O olhar assustado e a aparência frágil de Thaís dos Santos Rodrigues, presa na terça-feira (14), contrastam com a mulher agitada que aparece nas filmagens que mostraram para o mundo o cruel assassinato do professor Ederson Costa Santos, na madrugada fria do último dia 4. Ela será indiciada como coautora do crime que chocou Marabá.
Para os advogados de Thaís, ela é apenas uma testemunha que está traumatizada por ter presenciado o namorado Felipe Gouveia dar dois tiros na cabeça do professor. Mas o delegado Ivan Pinto da Silva, que prendeu o matador no dia 9, no quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar, em Imperatriz, onde o acusado trabalhava, pensa diferente. Para ele não, resta dúvida de que a participação dela foi decisiva para que o jovem professor, de apenas 29 anos, fosse executado em plena via pública por causa de uma discussão banal de trânsito. “A participação dela é tão gravosa quanto a do Felipe”, resume.
Para a Imprensa, o delegado Ivan Silva explicou que Thaís se entregou na sede da Corregedoria de Polícia Civil no final da manhã de terça-feira, onde foi ouvida por ele, já devidamente acompanhada de dois advogados (que vieram do Piauí) e também de um psicólogo.
Segundo o depoimento de Thaís, o principal motivo para o assassinato teria sido o ar de deboche do professor que se recusava a pagar os danos materiais causados no carro dela, já que – instantes antes do crime – houve uma batida entre o veículo em que estavam Thaís e Felipe e o automóvel dirigido pelo professor, que trabalhava no IFPA Industrial.
Ainda de acordo com o delegado, a acusada contou que Ederson Santos teria mandado o casal procurar seus direitos na Justiça para ver quem iria ganhar, pois não se sentia responsável pela colisão. Thaís alegou também que não entendeu muito bem o que o professor disse pouco antes de ser assassinado, porque ela foi para o carro, mas imagina que deve ter falado algo que mexeu com os brios de Felipe.
Perguntado se os acusados e a vítima tinham ingerido bebida alcoólica naquela noite, o delegado disse apenas que o professor vinha de um bar, mas não poderia afirmar categoricamente que o rapaz tinha bebido. Porém Thaís contou em seu depoimento que o professor se escorou no carro de braços cruzados (como mostra a filmagem) porque mal conseguia se colocar em pé de tão bêbado que estava.
“Segundo ela (Thaís), em momento algum ela instigou Felipe, mas as imagens e outros elementos de prova estão dizendo o contrário”, reafirma o delegado, ao acrescentar que a acusada – embora tenha se apresentado espontaneamente – colaborou apenas em parte, pois não disse ainda o que aconteceu com os pertences do professor (celular e carteira porta-cédulas) que, aparentemente, foram colhidos pelo criminoso logo após ele ser morto.
Anda de acordo com o delegado, por mais que a acusada negue que tenha inflamado os ânimos do namorado, ela confirmou, no depoimento, que realmente insistiu na cobrança do dano. Para o delegado, essa insistência levou Felipe a efetuar os disparos. Na visão dele, dificilmente ela agiria de forma tão veemente se não estivesse acompanhada por um policial armado.
“AÇÃO ESTÚPIDA”
“O que dá para se colher pelos autos é que foi uma ação estúpida. Felipe, apesar do treinamento que tem de policial, não conseguiu conter os seus ânimos”. A afirmação é do delegado Ivan, ao dar sua impressão sobre o que aconteceu naquela madrugada.
Segundo ele, o acusado Felipe Gouveia teve duas oportunidades de falar; primeiro em Imperatriz, mas disse que só falaria na presença de um advogado; depois, no dia seguinte, já em Marabá, onde, mesmo estando acompanhado de um advogado, também se recusou a falar nos autos, alegando que somente se pronunciaria em juízo. Porém, agora, parece que ele resolveu se abrir.
Diante dessa novidade, o delegado Ivan informou que deve mandar uma carta precatória para que Felipe Gouveia seja ouvido no Centro de Recuperação Anastácio das Neves (Crecan), em Santa Izabel, por outro delegado, já que a logística para trazê-lo a Marabá seria muito complicada.
Na manhã desta quarta-feira, dia 15, Thais foi encaminhada para o Centro Recuperação Feminino de Marabá (CRFM), onde permanecerá à disposição da Justiça, uma vez que está presa por força de mandado de prisão preventiva.
ADVOGADOS FALAM EM TRAUMA
Ouvidos pela Imprensa de Marabá, os advogados Cleumar Queiroz e Manoel de Oliveira, que vieram do Piauí para defender Thaís e possivelmente também defenderão Felipe, disse que pouco podem comentar sobre o caso, já que as investigações são sigilosas.
Segundo informaram, embora as investigações caminhassem no sentido de que Thaís seria coautora do assassinato, os fatos apurados revelam que ela não teve qualquer responsabilidade na morte da vítima. Na realidade, para a defesa, Thaís foi uma mera testemunha do homicídio.
“Ela presenciou um fato traumatizante que causou a ela uma perturbação psicológica, que motivou ela a esperar um determinado tempo para se apresentar espontaneamente e prestar todas as informações”, afirma Cleumar Queiroz, acrescentando que oportunamente tudo será devidamente esclarecido. (Chagas Filho)
Fonte: Correio de Carajás
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