De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, atualmente, existem 224 bancos de leite humano no Brasil e 217 postos de coleta. Em Marabá, desde 2014, o Hospital Materno Infantil é credenciado à Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RBLH-BR) e, atualmente, devido à pandemia do coronavírus, o número de doadoras mensais está entre 35 e 40 mulheres.
Vidrinhos do amor
Há pouco mais de três semanas, a servidora pública Rudimylla Septimio, 33 anos, ganhou o maior presente que a vida poderia lhe dar: Cecília.
Com uma gravidez planejada e um pré-natal realizado com acompanhamentos regulares, Rudimylla se preparou pra o parto normal. Com 39 semanas e cinco dias, Cecília nasceu em um hospital particular de Marabá.
Após receberem alta, mãe e bebê, aparentemente bem, retornaram para casa. Contudo, a pequena Cecília não parava de chorar e não conseguia mamar, estava fraca. Rudimylla decidiu ir até o HMI para que sua filha pudesse receber atendimento.
“Minha irmã teve bebê no HMI e a gente sabia que é um hospital de referência. E chegando aqui fui muito bem orientada, me ensinaram a dar de mamar e a segurar o bebê. Cecília realizou diversos exames e descobrimos que ela tinha icterícia”, relembra a mãe, que voltou com a pequena para o hospital particular, onde precisou ficar internada por mais dois dias, fazendo tratamento de fototerapia.
Com Cecília internada, a mãe da bebê começou a perceber que seus seios estavam cada vez mais cheios e doloridos. Foi então que começou a tirar, com a ajuda de uma bombinha.
“Era aquele leite amarelinho, o colostro. Eu não tinha o que fazer com tudo aquilo, eram quase 140 ml de leite. Joguei tudo fora. Quando estava enchendo a segunda mamadeira uma enfermeira entrou no quarto e me perguntou o que eu iria fazer com o leite, e eu disse que ia jogar fora”, conta, relembrando que foi a profissional de saúde que explicou sobre o banco de leite do HMI.
Mãe de primeira viagem, Rudimylla desconhecia o serviço de doação, e foi então que percebeu que estava jogando fora um alimento altamente rico para os bebês. “Só pensei, saindo daqui vou ao HMI”.
Em uma manhã de domingo, já em casa, a mamãe da Cecília entrou em contato, via telefone, com o Hospital Materno para saber informações sobre o banco de leite. “Fui muito bem atendida, me explicaram tudo direitinho, depois uma equipe do hospital foi até a minha casa me passar todas as informações e como eu deveria proceder para armazenar o leite”, recorda.
Questionada sobre ser doadora de leite materno, Rudimylla se emociona ao falar sobre o ato de amor. “O sentimento é que estou cuidando da minha filha, mas eu poderia estar precisando desse leite, ela poderia ter nascido prematura e ser amamentada com o leite de outra pessoa. É uma rede muito bonita. É um ato solidário que deveria ser espalhado. É um leite que não vai para a sua criança, mas vai salvar outras vidas. É um prazer abrir a porta do freezer de casa e ver os vidrinhos. Eu tenho leite para a minha filha e para doar”, finaliza.
O susto da prematuridade
No último dia 22 de outubro de 2021, em uma ida ao médico para fazer um exame de ultrassom de urgência, Daleth Lopes Vieira, de 23 anos, grávida de 30 semanas, estava sentindo fortes dores quando percebeu que estava sangrando. A rota foi alterada imediatamente e o destino agora era o Hospital Materno Infantil.
“Minha médica já tinha visto que o bebê estava encaixado. Eu já estava dilatando, só que até então, ela tinha dito que ele não iria nascer prematuro”, conta.
Ao chegar à casa de saúde, Daleth foi atendida rapidamente e chegou a tomar medicação para inibir as contrações e segurar o bebê por um pouco mais de tempo, mas não adiantou.
O pequeno Henrique nasceu ainda de manhã, de parto normal. “Foi muito angustiante, eu e meu marido estávamos com muito medo. Mas me levaram para o leito e o parto foi muito rápido”.
No dia da entrevista ao Correio de Carajás, Daleth estava com apenas quatro dias de parida. Mais calma e bem orientada sobre os cuidados e orientações sobre bebês prematuros, ela aguarda ansiosa a chegada do bebê em casa.
Henrique segue aos cuidados da Unidade de Cuidado Intermediários (UCI) do Materno Infantil, se alimentando bem e recebendo todos os cuidados da equipe de saúde. “Os bebês prematuros são bem cuidados. As enfermeiras cuidam com muito carinho”.
Sobre a alimentação do filho, Daleth explica a primeira alimentação dele não foi do seu leite materno. “Foi o leite doado, que graças a Deus tem bastante. Comecei a fazer a ordenha ontem (segunda-feira, 25) e agora meu bebê está se alimentando do meu leite”, conta, feliz.
Daleth aprendeu, na prática, sobre a importância do banco de leite. Recebeu informações sobre amamentação, sucção da pega do bebê, a forma correta de tirar o leite, entre outras informações.
“Há mães de bebês prematuros que logo quando nascem, não conseguem produzir o leite imediatamente, e os bebês precisam desse alimento. Se eu conseguir produzir bastante leite para doar, vou fazer isso”.
Questionada sobre ser mãe de bebê prematuro, ela afirma que precisa ter muita calma. Tem que estudar bastante e vir aqui para ser bem orientada. “Vindo aqui é muito mais fácil, elas nos apoiam, incentivam e orientam o que devemos fazer com nosso bebê. Além de nos dar o suporte psicológico. E pra aquelas mães que estão com leite materno sobrando, venha doar. Há muitos bebezinhos precisando”, pede a mãe.
Prematuridade
O mês de novembro é dedicado à prematuridade e tem como objetivo a conscientização e educação da população sobre esse assunto. Classificada como uma gestação inferior a 37 semanas, vários riscos podem acarretar um bebê prematuro, como uma internação prolongada na UTI.
Raynara Simões, 30, médica pediatra do HMI, explica que complicações relacionadas à prematuridade são as principais causas de morte de crianças menores de cinco anos de idade. “Não podemos esquecer a parte emocional da mãe. Ela está grávida e tem o desejo de levar a gestação até o fim, de sair da maternidade com o bebê no colo. Quando isso é frustrado, essa mulher precisa de uma rede de apoio, de cuidados também”, pondera.
No mundo todo, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros todos os anos. No Brasil, esse número fica em torno de 340 mil.
“Esses bebês podem ter algumas deficiências, atrasos de desenvolvimento, problemas visuais, infecções graves… e tudo isso está relacionado à prematuridade. Isso gera uma atenção maior na alta desse bebê na maternidade”, explica a médica pediatra, ressaltando sobre a importância da presença da mãe e do aleitamento materno nesse período.
Raynara conta que o bebê prematuro muitas vezes não consegue sugar o seio da mãe, mas mesmo assim ele recebe o colostro, que é o leite materno rico em anticorpos, que ajuda no ganho de peso. “Na UTI a gente conta com as doações das mães dos bebês internados e das doadoras. Um frasco de vidro de leite materno, por exemplo, alimenta mais de dez bebês, porque esse bebê prematuro recebe em torno de 3 a 5 ml de leite por dieta”.
Segundo a médica, as causas de um parto prematuro, na maioria das vezes, são evitáveis com um pré-natal bem feito. De acordo com Raynara, problemas obstétricos e ginecológicos, como infecção urinária, diabetes gestacional, hipertensão e sífilis são as causas mais comuns para a antecipação do parto.
“Em Marabá, o alto número de sífilis chama a atenção. Ela é uma infecção congênita de parto prematuro. Os bebês nascem com baixo peso, e inclusive, causa a perda gestacional. É preciso buscar educação, se informar e fazer um acompanhamento correto para ter o parto no tempo certo”.
De acordo com dados do Hospital Materno Infantil de Marabá, no primeiro semestre de 200 – de janeiro a junho, 88 partos prematuros foram registrados na casa de saúde. No mesmo período de 2021, o número foi ainda maior: 103 bebês nasceram antes do tempo.
Banco de Leite
O Banco de Leite Humano do Hospital Materno Infantil de Marabá atende bebês que, nos primeiros dias de vida, precisam de leite materno e que por algum motivo a mãe está impossibilitada de amamentar. O Banco de Leite está vinculado à Rede Brasileira de Leite Humano, coordenada nacionalmente pela FioCruz.
A coordenadora do setor, nutricionista Ligia Viana, explica que mensalmente um relatório é fechado com o número total de doadoras e litros de leite materno coletados. Atualmente, o Banco de Leite do HMI mantém em torno de 37 a 40 doadoras. “Na pandemia, esse número caiu consideravelmente, ficando em 16 doadoras, mas fomos conseguindo, aos poucos, resgatar novas doadoras para que o número aumentasse”.
Questionada sobre como o Banco faz para alcançar novas doadoras, Ligia conta que funciona da seguinte forma: para as parturientes que estão internadas ou quando os bebês é que estão internados, as mães fazem a visita, as pediatras dos setores as encaminham para o Banco de Leite para que possam fazer a ordenha. Lá, recebem a informação sobre o Banco e as doações. “Se a mãe percebe que ela tem leite em excesso, nos procura, que nós fazemos o cadastro para que se torne uma doadora”.
Uma vez já cadastrada no Banco de Leite, após realizar exames e estar apta, a mãe recebe um kit de doação com frascos apropriados e, durante a semana, o veículo do Banco de Leite passa para fazer a coleta. “As mães recebem todas as informações para retirar e armazenar o leite de forma correta”, explica.
Para mais informações, é só entrar em contato com o Banco de Leite do HMI, pelo número 3322-5751.