Imagem de satélite mostra a estrada clandestina de 150 km aberta por garimpeiros ilegais na Terra Yanomami, ao Sul de Roraima. A foto, enviada ao g1 pelo Greenpeace Brasil, foi capturada logo após os indígenas relatarem que os invasores tinham avançado floresta adentro para explorar ouro na região.
A estrada fica a menos de 15 quilômetros de onde vivem os indígenas isolados Moxihatëtëa e abre caminho para que os garimpeiros entrem na reserva indígena com maquinário pesado para exploração de ouro e degradação ambiental, com as quatro retroescavadeiras flagradas em plena atividade – todas foram destruídas pelo Ibama.
Um sobrevoo do Greenpeace, acompanhado pelo Fantástico, constatou a nova rota do crime durante a operação Guardiões do Bioma. Mas, antes, ela já havia sido notada pelos satélites de monitoramento. A captura do sensoriamento remoto mostra todo o traçado da estrada em meio ao verde da floresta, mesmo sendo numa região considerada remota.
A cena nunca antes vista no território Yanomami, para o membro da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, revelou o enorme potencial de destruição ambiental dos invasores.
“Infelizmente o que a gente presenciou na Terra Indígena Yanomami nesse momento é o garimpo indo para um patamar diferenciado. A chegada das escavadeiras hidráulicas dá um poder de destruição muito maior a esses garimpeiros. Nós estamos falando de um legado de destruição enorme que agora chega à Terra Indígena Yanomami”, disse, no dia do sobrevoo.
Desde 2019 indígenas já relatavam que na região existia movimento de garimpeiros que andavam em quadriciclos. No primeiro semestre deste ano, surgiu nas imagens de satélite de um curto traçado do que se tornou a estrada atualmente, com abertura típica de via terrestre.
Agora, indígenas que vivem nas redondezas relatam o medo com a presença tão próxima de garimpeiros. Um relato de indígenas Yanomami do Alto Catrimani I, divulgado pelo Greenpeace, expõe o temor.
“Se demorar, nossas casas vão ser destruídas. As crianças estão com medo e fugindo. Por isso nós, os pais deles, estamos preocupados”.
“Eu não estou enganando. Chegou até nós do Alto Catrimani uma estrada de onde veio a retroescavadeira. Todos nós estamos preocupados porque nós não sabíamos que chegaria aqui três escavadeiras. Os garimpeiros não foram convidados para vir, mas eles estão aqui”, disseram os indígenas por meio de radiofonia, o meio mais comum de comunicação dos indígenas com pessoas que vivem fora da reserva.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares. Geograficamente, é um território de difícil acesso onde vivem quase 30 mil indígenas – ameaçados pela presença de 20 mil garimpeiros que exploram e degradam a floresta em busca de minérios como o ouro e a cassiterita.
A invasão do território Yanomami para exploração ilegal de minérios ocorre desde década de 1970, ainda na ditadura militar. Mas, nos últimos anos, o problema se intensificou.
O avanço foi 3.350% entre os anos de 2016 a 2020, segundo relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado em abril deste ano pela Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização desse povo.
O estudo revelou que ao menos 56% da população Yanomami sofre algum impacto causado pelo garimpo. Além disso, a Polícia Federal revelou que quatro rios da região têm alta contaminação por mercúrio: 8.600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano.
Fonte: g1.globo.com
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