O cancelamento do carnaval de rua do Rio – pelo menos em moldes convencionais – causado pela pandemia de Covid pelo segundo ano consecutivo vai ter impacto na renda de quase 20 mil pessoas só durante os dias de folia. É o que indica um levantamento dos pesquisadores Cristina Couri, do Laboratório de Economia Criativa da ESPM e Gabriel Pinto, do Laboratório de Inteligência Arficicial da UniRio.
Mesmo no resto do ano – sem levar em conta o período de janeiro a março, quando os blocos costumam ter atividades mais intensas – a folia continua gerando renda para cerca de 9 mil pessoas, envolvidos em uma série de atividades como oficinas de percussão, ensaios, rodas de samba, festas, shows corporativos, gravações audiovisuais, formaturas, entre outros.
O cálculo ainda não envolve os ambulantes, uma das principais preocupações dos autores do estudo – pesquisadores ainda buscam fontes para estabelecer a quantidade deles nas ruas.
O estudo foi feito a partir do material do ‘Mapeamento do sistema produtivo criativo do carnaval de rua do Rio de Janeiro’ apresentado por Cristina no I Congresso Ibero-americano Interdisciplinar de Economia Criativa, dados da Riotur e um levantamento da pesquisadora do Observatório das Metrópoles e do Observatório da Justiça Brasileira (FND/UFRJ), Fernanda Amim Sampaio Machado.
Os números indicam ainda que levando em conta o que é gasto com hospedagem e o consumo nos blocos, foliões de blocos movimentam algo em torno de R$ 1 bilhão na economia carioca (veja no fim da reportagem como foram feito os cálculos).
Segundo Gabriel, que é economista, a ideia do levantamento foi trazer o foco do debate em torno da importância do carnaval de rua para as pessoas que sobrevivem dele, abastecendo a discussão com números. “A discussão em torno da realização carnaval é uma discussão que caminha para o lado do poder e as pessoas que mais precisam dele muitas vezes são esquecidas”.
A preocupação com os trabalhadores do carnaval com o cancelamento dos blocos de rua mais um ano também foi expressada pelo presidente do presidente da comissão da Câmara Municipal do Rio que trata da folia, vereador Tarcísio Motta (PSOL).
Além de manifestar preocupação com a “elitização” da festa ao se manter liberados apenas os desfiles do sambódromo e eventos fechados, representantes da Câmara também propuseram, em um texto, que a prefeitura, ligas, associações de escolas blocos e outras agremiações considerem a possibilidade de que o carnaval seja adiado para meados de 2022.
Na opinião deles, com essa medida o impacto “do cancelamento do carnaval sobre os trabalhadores e toda a cadeia produtiva do carnaval pode ser, ao menos, amenizado”.
É cobrado, ainda, que a prefeitura disponha um programa de auxílio para trabalhadores do carnaval: costureiros, artesãos, carnavalescos, dançarinos, camelôs e outros.
Cordão da Bola Preta levou 630 mil foliões ao Centro do Rio, segundo balanço da RioTur, em 2020 — Foto: Fernando Maia/RioTur
O carnaval de rua do Rio foi cancelado com o argumento de que não há como fazer o controle do passaporte de vacina e de testes negativos do público.
Na última segunda-feira, o prefeito Eduardo Paes disse que propôs ao patrocinador do carnaval de rua oficial do Rio e aos blocos a organização de eventos ao longo de fevereiro, de graça, com os principais coletivos, em três lugares da cidade onde pudesse haver controle sanitário, como o Parque Olímpico e o Parque de Madureira.
A proposta não foi bem aceita por alguns representantes de blocos, que alegaram que eles têm uma relação com seus bairros e regiões, entre outras razões. Paes se disse aberto a contrapropostas.
As associações de blocos chegaram a debater alternativas, como o uso de arenas e lonas culturais em bairros para as apresentações, com o objetivo de capilarizar a presença dos blocos na cidade.
A proposta, entretanto, ainda não foi apresentada. Uma reunião que estava marcada para esta sexta-feira (7) foi adiada para semana que vem.
Eventos realizados ao longo do ano por blocos de rua e seus trabalhadores — Foto: CORETO
O cálculo do que é movimentado no estudo de Cristina Couri e Gabriel Pinto foi feito usando o número de blocos oficiais (376) e de foliões (6,8 milhões) do carnaval de 2020, segundo a Prefeitura do Rio.
Segundo os dados de 2021 do Coletivo de Blocos Organizados da Cidade do Rio de Janeiro, dirigido por Curi, em média, 92% dos blocos de carnaval realizam ensaios de bateria ao longo do ano. A metade deles tem oficina de percussão e quase 10% tem oficinas de sopro. Essas diferentes atividades são reflexos do planejamento de atividades que duram quase o ano inteiro e estendem o carnaval do Rio de Janeiro para além da data oficial.
Durante o ano inteiro, em média, cada bloco gera oportunidade de renda diretamente para 24 profissionais, entre músicos, professores, produtores entre outras ocupações.
E esse número cresceu para 29 pessoas durante o carnaval, totalizando 53. Isso significa que no total dos 376 blocos, estima-se um total de 19.928 profissionais empregados diretamente pelos blocos de rua. Desse total, 9.024 profissionais são empregados diretamente durante o ano inteiro. E
Essa estatística não contempla os inúmeros empregos indiretos considerados entre os profissionais que trabalham nas diferentes atividades que sustentam o carnaval, entre produção de fantasias, distribuição de bebidas e os empregos informais, principalmente os ambulantes, personagens cruciais para realização do carnaval.
Os dados de ocupaçao de hotéis e de uma pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles serviram para o levantamento de Curi e Pinto estimar a movimentação econômica de foliões de Rua do Rio no último carnaval.
A pesquisa ouviu 1,5 mil foliões – 15% do total vieram de fora da cidade, enquanto os demais 85% são foliões da própria cidade do Rio de Janeiro.
Desse total de foliões de fora da cidade, enquanto 68,6% não tiveram que gastar em hospedagem por conseguir se hospedar com parentes, entre outras razões, outros, 31,4% gastaram com hospedagem um gasto médio de R$1.156 reais durante o período festivo.
Projetando essa realidade nos quase 7 milhões de foliões de 2020, o total de gastos é R$371 milhões gastos em hospedagem durante o período de carnaval.
A taxa de ocupação hoteleira foi de 93%, aproximadamente 2,3% a mais do que no ano anterior.
Sob a perspectiva dos gastos dos foliões nos blocos, o consumo médio de um folião em um bloco é de R$ 100 no próprio bloco, sendo R$65 em bebida. Considerando o total de foliões do carnaval de rua, isso representa um total de R$ 682 milhões – 80% do consumo é gasto com os ambulantes.
A pesquisa não leva em conta quanto é gasto no comércio com fantasias, adereços e enfeites usados pelos frequentadores de blocos.
Fonte: G1
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