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‘O leite que você bebe é produzido pelo MST’, diz líder do movimento.

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) calcula produzir 7 milhões de litros de leite por dia no país. Em um ano, são cerca de 2,5 bilhões de litros, volume 60% maior do que a Piracanjuba, maior empresa de laticínios do Brasil, compra por ano de produtores da matéria-prima.

O leite do MST

O MST tem duas frentes de trabalho na indústria de laticínios. As cooperativas de trabalhadores assentados da reforma agrária atuam no processamento de leite e derivados, e têm suas marcas próprias. Por exemplo, a Cooperoeste, de São Miguel do Oeste (SC), é dona da Terra Viva, e a Copran, de Arapongas (PR), faz os produtos Campo Vivo. Na outra frente, famílias produzem e vendem o leite para empresas sem ligação com o movimento.

A maior parte da produção do MST vai para terceiros. De acordo com o dirigente nacional do setor de produção do MST, Diego Moreira, 1 milhão de litros é transformado em leites variados, queijos, manteigas e demais laticínios feitos por agroindústrias da organização. Já 6 milhões de litros são entregues puros para a indústria tradicional. Ele diz ainda que esses números podem ser ainda maiores, em razão da subnotificação e da da dificuldade em rastrear dados de pequenos agricultores.

Sul e Sudeste dominam a cadeia produtiva do leite do MST. Os estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará e Santa Catarina lideram a produção, segundo o líder. Moreira afirma que dez mil famílias atuam de forma direta e 40 mil famílias trabalham indiretamente em pequenas propriedades pelo Brasil.

Movimento diz que grandes marcas compram leite de assentados. Segundo o dirigente do MST, é difícil responder quais corporações se beneficiam dessa produção porque não há um mapeamento sistematizado. Ele diz ainda que as cooperativas do movimento estão fora dos rankings nacionais por estarem divididas em vários CNPJs.

O mercado de leite brasileiro é muito espalhado. O diretor técnico da consultoria MilkPoint Ventures, Valter Galan, destaca que há uma dificuldade em acompanhar a indústria porque existem muitos representantes em todo o território. “É um setor em consolidação, mas ainda bastante fragmentado, muito espalhado em todo o país”, afirma.

O leite que você bebe certamente é produzido pelo MST. São 6 milhões de litros por dia que não vão para nenhuma agroindústria nossa. Quem domina esse mercado são as grandes marcas e o nosso leite vai para essas empresas.
Diego Moreira, dirigente do MST

Volume informado pelo MST representa 7% do leite do Brasil.

A Laticínios Bela Vista, dona da Piracanjuba, é a maior marca de laticínios do Brasil. Em 2022, comprou 1,566 bilhão de litros de leite, segundo o ranking da Abraleite (Associação Brasileira dos Produtores de Leite). O volume é cerca de 1 bilhão de litros a menos do que o MST garante produzir por ano.

Procurada pelo UOL e questionada sobre compras de leite produzido pelo MST, a Piracanjuba não respondeu. Entre as dez maiores, apenas Alvoar e CCPR se posicionaram (leia no final da matéria). A Abraleite não respondeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

A produção de leite no Brasil foi estimada em 34,6 bilhões de litros em 2022. O dado é da Pesquisa da Pecuária Municipal, divulgada em setembro pelo IBGE. Ou seja, a produção anual informada pelo MST equivale a cerca de 7% de todo o leite produzido no país.

O pequeno produtor tem perdido espaço na indústria nos últimos anos. A pesquisadora do Cepea/Esalq-USP Natália Grigol destaca que laticínios têm optado por comprar de produtores com maior escala, o que reduz o custo logístico do transporte do leite.

A negociação entre o pequeno produtor e a indústria é desgastada porque é um sintoma de uma produção fragilizada, que carece de políticas públicas.
Natália Grigol, pesquisadora do Cepea.

Leite do MST também abastece programas do governo.

MST diz que poderia aumentar a produtividade de laticínios. O líder de produção diz que o pequeno produtor, sem infraestrutura adequada, tem como alternativa a venda da matéria-prima para empresas, “que impõem uma série de condições para recolher esse leite, inclusive de preço”. Na visão dele, esse cenário impede o agricultor familiar de aumentar e diversificar sua produção, o que causa a perda maior de renda.

Leite do MST abastece programas sociais do governo federal. Moreira diz que 50% da produção própria vão para iniciativas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e os outros 50% são colocados nas prateleiras de supermercados.

O leite bovino domina 90% da produção de leite do MST. Os 10% restantes estão concentrados quase que exclusivamente no leite de cabra, que vem principalmente da Paraíba, e o movimento quer aumentar essa produção e passar a comercializar queijos especiais. Para essa e outras iniciativas, o movimento cobra políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar e redistribuição de terras para famílias sem propriedade rural.

O Estado brasileiro necessita de uma política de reestruturação da cadeia produtiva, que faça desde assistência técnica, recuperação dos solos de pastagem, melhoramento genético, aumento de produtividade e investimento em infraestrutura para melhorar a produção.
Diego Moreira, do MST

O que dizem as gigantes dos laticínios.

A reportagem tentou contato com as dez maiores marcas de laticínios do país. Piracanjuba e Nestlé não quiseram se posicionar. Unium, Embaré, Aurora, CCPR, CCGL, Jussara, Cativa e Frimesa não responderam às tentativas de contato. A Alvoar se limitou a declarar que “não tem parceria e nenhuma relação” com o movimento sem-terra. A CCPR diz trabalhar com assentados, mas que nenhum deles é ligado ao MST.

Atualmente, o Sistema CCPR possui 31 cooperativas espalhadas por Minas Gerais e Goiás. Entre elas, não há nenhuma cooperativa constituída, exclusivamente, por produtores vinculados ao MST. Destacamos, no entanto, que cerca de 16% do quadro social de cooperados da Capul, nossa cooperativa filiada de Unaí, são de assentados. Eles produzem mais de 300 mil litros de leite por mês, o que corresponde a 8% do volume total da cooperativa.

Fonte: www.economia.uol.com.br



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