Analistas econômicos viram isso não apenas como um sinal sombrio do estado em que se encontra o mercado imobiliário da China, mas também como um grande alerta sobre o futuro da segunda maior economia do mundo.
É que o setor imobiliário do país apresentou sérios problemas com a queda dos preços da habitação, a diminuição da demanda de compradores e uma crise de inadimplência que afetou alguns grandes empreendedores imobiliários desde 2020.
A situação chegou a tal ponto que até alguns bancos ficaram sem dinheiro, o que causou protestos em algumas cidades do país asiático.
E enquanto Yang continua sendo a mulher mais rica da Ásia, sua posição começou a balançar.
De acordo com a Bloomberg, ela é seguida pela empresária de fibra química Fan Hongwei, que também possui ativos avaliados em cerca de US$ 16 bilhões.
Mas quem é Yang Huiyan e como ela conseguiu uma das maiores fortunas do mundo?
Nascida em 1981 em Shuntak, distrito da cidade de Foshan, na província de Cantão, no sul da China, Yang é filha de um dos homens mais ricos do país asiático: Yang Guoqiang.
Criada em uma das famílias mais poderosas da China, ela teve uma excelente educação e foi enviada para os Estados Unidos durante a juventude. Ela se formou em 2003 em Artes e Ciências pela Ohio State University.]
Ao retornar à China, ela herdou de seu pai em 2007 a maioria das ações da Country Garden Holdings, a maior incorporadora imobiliária da China em vendas.
Fundada em 1992 em Cantão, a Country Garden Holdings se tornou um sucesso após seu IPO (sigla para Initial Public Offering, ou oferta pública inicial, o lançamento de acões na bolsa de valores) em Hong Kong e levantou cerca de US$ 1,6 bilhão, aproximadamente o mesmo que o Google após seu IPO nos EUA em 2004.
Embora conhecida por ficar fora dos olhos do público e por levar uma vida discreta, Yang é o centro de inúmeras manchetes dentro e fora da China.
Um dos casos mais notórios ocorreu em 2018, quando o vazamento de documentos legais conhecidos como “Os papéis do Chipre”, mostrou que ela havia obtido a cidadania cipriota em 2018, apesar de a China não reconhecer a dupla nacionalidade.
Estudiosos do mercado chinês descrevem Yang como uma mulher criativa com visão de negócios.
Em junho do ano passado, o International Hospitality Institute a reconheceu em seu ranking das pessoas mais poderosas da indústria hoteleira global.
No entanto, seu negócio já começava a mostrar sinais de fraqueza.
É que a situação do mercado imobiliário no país se complicou desde 2020, não só por causa da pandemia de coronavírus, mas também porque as autoridades chinesas tentaram conter o endividamento excessivo no setor imobiliário. Isso deixou as grandes construtoras expostas a uma batalha para efetuar os pagamentos e as forçou a renegociar com seus credores.
A crise se agravou quando a Evergrande, empresa imobiliária mais endividada da China, deixou de pagar seus títulos em dólar no final de 2021, após meses de problemas de liquidez.
Na esteira disso e até agora neste ano, vários outros grandes incorporadores, incluindo Kaisa e Shimao Group, também buscaram proteção dos credores.
A crise se agravou nas últimas semanas, depois de ter sido noticiada uma “greve de compradores”, depois de milhares de pessoas terem deixado de pagar suas hipotecas devido a atrasos no início das obras de construção das casas. Com a demora da entrega das residências, os incorporadores não começaram a receber os pagamentos das hipotecas no tempo planejado.
Tudo isso levou a Country Garden, que se mantinha bem nos primeiros meses da pandemia, também a enfrentar um problema de liquidez, a ponto de em julho passado ter que vender ações com desconto de quase 13% para captar recursos.
E o cenário de longo prazo não parece positivo para Yang, para a fortuna dela ou para a empresa que representa.
Em um relatório de julho passado, a agência de classificação de risco S&P estimou que as vendas de imóveis na China poderiam cair em um terço este ano devido a greves de hipotecas, movimento coletivo em que compradores resolveram suspender o pagamento de hipotecas de imóveis cuja construção não cumprisse o cronograma de entrega.
Enquanto isso, a Capital Economics, uma empresa independente de pesquisa econômica com sede em Londres, previu que “sem vendas, muitos outros incorporadores entrarão em colapso, o que é uma ameaça financeira e econômica” para a China.