Quem tem essa ocupação é responsável pela organização do sistema digital que gerencia os dados de uma empresa e deve ganhar até R$ 24,1 mil no ano que vem, segundo pesquisa da recrutadora.
Você sabe o que faz um engenheiro de dados? Esse profissional de tecnologia será um dos mais procurados pelas empresas em 2024, além de um dos mais difíceis de encontrar.
A informação é do Guia Salarial da recrutadora Robert Half, lançado neste mês, que aponta tendências de recrutamento e remuneração para o próximo ano no Brasil.
Os cargos de tecnologia chamam atenção no levantamento, com salários de até R$ 51,6 mil para diretores. No caso do engenheiro de dados, a remuneração média mensal para um profissional experiente deve ser de R$ 24,1 mil (veja a tabela abaixo).
Ele pode trabalhar em diversos segmentos, não apenas em empresas de tecnologia, e atua em conjunto com outros profissionais da área, como o cientista de dados. Muitas vezes, as funções até acabam se misturando.
O trabalho dos profissionais de dados vai ajudar a empresa a tomar decisões importantes, como definir quais clientes do banco merecem mais crédito no cartão, por exemplo, ou saber quantos medicamentos a farmácia precisa comprar no próximo mês.
E, para se tornar um engenheiro de dados, não é necessário fazer uma faculdade específica, mas tem que ter um excelente domínio de estatística e matemática, além de programação, alerta Ricardo Galiardi, profissional com 17 anos de experiência na área.
Ricardo Galiardi é arquiteto de dados, engenheiro de dados e cientista de dados. Há 33 anos no mercado de software, ele explicou ao g1 a diferença entre esses três cargos e as funções de cada um dentro de uma empresa.
Mas, para Elisa Rodrigues, especialista em recrutamento da companhia, o engenheiro de dados “existe ou deveria existir em toda empresa em grande porte”.
“E mesmo em empresas menores que lidam com um grande volume de dados. Elas precisam de uma pessoa para colocar ordem na casa, organizar esses dados em um local específico”, diz.
BANCO – O Wesley Soares de Abreu tem 32 anos e trabalha como cientista de dados em um banco brasileiro. O trabalho dele é fazer modelos de crédito.
Ele explica um exemplo: “Eu tenho o histórico do cliente e sei que ele utiliza o cartão duas ou três vezes no mês, gastando uma média de tantos reais. Eu não tenho como analisar cliente por cliente, então vou atrás das bases que têm essas informações.”
“Aí tem muito tratamento de dados e depois parto para análise do comportamento dos clientes. Eu vou pegar cada variável que eu tenho ali para entender se ele pode ter mais ou menos limite.”
SAÚDE – Já o Galiardi trabalha para uma consultoria indiana que presta serviços para uma grande indústria farmacêutica no Reino Unido. Ele trabalha de casa e começa o expediente ainda na madrugada.
“Nossa missão é coletar dados de operação da indústria. Temos várias planilhas e um time que roda 24 horas por dia, 7 dias por semana, para processar esses dados. Temos informações dos consumidores, de servidores, operações de campo, máquinas, etc, e provemos relatórios para a diretoria da empresa tomar decisões”, conta.
Um dos objetivos desse trabalho, segundo ele, é tornar os dados acessíveis para todas as áreas da empresa, para que elas possam utilizá-los para melhorar os serviços.
“E não adianta mandar as informações só em forma de dados. Usamos relatórios, gráficos. O analista de negócio monta relatórios visuais com todos esses dados e oferece para o diretor que pediu a informação. Ele vai ter o dado de uma forma mais lúdica e dinâmica.”
POLÍTICAS PÚBLICAS – O pesquisador Gabriel Gomes de Oliveira, que trabalha no Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, vinculado ao governo federal, também citou o uso da ciência de dados nas políticas públicas.
“O andamento da Covid em cada região, adotar ações para minimizar os impactos… Isso foi feito através da análise de dados do Data SUS. Outra possibilidade é verificar a incidência de queimadas na Amazônia, como está o andamento, etc.”
O levantamento da recrutadora Robert Half constatou que a remuneração mensal média de um especialista/cientista de dados deverá ser da seguinte forma em 2024:
A pesquisa divide a faixa salarial das profissões em três possibilidades, sendo a primeira (“salário inicial”) para o candidato que é novo no trabalho ou ainda está desenvolvendo habilidades relevantes, e a última (“salário final”) para o profissional mais experiente, com especializações e certificações.
Dessa forma, o “salário médio” não representa a média salarial daquele cargo e, sim, o quanto ganha, em média, um candidato considerado intermediário nesses quesitos de qualificação e experiência.
O guia não citou especificamente o salário de um engenheiro de dados, mas segundo a Elisa Rodrigues, do recrutamento da empresa, a remuneração desses cargos costuma ser bastante parecida.
O cientista de dados Wesley Soares, que trabalha em banco, fez uma ressalva sobre os salários e disse que, em início de carreira, as vagas para cientista de dados costumam pagar entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, metade do que é estimado na pesquisa da recrutadora.
Segundo a especialista de recrutamento, os salários podem ser mais baixos do que os apresentados na pesquisa porque um profissional em início de carreira normalmente não começa em uma empresa já como engenheiro de dados e, sim, em cargos mais “júnior” relacionados à área, como o de analista de dados.
No caso de gerente de dados, citado na pesquisa com salários de R$ 21,6 mil a R$ 36,1 mil, a função no dia a dia é mais relacionada à liderança executiva.
“Ele tem toda a área de dados abaixo dele e monta toda a estratégia daquela área. Ele tem que ter um viés técnico, mas vai ter um time focado nos dados. Em muitas empresas grandes, que é onde muitos engenheiros de dados estão, provavelmente esse profissional vai responder a um gerente”, explica Elisa Rodrigues.
Para Ricardo Galiardi, da indústria farmacêutica, a área de dados paga bem e os profissionais quase não ficam desempregados.
O Gabriel, do CTI do governo, é formado em engenharia civil. O Wesley, do banco, é engenheiro de aeroespacial. E o Ricardo, da empresa estrangeira, se formou em engenharia elétrica.
Para Ricardo, o primeiro caminho é aprender linguagem de programação, como Python e Java. Ter domínio de estatística e matemática também é essencial, além de conhecer a língua inglesa.
“Hoje existem inúmeros cursos para se tornar todos esses cargos da área de dados. Microsoft, Google, Amazon têm treinamentos pagos e não pagos. Algumas universidades também têm formação específica para engenheiro, cientista e arquiteto de dados”, orienta Ricardo.
Ele também disse que alguns provedores de ferramentas de dados fornecem certificados para quem domina aquele sistema e que “isso é muito exigido no mercado”.
“Às vezes, o projeto também precisa de um conhecimento extra”, pontua Gabriel. “Tem projeto de ciências de dados que envolve área química, de petróleo, então vai precisar de um engenheiro químico especializado em ciência da computação para atuar.”
De acordo com a especialista em recrutamento da Robert Half, o fato de não ser necessária uma formação específica para o engenheiro de dados contribui para a escassez do profissional no mercado.
“É uma profissão muito nova e cada vez mais pedida assim porque agora as empresas estão se deparando com um cenário onde elas precisam controlar os dados delas. […] E a pessoa tem que querer entrar nessa área, tem que fazer cursos, saber programar. São muitos ‘poréns’ e você não encontra isso tudo num lugar só”, conclui.
Fonte: www.g1.globo.com
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