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Violência em Marabá é destaque internacional

Em meio às comemorações dos 104 anos de Marabá, uma notícia ruim para os moradores desta região. Na última semana, a cidade foi destaque na imprensa internacional, mas não pelas belezas naturais, cultura ou gastronomia, e sim pelos altos índices de violência. A publicação inglesa “The Economist” – uma das mais importantes do mundo – divulgou, na última sexta-feira (31), na seção “Daily Chart”, o artigo “The world’s most dangerous cities”, acerca das cidades consideradas as mais perigosas em todo o mundo, citando a maior cidade do sudeste paraense.

O texto considera que a cocaína é cultivada principalmente na América do Sul e, a partir daí, traficado para os Estados Unidos – considerado o maior mercado consumidor –, por meio da América Central e do Caribe. As rotas pelas quais a produção da droga é escoada se originam principalmente na Colômbia, passando por El Salvador, Honduras e Guatemala antes de atravessar o México, o que torna aceitável a ideia de que a América Latina seja a região mais violenta do mundo mesmo não estando em guerra.

Na lista dos 10 países que abrigam as cidades mais violentas do mundo, o Brasil está em quarto colocado – atrás de El Salvador, México e Honduras. “The Economist” aponta que o país é o segundo maior consumidor mundial de cocaína é onde está localizada metade de todas as cidades que aparecem no ranking, sendo um dos motivos a grande população. A publicação destaca, no entanto, que nos últimos anos a violência tem migrado das grandes capitais para municípios do interior e é aí que Marabá aparece.

Os dados utilizados foram coletados junto ao Instituto Igarapé, entidade brasileira que tem como uma das frentes de atuação a pesquisa em segurança. Conforme as informações, em 2015 a taxa de assassinatos caiu nas maiores cidades brasileiras, mas aumentou nas menores. Em Marabá, afirma a publicação, o número de mortes subiu 20% em um ano, assim como no município de Vimão, no Rio Grande do Sul. Na cidade mais populosa do país, São Paulo, destaca o jornal, os homicídios caíram 55% entre 2014 e 2015.

Ainda segundo a publicação na página de “The Economist”, baseada nos dados do Instituto Igarapé, 43 das 50 cidades onde mais ocorreram homicídios do mundo, em 2016, além de oito dos dez países, estão localizados na América Latina e no Caribe, destacando que conflitos entre quadrilhas, a corrupção e instituições públicas com fraco combate contribuem com os altos níveis de violência nestes locais.

A cidade mais violenta, em 2015 e 2016, foi San Salvador, capital de El Salvador, porém foi observada queda nas taxas nacionais. Em 2015 foram contabilizadas 103 mortes por 100 mil habitantes, enquanto no ano posterior, 2016, foram assassinadas 91 pessoas para cada 100 mil habitantes. A cidade de San Salvador também apresentou menos mortes: foram 190 casos em 2015 e 137 em 2016.

Já no México, em 2016, seis cidades aparecem entre as primeiras 50, três a mais que no ano anterior. Em 2017, o número de assassinatos no México durante os dois primeiros meses do ano já é o mais alto para janeiro e fevereiro desde que os registros começaram, aponta o “The Economist”.

No Brasil, diferentemente do México, a taxa nacional de homicídios caiu de 29 por 100 mil habitantes em em 2014 para 27 em 2015. Ainda não há dados disponíveis sobre o ano passado. Se o cálculo for feito pela soma total das mortes – e não pela amostra – o país aparece como capital do assassinato, com 56.212 pessoas mortas em 2015, o que é explicado, em parte, pela grande população do Brasil.

Entidades nacionais também destacam dados negativos

No Atlas da Violência 2016, publicado no ano passado, cujas informações originaram uma reportagem do CORREIO, publicada em março do ano passado, Marabá apareceu entre as 20 microrregiões brasileiras, conforme definição do IBGE, que apresentam as maiores taxas de homicídios do país. O levantamento foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), analisando os números mais atuais sobre a evolução dos homicídios por macrorregiões, unidades da federação e microrregiões.

Os dados são referentes aos anos de 2004 a 2014 e foram fornecidos pelo Ministério da Saúde, por meio Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Apenas em 2014, segundo os registros, 59.627 foram vítimas de homicídio no país. De acordo com o levantamento, a partir de 2008, os homicídios têm evoluído de maneira desigual nas unidades federativas e microrregiões do país, atingindo crescentemente as cidades menores do interior do país, sendo as principais vítimas jovens e negras.

O Atlas apontou que as mortes violentas no país representam mais de 10% dos homicídios registrados em todo o mundo, colocando o Brasil em posição nada confortável, como detentor do maior número absoluto de homicídios.  No Pará, em 2014, foram registrados 3.447 homicídios, uma taxa de 42,6 a cada 100 mil habitantes. Dez anos antes, em 2004 foram 1.522 mortes, uma taxa 22,0. A variação nesse período foi de 126.5%.  Em 2013 foram 3.442 mortes, uma variação de 0,1% em relação ao ano anterior.

No ranking das microrregiões, elaborado a partir de análise bayesiana das taxas, a cada 100 mil habitantes, Marabá aparece em décimo terceiro, com taxa de 64,8 para uma população calculada em 309.469 habitantes. Outros municípios do Pará também apareceram no ranking. Antes de Marabá estava Altamira, na oitava posição, com população de 290.730 pessoas e taxa de homicídios de 71,7. Em décimo primeiro vinha Parauapebas, com 292.211 habitantes e taxa de 70,1 homicídios. Belém era a última colocada no ranking das 20 microrregiões, com 2.242.436 habitantes e 60,1 de taxa de homicídios.

SAIBA MAIS

A Reportagem entrou em contato com o superintendente da Polícia Civil no sudeste paraense, delegado Marcelo Delgado, na noite desta segunda-feira (3) e ele solicitou tempo para confrontar os dados junto ao sistema estadual, se comprometendo a falar sobre o assunto nos próximos dias. O artigo em questão pode ser consultado no link www.economist.com.

(Luciana Marschall)

Fonte: CT ONLINE



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