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‘Treta do ChatGPT’: entenda a troca relâmpago que Sam Altman fez da OpenAI pela Microsoft

Executivo foi demitido do cargo de CEO porque não tinha a confiança do conselho. Ele recebeu o apoio de funcionários, foi contratado pela Microsoft menos de três dias depois e, agora, seu desligamento será investigado pelo novo chefe da OpenAI.

A demissão de Sam Altman do cargo de CEO da OpenAI, criadora do robô conversador ChatGPT, foi uma surpresa. Na sexta-feira (17), a companhia disse que o cofundador da empresa foi demitido porque não tinha mais a confiança de seu conselho.

O estopim para a saída de Altman não é conhecido, mas não tem relação com discordâncias sobre segurança em inteligência artificial (IA), disse o CEO interino da OpenAI, Emmett Shear. Na esteira da demissão, a empresa também perdeu Greg Brockman, outro cofundador, que pediu para sair.

O que ficou claro foi a enorme mobilização em torno dos desligamentos. Funcionários ameaçaram uma saída coletiva se a situação não fosse revertida, e a Microsoft, uma das principais investidoras da OpenAI, anunciou a contratação dos dois executivos.

A forma como Altman saiu da OpenAI foi incomum por alguns fatores: as palavras duras usadas para anunciar sua demissão, o apoio público de vários funcionários após seu desligamento e a aparente indecisão sobre quem deveria ficar no lugar dele são alguns dos pontos que chamam atenção.

Entenda os principais pontos da ‘treta’ envolvendo Open AI, criadora do ChatGPT, Sam Altman e a Microsoft.

Na tarde de sexta, Sam Altman é informado de sua demissão em chamada de vídeo com Ilya Sutskever, conselheiro e cofundador da OpenAI, e os outros membros do conselho, segundo Greg Brockman, presidente do conselho e também cofundador da empresa, que disse não ter participado da conversa;

Minutos depois, Brockman é convidado para outra chamada, em que é avisado da sua saída do conselho e da demissão de Altman. Segundo Brockman, o conselho disse que o seu cargo executivo seria mantido por ser uma “função vital para a empresa”;

Neste momento, a OpenAI anuncia ao público a demissão de Altman. O comunicado diz que o conselho não confiava no executivo para liderar a empresa e que ele “não era consistentemente sincero nas suas comunicações”, sem citar exemplos desse comportamento;

A empresa anuncia a sua diretora de tecnologia, Mira Murati, como CEO interina;

Em solidariedade à saída de Altman, Greg Brockman, pede demissão do cargo que ainda ocupava;

“A OpenAI não é nada sem a sua gente”: executivos da companhia, incluindo Murati, postam a mensagem em apoio a Altman, que havia publicado a frase no domingo (19);

Na segunda-feira (20), o CEO da Microsoft, Satya Nadella, anuncia que a empresa contratou Sam Altman e Greg Brockman para liderarem uma nova equipe de pesquisa em inteligência artificial, mas afirma que a parceria com a OpenAI será mantida;

O cofundador da plataforma de vídeos Twitch Emmett Shear é anunciado como novo CEO interino da OpenAI, assumindo a posição em que Murati estava há menos de três dias;

Em carta, funcionários da OpenAI apontam “má-fé” do conselho da OpenAI na demissão de Altman, criticam a remoção de Murati do comando interino e fazem ameaça de saída coletiva da empresa se Altman e Brockman não voltarem ao conselho e os demais membros do grupo não renunciarem;

Ilya Sutskever diz que lamenta sua participação nas ações do conselho: “Nunca tive a intenção de prejudicar a OpenAI. Amo tudo que construímos juntos e farei o possível para reunificar a empresa”.

Quem demitiu Sam Altman?

No comunicado sobre a demissão de Altman, a OpenAI afirmou que a decisão foi tomada depois de um processo de revisão deliberada por seu conselho. De acordo com o site da empresa, até sexta, o conselho era formado por:

Greg Brockman (presidente do conselho e cofundador da OpenAI)

Sam Altman (CEO e cofundador da OpenAI)

Ilya Sutskever (cientista-chefe e cofundador da OpenAI)

Adam D’Angelo (CEO do site de perguntas e respostas Quora)

Tasha McCauley (cofundadora da empresa de IA Fellow Robots)

Helen Toner (diretora de estratégia do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown)

Funcionários da OpenAI criticaram o conselho e afirmaram que o processo de desligamento de Altman e Brockman comprometeu o trabalho da empresa, segundo carta assinada por centenas de pessoas e reproduzida por veículos como Financial Times e Wired.

Suas ações deixaram óbvio que vocês são incapazes de supervisionar a OpenAI.

— Manifestação de funcionários ao conselho da OpenAI, em carta reproduzida na imprensa

O grupo prometeu fazer uma demissão coletiva, “a menos que todos os atuais membros do conselho renunciem e o conselho nomeie dois novos diretores líderes independentes, como Bret Taylor e Will Hurd, e reintegre Sam Altman e Greg Brockman”.

Por que a demissão foi inesperada?

Altman participava normalmente de eventos da OpenAI. No início do mês, ele esteve na conferência da empresa para desenvolvedores em que revelou a opção para usuários criarem suas próprias versões do ChatGPT e a prévia do GPT-4 Turbo, nova geração do modelo de IA da empresa.

Na sexta, após a demissão, ele afirmou que “foi uma experiência estranha em muitos aspectos”. E, na segunda, após ter sido anunciado como funcionário da Microsoft, ele disse que todos vão trabalhar juntos e que, agora, há “mais unidade, compromisso e foco do que nunca”.

As publicações de funcionários em apoio a Altman indicam que ele era respeitado dentro da OpenAI, diz Matheus Popst, sócio da gestora de investimentos Arbor Capital. Para ele, o executivo pode ser visto um CEO controverso, mas sua importância na OpenAI é inegável.

“[Esse tipo de demissão] é absolutamente anormal no Vale do Silício. Só é comparável à demissão de Steve Jobs pela Apple [em 1985] e de Travis Kalanick pela Uber [em 2017]”, disse Popst, ao g1.

O novo CEO interino da OpenAI, Emmett Shear, disse que tem respeito pelo o que Altman e sua equipe construíram, e prometeu uma investigação independente sobre a demissão do executivo.

Está claro que todo o processo e as comunicações em torno da remoção de Sam foram muito mal tratados, o que prejudicou seriamente a nossa confiança.

— Emmett Shear, CEO interino da OpenAI

Até mesmo Elon Musk, outro cofundador da OpenAI e hoje à frente da concorrente xAI, se envolveu na história. Em seu perfil no X, ele fez piada com a situação: “Parece que [o domínio] Instabilidade.AI ainda está disponível”, escreveu.

O que acontece agora?

A Microsoft, que investiu US$ 13 bilhões na OpenAI, terá Sam Altman como CEO de uma nova equipe de pesquisa em IA. Greg Brockman também estará na iniciativa. Segundo Satya Nadella, CEO da Microsoft, a empresa continua comprometida com a parceria com a OpenAI;

Na OpenAI, o novo CEO interino, Emmett Shear, anunciou um plano para os próximos 30 dias, o que inclui a investigação sobre a demissão de Altman, conversas com funcionários e parceiros, e mudanças na equipe de gestão.

Na segunda, Altman disse que a prioridade dele e de Nadella é manter a prosperidade da OpenAI. “Estamos comprometidos em fornecer total continuidade das operações aos nossos parceiros e clientes. A parceria OpenAI e Microsoft torna isso muito viável”, escreveu, em seu perfil no X.

E o que muda em termos de negócios? “Na prática, o que aconteceu foi que a Microsoft comprou a OpenAI sem ter que pagar um dólar por isso”, resume Popst, da Arbor Capital.

Isso porque, além de Altman e Brockman, a Microsoft levará ao menos outros três líderes da OpenAI, número que pode aumentar em breve. Resta saber o quanto de seu trabalho os executivos poderão levar para a nova casa.

“Este ponto é crucial, dado o acordo pré-existente entre Microsoft e OpenAI, que concedia à Microsoft acesso a pesquisas e parâmetros de modelos como o GPT-4”, diz Popst.

“A integração dos ex-funcionários da OpenAI promete resolver desafios anteriores de coordenação e alinhamento de incentivos entre as duas entidades”.

Fonte: www.g1.globo.com



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