A falta de atividade física, a alta adesão a dietas ricas em sal e açúcar e o excesso de peso são responsáveis pelos casos de pressão alta em 9 de cada 10 crianças e adolescentes, de acordo com estudo publicado por especialistas da Sociedade Europeia de Cardiologia, no European Heart Journal.
O documento, divulgado no final de julho, apresenta dados de jovens entre 6 e 16 anos e recomenda mudanças de hábitos para que as famílias fiquem saudáveis juntas. Segundo os autores, os pais são agentes importantes e fundamentais para que essa mudança ocorra.
O artigo também afirma que a hipertensão e a obesidade no público infantil estão se tornando cada vez mais comuns – especialmente a obesidade abdominal, a mais perigosa para a saúde do coração.
“Hoje, qualquer criança ou adolescente vai na cantina da escola e compra o que quer. Isso obviamente permite que eles escolham uma alimentação mais palatável, que é o fast food. Nitidamente temos uma piora alimentar muito grande nos últimos anos e, por isso, os níveis de obesidade estão explodindo. Consequentemente os níveis de pressão arterial também”, alerta Gustavo Foronda, cardiologista pediátrico do Hospital Israelita Albert Einstein.
De acordo com os especialistas, o diagnóstico precoce da hipertensão infantil é fundamental para que ela possa ser controlada apenas com mudanças no estilo de vida, sem a necessidade do uso de medicamentos. Por se tratar de um problema assintomático e silencioso, é recomendado que a pressão arterial da criança seja avaliada ao menos uma vez por ano na consulta com o pediatra.
Os níveis pressóricos ideais não são como nos adultos – existem níveis estabelecidos para cada faixa etária, de acordo com a superfície corpórea e com a circunferência do braço da criança. Para chegar ao valor correto, é preciso medir de forma adequada.
“Existe uma tabela para determinar os níveis pressóricos adequados para cada momento da vida. Idealmente, o clínico ou o pediatra devem medir a pressão da criança nas consultas de rotina. A gente sabe que isso não é uma prática regular, mas cada vez mais eles estão se conscientizando dessa necessidade”, diz Foronda.
Segundo o cardiologista, a Academia Americana de Pediatria preconiza que a pressão comece a ser medida em todas as crianças a partir dos 3 anos de idade.
Se houver suspeita de que o estilo de vida é o grande causador da hipertensão, a mudança de hábitos é a primeira orientação. Isso não envolve apenas a criança, mas toda a família, pois muitas vezes a pressão alta e a obesidade coexistem no mesmo núcleo familiar.
“Não adianta a gente querer mudar os hábitos de uma criança isoladamente. Em geral, quando você tem uma criança sedentária, obesa ou hipertensa, normalmente isso é um reflexo da família. Se não tratar a família como um todo, a chance de a criança aderir às mudanças é muito baixa”, afirma Foronda.
As recomendações dietéticas incluídas no estudo publicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia incluem: enfatizar uma dieta rica em vegetais frescos, frutas e alimentos ricos em fibra; limitar a ingestão de sal; e evitar o consumo de açúcar e gordura saturada.
Além disso, os cientistas destacam a importância da realização de ao menos uma hora de atividade física moderada a intensa por dia (como andar de bicicleta, fazer natação ou correr) e não passar mais de duras horas em atividades sedentárias (como assistir TV, jogar videogame ou ficar no tablet e celular).
O documento também orienta que devem ser estabelecidas metas realísticas para a perda de peso, dieta e atividade física, sempre concentrando os esforços nos aspectos que precisam de mais melhorias.
O consenso dos médicos sugere, ainda, que os avanços na evolução do emagrecimento, da melhora dos hábitos alimentares e da realização de atividades físicas sejam registrados para o acompanhamento do progresso.
“A grande dificuldade de tratar a hipertensão na infância é que precisamos tratar em conjunto a obesidade e o sobrepeso. A hipertensão é uma doença silenciosa que não causa nenhum malefício aparente. É preciso mudar o estilo de vida de toda uma família para o tratamento. Isso leva tempo e muitas vezes não temos uma resposta rápida”, finaliza o cardiologista.
Fonte: folha.uol
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