“Doces ou travessuras?” Essa até pode ser uma marca do dia das bruxas, mas para um menino de Belém, os doces são levados tão a sério que também é negócio que pode ajudar toda a família.
Enzo não aceitou a resposta e disse: “Mamãe, eu quero agora. Se a Laura tem o negócio dela de pulseira, por que eu não?”, se referindo à amiga de 9 anos. A mãe de Enzo deixou para lá a conversa, mas ele, irredutível, não. E continuou insistindo na missão de ser um empresário.
“Até que ele viu um vídeo no YouTube de uma moça que vendia doces e me chamou. Assisti todos os vídeos com ele, de receita e doces. Ele disse: ‘Eu quero vender doces, é isso, mãe’. Perguntei se tinha certeza, ele disse que sim”, relembra Jéssica. Ela aproveitou e colocou Enzo em um curso de mini confeiteiro para saber se era isso mesmo que ele queria. Adivinha? Ele saiu de lá ainda mais encantado e querendo trabalhar no ramo.
“Então, comprei o material com muito sacrifício para ele ver que eu lutaria pelos sonhos dele sempre. Se desse certo ou errado, eu queria dar a iniciativa para ele. Fiz 80 doces para vender a R$ 2,50 a unidade. Ele pegou o microfone dele e começou a gritar na janela de casa: ‘olha os doces do Enzo, o melhor doce que você já comeu. Você encontra aqui’. Em menos de duas horas, vendemos tudo. Tudo mesmo e fiquei muito assustada”, contou a mãe. Daí surgiu a Enzo Rafael Doceria.
O que muitos não imaginam é que esse garotinho sonhador da história nasceu prematuro, com sete meses. Os bebês geralmente nascem aos nove meses. Porém, alguns nascem muito antes e precisam ficar num lugar chamado UTI neonatal – um local nos hospitais que imita a barriga da mãe, onde recebem os cuidados até seus corpinhos ficarem bem formados.
A mãe do Enzo teve complicações no parto e isso resultou numa demora para esse garotinho esperto vir ao mundo. Como consequência, ele nasceu com paralisia cerebral e seu movimento ficou comprometido. Por isso, ele precisa de uma cadeira de rodas para se locomover, além de ter dificuldades na fala. Mas isso não foi empecilho para sonhar, tanto que Enzo ajuda a enrolar os doces e o padrão de qualidade dos docinhos passa por ele. Ou seja, ele prova e aprova tudo o que sai para a venda.
“Para ele é uma grande terapia mesmo. Trabalhamos sexta, sábado e domingo com caixas com quatro unidades de doces. Bolo, pudim e copo da felicidade estamos colocando essa semana no cardápio. Toda semana tem sabores diferentes e oferecemos uma grande quantidade de sabores. O que faz muito sucesso por aqui é a coxinha de morango”, disse Jéssica.
CLIENTELA
As entregas são feitas pelas redondezas do bairro do Tenoné, onde a família reside. Mas se você mora em outro bairro e quer provar e ajudar o empreendimento do Enzo, pode negociar a taxa de entrega ou passar no endereço e fazer a retirada dessas gostosuras. Enzo sonha em empregar e ajudar pessoas. Já a mamãe sonha que ele ganhe cada vez mais independência.
“Meu sonho é ver ele sendo menos dependente de mim, andando. Andar será consequência de todo o trabalho de reabilitação e, claro, da vontade de Deus. Como mãe, eu só posso oferecer para ele oportunidades e ensiná-lo a crescer com a ideia de que ninguém pode dizer que ele não é capaz. Porque ele é capaz de vender doces, de ser médico, músico, o que ele bem entender, e as limitações dele não serão impedimentos para isso”, ressalta a mãe.
“Para a doceria, eu sonho em ter condições de comprar os materiais necessários e que ainda não tenho. No momento, de todo dinheiro que entra, parte vai pro Enzo guardar e com a outra compro material”, finalizou Jéssica.
Fonte: diarioonline.com
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