovem, ela foi até a casa da avó da amiga para buscar uma cola. Lá, elas encontraram Gabriel.
“Ele, o Gabriel, falou ‘vocês querem beber?’ Ele já estava bebendo desde cedo. Eu falei não. Ele falou ‘vocês bebem?’. Eu disse que sim, mas que não estava afim de beber agora. Ai ele falou ‘qual a idade de vocês?’. Eu falei que tinha 14 (anos) e que a minha amiga tinha 15 (anos). Ela estava comprando pipoca nessa hora”, relata a garota.
Ainda segundo a adolescente, neste momento o marinheiro pediu o número de telefone dela, mas como ela estava sem celular, ele pegou o contato da amiga, de 15 anos. Ele mandou uma mensagem fazendo um convite para um lanche, e elas aceitaram.
“Quando deu umas seis e meia [da tarde], ele mandou uma mensagem falando: ‘já?’. Aí ficamos esperando ele lá na frente[do local]. Veio só ele. A minha amiga falou ‘só vai tu?’. Ele falou ‘ai, é para buscar o meu amigo?’. Foi aí que ele voltou, pegou o amigo e voltou de novo”, disse a adolescente.
Ainda segundo a garota, os dois militares e elas foram, então, até a praça. A adolescente relata que os militares ofereceram bebida alcoólica a elas, que não aceitaram. Momentos depois, veio o convite para irem ao motel.
“Aí chegou o Gabriel e falou ‘por que não vamos para um lugar mais reservado, que fique só a gente? Aqui tem gente, só a gente ficaria melhor?’. O outro disse ‘pior mesmo! Eu sei que tem um local, que é um motel, que é do lado do cemitério’. Aí ele falou ‘Vamos pra lá?’. A gente falou ‘não, vamos ficar por aqui mesmo, bora outro dia’. Ele falou ‘bora’, ficou insistindo. Aí eu e ela falamos ‘tá, então vamos’”.
Já no motel, a garota contou que abria um refrigerante quando Gabriel apontou uma arma em sua direção.
“Falei ‘ei, tu tá doido?’. Eu virei a mão dele. Ele falou ‘ah, tu tem medo, é? Tá com medo por quê? Não é preciso ter medo não’. Eu falei ‘não, eu não gosto desse tipo de brincadeira’. Ele falou ‘tá bom, de boa’”. Em seguida, Gabriel apontou a arma para a outra adolescente, de 15 anos.
“Foi aí que eu só vi ele mirando no rosto da minha amiga. Aí eu bebi o refrigerante. Eu não vi, eu só ouvi o disparo. Botei a mão na minha cabeça, fechei o olho e baixei a minha cabeça. Pensei que tivesse pegado na parede. Quando eu vi a minha amiga no chão, comecei a ficar desesperada”.
O crime foi na noite do feriado de Tiradentes, na quinta-feira (21). A adolescente de 15 anos foi baleada dentro da boca, em um quarto de motel, onde estavam também uma colega de 14 anos e dois militares da Marinha.
A Polícia Civil confirmou que o autor do disparo é Gabriel Norberto de Almeida Lobo. Ele foi autuado em flagrante e permanece preso em Unidade Militar à disposição da Justiça, até pagamento de fiança. Ele estava a serviço da Marinha na cidade de Vigia. O outro militar, que não teve o nome divulgado, fugiu e é procurado pela polícia.
Ferida, a adolescente foi internada no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência em Ananindeua, na região metropolitana de Belém. Ela passou por três cirurgias, até então, com estado de saúde considerado grave.
O que diz a Prefeitura e a Marinha
Em nota, a Prefeitura de Vigia informou que está em contato com a família das adolescentes para proporcionar atendimento psicossocial para a vítima e familiares.
A Marinha do Brasil disse que tomou conhecimento de disparo de arma de fogo, sem citar o envolvimento de adolescentes no caso. Segundo a corporação, o militar, que realizou o disparo, deve responder pelos atos perante a Justiça.
A Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela delegacia do município de Vigia.
“Por envolver menores de idade, a investigação corre sob sigilo. Diligências são feitas para apurar as circunstâncias do fato e ouvir os envolvidos para o pleno esclarecimento do caso. A Polícia Civil ressalta ainda que o inquérito será remetido à Justiça dentro do prazo legal”.