“Se ela responde ‘ah, nenhuma das duas’. Daí a gente vai encontrar ferramentas para suprir uma necessidade de comunicação. Mas tem que entender que não é a criança testando a gente, não é um cabo de guerra. Com isso, a gente para de educar à base do medo, de ‘o que a odontopediatra vai pensar do meu filho?’, e passa a educar pelo lado do ‘pera lá: deixa eu analisar o que pode ser (a raiz desse comportamento)?’ (…) Na educação tradicional vão achar que ‘a mãe dessa criança é uma trouxa’. Mas na educação democrática é só a gente suprindo necessidades de acordo com o desenvolvimento da criança.”

Cantinhos de calma, e não de punição

Nessa linha, espaços da casa ou da escola podem ser vistos como locais não de punição a um comportamento, mas de regulação emocional em momentos de estresse. Dessa ideia surgiram os “cantinhos da calma”.

“São espaços que ajudam a acalmar, com livros e objetos de conforto (almofadas, brinquedos que possam ser jogados ou apertados)”, explica Lerner.

A proposta é que a criança tope, voluntariamente, se acalmar ali — caso contrário, volta a ser uma medida punitiva.

Mesmo assim, nem sempre dá certo.

“Tudo isso é maravilhoso quando funciona. Porque pode acontecer de a criança se levantar do cantinho do aconchego e correr freneticamente, talvez em condições inseguras, jogando objetos pela casa, arranhando, batendo, cuspindo — coisas que observo diariamente nos meus encontros com famílias”, afirma Lerner.

“É aí que os pais ficam confusos. O que você faz quando seu filho fica tão fora de controle que se torna destrutivo? É hora de repensar. Porque no fim das contas, não temos controle sobre as crianças, apenas controlamos a situação.”

Nesses casos, uma opção limite indicada por Lerner é manter a criança em um local fechado e seguro da casa, até ela se acalmar, enquanto os pais se fazem presentes de um modo calmo.

“Percebi que era tão prejudicial permitir que as criança fosse destrutiva daquele jeito, enquanto os pais imploravam para ela parar de bater, cuspir ou arranhar — mais prejudicial do que apenas dizer ‘entendo, você está muito nervoso porque não vamos ao parquinho, seu corpo está fora de controle, você tem este espaço seguro incrível onde pode bater, chutar, e eu estarei do outro lado da porta’. E sugiro aos pais que cantem ou falem do outro lado para mostrar sua presença. (…) Mas nenhum aspecto disso é punitivo. Para mim fica no limite de dar amor e apoio, calma e corregulação emocional”, defende Lerner.

Outro ponto importante: essas estratégias precisam ser combinadas previamente com as crianças, mas em momentos de calma, e não de raiva — quando o cérebro tem baixa capacidade de processar esse tipo de informação.

“Se os pais não têm um plano em mente, é quando as coisas saem do controle. Porque sem um plano eles se tornam reativos, e a reatividade é o que escalona essas situações”, afirma.

E pais também precisam ter suas necessidades supridas nesse processo todo, defende Nanda Perim.

“‘O que eu preciso nessa relação com a minha criança? Por que eu estou gritando tanto? Quais os meus gatilhos? Quais estressores da minha vida estão me fazendo tão mal e me fazendo ser mais explosivo com a minha criança?’ Se eu entendo a minha criança melhor, e me entendo melhor, é claro que a relação é muito mais gostosa. A criança se sente ouvida, amada, respeitada, e responde a isso”, prossegue.

Perim cita outra pesquisadora do tema, Mona Delahooke. “Ela diz que você não precisa ser uma mãe perfeita para ter um filho incrível. Significa melhor do que os outros filhos? Não. Mas alguém que tenha habilidades de vida, que se conhece, que sabe lidar com suas emoções, seus gatilhos. Ele vai ser perfeito? Não. Mas pode uma pessoa incrível, que busque relações saudáveis, com habilidades de vida que nós não tivemos porque nossos pais não tiveram acesso a essas informações.”