Ao ser questionado sobre a contratação da Gurizada Fandangueira, Elissandro diz que não sabia que a banda usava artefatos pirotécnicos em shows.
“Eu não vi eles fazerem esse negócio, inclusive não vi ninguém fazer. Ninguém me falou também se fizeram”, disse. “É possível que nesse palco novo com as espumas tenha sido a primeira vez”, acrescentou.
O proprietário recordou como foi o dia da tragédia. Elissandro chegou na Kiss depois da 1h40. Um pouco depois, deixou a casa para levar um cliente que estaria embriagado para a rua. Quando retornou, viu o desespero das pessoas correndo na direção contrária.
Na sequência, Elissandro diz que o tumulto aumentou. Ele acreditava que, com a chegada dos bombeiros, a situação melhoraria, mas a percepção de que a proporção do incêndio era maior fez com que tentasse fazer aberturas com as mãos nas paredes.
“Não posso precisar quanto tempo, mas fiquei até a Vanessa chegar. Ela veio com os braços abertos, pensei que ia dar um abraço, e ela me deu um tapa. ‘Kiko, Kiko, e a minha irmã?’. Alguém me botou para dentro de um carro, ia me levar para dentro de casa e eu disse para me levar para a delegacia. Me apresentei e disse: ‘tá pegando fogo na boate, tá morrendo gente’. Apavorado, sem camisa”, descreveu, aos prantos.
O magistrado, na volta do interrogatório, perguntou sobre os processos movidos pela defesa de Elissandro. Ela elencou ações movidas contra o promotor Ricardo Lozza, ex-prefeito Cezar Schirmer, bombeiros e músicos. “A gente processou porque tinha entendimento de que tinham que vir aqui para me ajudar a explicar”, respondeu.
Faccini, então, rebate que as vítimas morreram, segundo a denúncia do Ministério Público, asfixiadas pela queima da espuma tóxica, e que as respostas de Elissandro concernem ao alvará e outras questões administrativas. O juiz ainda questiona por que ele não exprimiu o pesar às famílias ao longo dos últimos oito anos. “Não existe o que falar, não tem uma explicação que consiga dar. Fiquei como culpado. Vou falar o quê?”, diz.
“O extintor não funcionou. Por quê? Deus sabe! Eu queria que tivesse funcionado”, sublinhou.
O que disseram os sobreviventes
- Kátia: ‘comecei a gritar que não queria morrer’, diz ex-funcionária que teve corpo queimado
- Kelen: ‘última vez que corri foi para tentar me salvar’, diz sobrevivente que teve perna amputada
- Emanuel: ‘não soou alarme’, conta sobrevivente especialista em prevenção de incêndio
- Jéssica: ‘vi quando pegou a faísca’, conta sobrevivente que perdeu irmão
- Lucas: ‘eu desmaiei, fui muito pisoteado’, diz DJ da boate
- Érico: ‘ajudei até o final’, conta barman que ajudou no socorro às vítimas
- Maike: ‘parecia que estava respirando fogo’
- Cristiane: ‘aquilo era um filme de terror’
- Delvani: ‘fui caindo e me despedindo da minha família’
- Doralina: ‘lembro de muito grito, muita confusão’, diz ex-segurança
- Willian Renato: ‘Ele queria voltar’, diz sobrinho sobre Elissandro Spohr
- Nathália: ‘fiquei preocupada com a gravidez’, relata esposa de Elissandro sobre incêndio