Publicado na revista científica “Science”, um estudo comparou a eficiência de 14 tipos de máscaras. Em primeiro lugar, a PFF2 (ou N95). A máscara cirúrgica de três camadas ficou com o segundo lugar.
“A PFF2 tem uma capacidade de proteção maior, mas a cirúrgica também é boa e deve ser utilizada. Já a máscara de pano deve ser aposentada. Mesmo quando ela é nova, ela já tem uma capacidade menor de proteção. Conforme você vai lavando, ela vai abrindo poros no tecido e perdendo a capacidade. Ela não é recomendada”, alerta Chebabo.
Outra pesquisa, publicada no European Journal of Medical Research, analisou quatro artigos com um total de 7.688 participantes. Os estudos foram usados para avaliar a associação entre o uso de máscara e a infecção por SARS-CoV-2.
“Todos eles mostraram que o uso de máscara facial estava associado a uma diminuição do risco de infecção por SARS-CoV-2”, disseram os pesquisadores.
Quando falamos em máscaras, temos que lembrar que, além de boa filtragem, a máscara deve estar bem ajustada. Máscaras que deixam pequenos espaços abertos no rosto — acima do nariz ou nas laterais, por exemplo — não estão filtrando todo o ar que você respira.
E mesmo que você esteja totalmente vacinado (com o esquema primário + doses de reforço), as máscaras continuam funcionado.
“As pessoas precisam aprender que a máscara é muito importante para reduzir transmissão. Além disso, se você estiver com sintomas respiratórios e precisar sair de casa, você DEVE usar máscara. Você está protegendo outras pessoas de pegarem qualquer que seja a virose respiratória”, completa Chebabo.
Em entrevista ao g1 em janeiro, Chebabo disse que o mundo transformou a história natural da Covid-19 com a vacina.
“Transformamos uma doença que era altamente letal para uma doença cujo risco de morte é muito mais baixo em pessoas que se vacinaram corretamente”.
Essa mudança no curso da Covid-19 pode ser confirmada através de diversos artigos, estudos e pesquisas publicados durante a pandemia.
Um deles, publicado na revista The Lancet, estimou que as vacinas contra Covid-19 evitaram cerca de 20 milhões de morte em um ano de pandemia (entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021). O levantamento apontou que 79% das mortes (cerca de 15,5 milhões) foram evitadas por proteção direta da vacina. As outras 4,3 milhões de mortes foram evitadas pela proteção indireta — pela transmissão reduzida do vírus na população e a redução da carga sobre sistemas de saúde.
Segundo a OMS, todas as vacinas aprovadas pela organização fornecem proteção contra casos graves, hospitalização e morte. Além disso, há também “evidências de que ser vacinado tornará menos provável que você transmita o vírus a outras pessoas, o que significa que sua decisão de tomar a vacina também protege as pessoas ao seu redor”.
Chebabo dá o exemplo da nova onda que atingiu primeiro a Europa para mostrar que as vacinas protegem. “A onda de Covid começou antes lá e eles estão voltando para o estágio pré-onda. Apesar de o número de casos ter sido alto, quase não vimos impacto em mortalidade e casos graves. A vacina foi suficiente para proteger e evitar um desfecho mais complicado”.
Um estudo publicado em 2021 confirma o que diz a OMS e o presidente da SBI. Segundo os pesquisadores, os vacinados contra a Covid-19 têm nove vezes menos riscos de serem hospitalizados ou de morrer do que os não vacinados. Os autores analisaram dados de 22 milhões de pessoas com mais de 50 anos.
E se engana quem pensa que a imunização “natural”, ou seja, após pegar a Covid, é melhor do que a oferecida pela vacina. Uma pesquisa feita em Israel mostrou que as vacinas são mais seguras do que pegar Covid.
Publicada no periódico científico New England Journal of Medicine, a pesquisa revelou que o risco de inflamação no coração, inchaço nos gânglios linfáticos e/ou herpes zoster, tidos como efeitos adversos da vacina, são maiores em caso de infecção por Covid-19.
A infecção por coronavírus também está relacionado ao agravamento de doenças para as quais a vacinação não causou qualquer dano, como arritmia, lesão renal aguda, embolia pulmonar, trombose e infarto.
A transmissão é pelo ar: ✔️
A Organização Mundial da Saúde (OMS) demorou, na visão de diversos especialistas, para cravar que a transmissão pelo ar é a rota mais provável do vírus. Em julho de 2020, mais de 200 cientistas publicaram uma declaração no “Clinical Infectious Diseases”, da Universidade Oxford, pedindo aos organismos internacionais que reconhecessem o potencial de disseminação aérea da Covid-19.
Na época, a recomendação dos órgãos internacionais e da OMS se concentrava na lavagem das mãos e distanciamento social. “Eles são adequados, mas insuficientes para fornecer proteção contra microgotículas respiratórias transportadores de vírus. Este problema é especialmente agudo em ambientes internos e fechados”, disseram os cientistas.
Após a cobrança dos cientistas, a OMS reconheceu o surgimento de evidências sobre a transmissão de Covid pelo ar. “Temos conversado sobre a possibilidade de transmissão pelo ar e transmissão por aerossol como uma das modalidades de transmissão da Covid-19”, disse Maria Van Kerkhove.
Em 2021, pesquisadores voltaram a alertar que o combate ao coronavírus deveria ter foco em evitar a transmissão pelo ar, ventilando ambientes. O artigo foi publicado na revista científica British Medical Journal. Entre as quatro formas apontadas para evitar a transmissão estavam: manter o distanciamento, ventilar o ambiente, usar boas máscaras e ajustar bem a máscara.
Menos limpeza de compras (❌) , mais ambientes ventilados (✔️)
A certeza do contágio pelo ar leva a outra conclusão: ventilar ambientes é mais importante do que limpar compras. Não que limpar compras seja um hábito ruim, mas não é essa atitude que vai impedir a transmissão de Covid.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência de saúde pública dos Estados Unidos, disse em 2021 que a chance de o contato de uma pessoa com uma superfície contaminada pelo coronavírus resultar em infecção é menor que 1 em 10 mil. Ou seja: o risco é baixo.
“A transmissão por material é muito pouco comum e pouco importante diante da transmissão aérea. É claro que sempre existe o risco, mas ele é muito, muito, muito baixo e não justifica o excesso de preocupação que se teve no início da pandemia“, diz o presidente da SBI.
Para especialistas, a desinfecção de superfícies trouxe uma falsa sensação de conforto e segurança. No entanto, o foco deveria ter sido o outro desde que o contágio pelo ar foi comprovado.
Ainda em 2020, um estudo publicado por cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, mostrou que restaurantes, academias, cafés e bares eram os locais com maior risco de contaminação pelo vírus.
Cloroquina e ivermectina não funcionam contra Covid: ❌
Nos primeiros meses da pandemia havia a hipótese — investigada em estudos clínicos — de que a cloroquina ou a hidroxicloroquina poderiam ser eficazes no tratamento da Covid, principalmente se utilizados junto com a azitromicina, um antibiótico.
Com o avanço das pesquisas, ainda em maio de 2020 já havia posicionamento da OMS alertando contra o uso dos medicamentos na pandemia. A FDA (Food and Drug Administration, espécie de Anvisa americana) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) logo na sequência desaconselharam o uso.
Em julho de 2020, uma pesquisa feita nos Estados Unidos reforçou o achado de que a hidroxicloroquina não funcionava em casos leves de Covid. No mesmo mês, um ensaio coordenado pela Universidade de Oxford associou a hidroxicloroquina ao agravamento de casos de Covid-19 e mortes.
No dia 10 de julho, a OMS reafirmou que não conseguiu “demonstrar um benefício claro’ do uso da cloroquina; ainda no mesmo mês, no dia 22, dois novos estudos publicados na ‘Nature’ mostraram que a cloroquina e hidroxicloroquina eram ineficazes para Covid.
Sobre a ivermectina, que também fez parte do chamado ‘kit Covid’, um estudo feito no Brasil e publicado no New England Journal of Medicine constatou que o fármaco utilizado para doenças parasitárias NÃO reduziu o risco de hospitalização por Covid. Os pesquisadores analisaram 1.358 pacientes com risco de doença grave em Minas Gerais.
“As evidências que apoiam o papel da ivermectina no tratamento do Covid-19 são inconsistentes”, disseram os autores da publicação.
Em 2021, a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, reforçou que não há dados disponíveis que sustentem a eficácia do medicamento contra a Covid-19. Segundo a empresa:
- Não há base científica para um potencial efeito terapêutico contra Covid-19 em estudos pré-clínicos;
- Não há evidência significativa para atividade clínica em pacientes com a doença;
- E há uma preocupante ausência de dados sobre segurança da substância na maioria dos estudos.
A ineficácia do “kit Covid” já foi comprovada em vários estudos. No entanto, já existem medicamentos que FUNCIONAM no tratamento da doença. É importante destacar que até agora nenhum remédio se mostrou eficaz para prevenir infecção por coronavírus. E vários dos tratamentos disponíveis se referem a medicamentos de uso restrito a hospitais. Também vale lembrar que nenhum medicamento substitui a vacina.
No Brasil, os remédios aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são:
- Remdesivir
- Sotrovimabe
- Baricitinibe
- Evusheld®️ (cilgavimabe + tixagevimabe)
- Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir)
- Molnupiravir
Termômetro e luvas no restaurante: ❌
Durante um período, o termômetro digital com sensor infravermelho (que mede a temperatura ao ser apontado contra a testa) foi usado como medida de prevenção contra Covid em parques, mercados, shoppings, escritórios. O termômetro detectava a temperatura da pessoa e, caso ele acusasse mais de 37,5ºC, a pessoa era impedida de entrar nos locais.
Essa estratégia não funcionou para frear a transmissão e funcionaria menos ainda atualmente. Isso porque a febre não é o principal sintoma de Covid. “Pessoas com Covid não tem febre, principalmente depois dessa variante e depois da vacina. Raramente vemos um paciente com febre. Medir temperatura não serve”, explica o infectologista e presidente da SBI.
E as luvas nos restaurantes por quilo para se servir? Chebabo diz que é inútil.
“Não tem o menor sentido. Não é assim que você vai se contaminar [pegando na colher para se servir, por exemplo]. A luva não vai reduzir em nada o risco de transmissão, porque essa transmissão é rara de ocorrer.
O infectologista lembra que as áreas de alimentação são os locais onde existe o maior risco de transmissão, como apontou o estudo de Stanford citado mais acima. “A pessoa usa máscara o tempo todo, mas na hora de se alimentar, ela se senta com quatro, cinco pessoas, sem máscara, conversando, em ambiente fechado. O risco de transmissão é bem maior nessa situação“.
Antes de se servir no restaurante, Chebabo dá uma dica: lave as mãos ou use álcool em gel.