A média de mortes por Covid só aumenta a preocupação. Há um mês, eram 96 por dia. De lá para cá, o número foi subindo até chegar a 237 nesta quinta.
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Julio Croda, diz que o crescimento acelerado da transmissão acontece por causa da circulação de novas variantes do vírus, batizadas de BA.4 e BA.5, que driblam a proteção existente contra as outras cepas, e do abandono das medidas que evitam o contágio.
“É uma nova onda, com certeza. A gente já tem um aumento de número de casos, seguido do aumento da nossa média móvel de óbitos. Se configura a quarta onda no Brasil. A gente poderia reduzir o impacto dessa subvariante, principalmente em termos de óbitos, se a gente tivesse as medidas de precaução – principalmente uso de máscara e distanciamento – implementadas”, afirma.
O pesquisador explica que o boletim semanal de internações por síndrome respiratória aguda grave, feito pela Fiocruz, mostra quem são as principais vítimas da Covid agora. Nas faixas de idade que vão dos 5 aos 59 anos, o número de novas internações variaram de 80 a 500 na última semana pesquisada. Dos 60 anos em diante, a curva passa de mil. E entre as crianças com menos de cinco anos, ela sobe até 2.000.
“A gente observa que hospitalizações estão elevadas em crianças, porque não tem vacina. E nos idosos acima de 60 anos. É importante manter, sim, medidas preventivas que evitem a infecção, porque existe um elevado risco de progressão para hospitalização e óbito”, orienta Croda.
Os médicos dão uma segunda razão para o crescimento do número de mortes: a pequena procura pelas doses de reforço. Oito em cada dez brasileiros com 5 anos ou mais completaram o primeiro ciclo da vacinação, mas o reforço é importante. E entre os que já podem receber as doses extras, quase a metade ainda não apareceu nos postos de saúde para fazer isso. Até esta quinta-feira, apenas 53,75% tinham tomado pelo menos uma dose de reforço.
A dona de casa Patrícia Castro foi nesta sexta, em São Paulo. Era para ser no mês passado, mas ela precisou esperar 30 dias porque teve Covid pela segunda vez, e sentiu a diferença que a vacina faz.
“Na primeira não tinha vacina, foi bem no comecinho. Eu passei mal, fiquei com 50% do pulmão comprometido. E, da segunda vez que peguei, agora há pouco tempo, com a vacina, foram sintomas leves como uma gripe”, relembra.
O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, explica por que é preciso tomar a dose de reforço.
“Conforme o tempo passa, você perde proteção e, quando você perde proteção, você fica vulnerável. Cada dose de reforço que você recebe traz você para aquele patamar de proteção. A média é de quatro meses, porque os estudos têm mostrado que, ao redor do quarto mês, você perde aquela proteção máxima da vacina que você recebeu quatro meses antes”, explica.
Ele diz que outras vacinas que precisam de reforço também têm procura menor a cada dose, mas que abrir mão desta proteção contra uma doença tão grave é uma péssima estratégia.
“O que a gente tem visto nesse momento? Pessoas com esquema vacinal completo – ainda que não contenham a transmissão – têm uma dificuldade muito grande de evoluir para formas graves. O que neste balanço, neste momento, é fundamental. Você não morrer de Covid é um grande lucro, porque sem proteção, o risco de morrer de Covid é alto. Esse é o ponto principal”, destaca Jamal.
A roupeira Delvair de Souza pensa assim também, e foi nesta sexta tomar a quarta dose. Por ela e por todo mundo. “É o ônibus que eu tomo todos os dias, não é verdade? Então, são milhares de pessoas que estão sempre andando comigo. Eu estou preocupada com a minha saúde e com as pessoas do meu convívio”.