Das sete mortes em decorrência das chuvas de sexta-feira (3), quatro estão diretamente ligadas a quedas de árvores. Para especialistas, cenário é resultado de série de fatores que vão de falta de planejamento à má manutenção.
Sempre que chove em São Paulo, muitas árvores caem. Desta última vez, com o temporal de sexta-feira (3), o estrago foi ainda maior. Das sete mortes registradas no estado de São Paulo em decorrência da chuva, quatro foram diretamente relacionadas a quedas de árvores. Além disso, o Parque Ibirapuera fechou, e milhares de pessoas ficaram sem luz também por conta de árvores que impactaram a fiação aérea.
De fato, os ventos chegaram a 103,7 km por hora, os mais fortes já registrados pelo Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) desde 1995, quando foi criado, e impactaram as árvores.
Mas, para especialistas, mais do que uma fatalidade, este cenário é um problema histórico, consequência de uma soma de fatores, e que atravessa várias gestões da Prefeitura de São Paulo e de outras prefeituras da região metropolitana. Veja os principais:
Calçadas estreitas para árvores grandes;
Árvores “doentes”, com cupins ou fungos;
Podas mal realizadas;
Falta de acompanhamento da flora da cidade;
Ventos e chuvas fortes.
Segundo a Prefeitura, no último balanço, houve 213 quedas de árvores, sendo 78 na Zona Leste, 16 na Zona Norte, 83 na Zona Sul e 36 na Zona Oeste. Só a concessionária Urbia, que administra o Parque Ibirapuera, contabiliza 128 quedas de árvores.
Para o pesquisador do Laboratório de Árvores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Sergio Brazolin, em entrevista ao g1 em novembro de 2020, o problema começou no início da arborização da cidade, 70, 80 anos atrás, sem planejamento entre o tamanho e espécie da árvore e a calçada que a abrigaria.
“É muito comum andar pela cidade e ver árvores enormes, de 15, 20 metros de altura, com calçadas pequenas. É uma gigante de pé pequeno”, aponta Brazolin. Hoje, os novos plantios seguem as regras estabelecidas pelo Manual Técnico de Arborização Urbana, da Prefeitura de São Paulo, desenvolvido para evitar tais discrepâncias.
O biólogo também lembrou que as árvores são seres vivos. Logo, também ficam doentes: “Cupins, apodrecimento, o que é natural de um ser vivo adulto que está ficando velhinho. Quando acontecem esses problemas na árvore, associado ao peso dela, elas vão se fragilizando na sua base”.
Brazolin aponta que a manutenção, com o olhar periódico de um especialista, é uma das questões principais. “Às vezes ela está bonita por fora mas por dentro está oca. Esse manejo é essencial em qualquer cidade”.
Outro fator apontado são as podas mal feitas, que podem desequilibrar a árvore, deixando um lado muito mais pesado que o outro. Os cortes também devem ser feitos nos galhos menores. Quando feito nos grandes, podem causar o alojamento de cupins ou apodrecimento.
Para o botânico e paisagista Ricardo Cardim, também em entrevista em 2020, a fiação elétrica é uma das grandes vilãs das árvores da cidade. “A fiação elétrica aérea leva a mutilação de grande parte da floresta urbana em São Paulo”, afirma Cardim. O paisagista defende que a fiação deveria ser enterrada. Até hoje, poucos quilômetros, dos mais de 17 mil de cabos que a cidade têm, são enterrados, como a Avenida Paulista e a região do Museu do Ipiranga.
Quando a isso se somam ventos fortes fortes e chuvas intensas, o resultado, segundo ele, pode ser fatal. “Todo verão vemos uma série de problemas com arborização na cidade e tragédias horrorosas como essa por causa de falta de cuidado”, afirma Cardim.
Segundo Cardim, em várias gestões se promete fazer um levantamento detalhado das árvores da cidade, quais, quantas são e onde estão, o que ainda não foi realizado. “O raciocínio é simples, como você vai cuidar de algo que não sabe quantas são e qual o estado?”
Para os especialistas, não é necessário remover as árvores grandes da cidade, essenciais para a qualidade do ar e para a saúde da população. A solução passa também pelo manejo eficiente dessa população arbórea. Uma das técnicas utilizadas é podar a copa de forma que ela deixe o vento fluir e não atue como um “paredão”.
O pedido de solicitação de poda na Prefeitura pode ser feito pelo número 156 ou pelo aplicativo 156 da administração municipal.
O governo de São Paulo confirmou, na manhã deste domingo (5), a sétima morte em decorrência das chuvas fortes que caíram em boa parte do estado na tarde de sexta-feira (3).
De acordo com a gestão estadual, o sétimo caso ocorreu em Ilhabela. Uma embarcação naufragou e um dos tripulantes não resistiu. Outros dois foram socorridos e encaminhados ao serviço de saúde.
Além deste, uma pessoa em Limeira, atingida por um muro; uma em Osasco, após queda de árvore sobre um carro; uma em Santo André, atingida por destroços que caíram de um prédio; uma em Suzano e duas na capital, todas após quedas de árvores.
As mortes, causas e cidades:
São Paulo – 2 pessoas faleceram na Zona Leste em virtude de queda de árvore sobre veículos na Av. Eduardo Sabino de Oliveira;
Osasco – 1 pessoa morreu após a queda de uma árvore sobre um muro, que também atingiu um veículo na Av. Luís Rink;
Santo André – 1 pessoa morreu após a queda da parede do 18º andar de prédio em construção na na Rua Mendes Leal;
Limeira – 1 morte causada pela queda de um muro sobre pessoa no bairro Marajoara;
Suzano – 1 morte causada pela queda de uma árvore sobre a pessoa na Av. Antônio Marques Figueira, Vila Adelina.
Ilhabela – Embarcação naufragou e um dos tripulantes não resistiu. Outros dois foram socorridos e encaminhados ao serviço de saúde.
Fonte: www.g1.globo.com
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