Em meio à preocupação com o aumento da disseminação da variante delta do novo coronavírus, a aplicação diária de doses adicionais das vacinas já supera, após um mês, a de primeiras doses no estado de São Paulo. Aplicação de segundas doses, porém, é a predominante, embora tenha desacelerado nas últimas semanas.
Os dados que indicam aceleração do reforço e desaceleração das outras duas doses foram obtidos da plataforma Vacivida do governo estadual e compilados pelo Info Tracker (plataforma criada pelas universidades USP e Unesp para monitorar a pandemia) e repassados ao UOL. Especialistas envolvidos no estudo recomendam manter em aceleração as três etapas de imunização. O governo alega que a análise dos dados é incorreta.
Até o último dia 8 de outubro, o estado aplicou uma média de 84.420 doses de reforço na população em sete dias, contra 32.517 de primeiras doses. Já as segundas doses possuem uma média de 212.537 aplicações em uma semana.
No último dia 6 de outubro, o estado comemorou o recorde de aplicações de doses de reforço ocorrido um dia antes. Segundo os dados do Vacivida, foram aplicadas naquele dia 151.831 doses adicionais. A cerimônia de comemoração da marca contou com a participação da enfermeira Mônica Calazans, a primeira pessoa imunizada contra a covid-19 no Brasil.
As doses de reforço começaram a ser aplicadas no dia 6 de setembro no estado para todos os idosos acima de 90 anos. No dia 4 de outubro, o estado passou a aplicar as doses também para profissionais de saúde e idosos acima de 60 anos. Pessoas imunossuprimidas também têm direito ao imunizante.
Com a inclusão dos profissionais de saúde no grupo, as aplicações saltaram mais de 100% na comparação com a semana anterior. Até o dia 8 de outubro o aumento era de 180%. Enquanto isso, as aplicações de primeiras e segundas doses caíram 24% e 19% respectivamente na comparação com o mesmo período.
Ao UOL, o governo paulista argumenta que não é correto analisar a média móvel de vacinação, pois “diversos critérios devem ser levados em conta, como o cronograma da campanha em andamento, a quantidade de população prevista para cada etapa do calendário e intervalo entre as doses dos diferentes imunizantes disponibilizados para a estratégia”.
E acrescenta: “O Info Tracker deveria considerar estes elementos em suas análises, ao invés de estimular uma avaliação incoerente do ponto de vista técnico”. Confira a nota na íntegra ao final do texto.
A média móvel de sete dias, porém, corrige as flutuações diárias de aplicações, que podem ser muito altas em alguns dias —em mutirões ou início de um determinado grupo— e menor em outros, como fins de semanas e feriados. O cálculo de sete dias apenas normaliza o número médio de aplicações naquela semana.
“Quando a gente quer observar tendência, a gente vai para as médias móveis porque, às vezes, têm variações diárias pontuais que não se sustentam nos próximos dias”, explica Wallace Casaca, coordenador do Info Tracker e professor da Unesp. “Já a média móvel num intervalo de sete dias, se está aumentando ou caindo, se sustenta porque são sete dias ocorrendo aquilo”.
A queda no ritmo de primeira dose em parte se explica pela aproximação do fim dos grupos elegíveis para imunização no país. No entanto, a queda é brusca a partir de meados de agosto, mesmo com o início de um novo grupo a ser imunizado – o de adolescentes com comorbidades ou grávidas.
Atualmente, estão recebendo a primeira dose os adolescentes de 12 a 17 anos, um público composto por 3,2 milhões de pessoas no estado. Casaca explica que, embora o grupo dos adolescentes não seja maior que dos adultos, todo início de grupo novo causa aumento nas aplicações, e não diminuição.
“Em termos de faixa etária, as pessoas com 17 anos ou menos respondem hoje por 25% da população do país. Levando em consideração que não estamos vacinando as crianças, ainda assim não é um grupo tão pequeno. Ainda mais porque foram poucos dias de vacinação”.
O estado anunciou a imunização de adolescentes a partir de 23 de agosto, priorizando as grávidas até 5 de setembro. A partir desta data, os demais jovens passaram a receber o imunizante da Pfizer —único aprovado para menores de idade—, justamente quando há um pequeno aumento na curva de aplicações, vindo a cair novamente logo em seguida.
Atualmente o estado de São Paulo tem quase 70% de sua população com ao menos uma dose —sendo que a população adulta do estado corresponde a 77%.
No entanto, também houve queda no ritmo de aplicações de segundas doses, em um cenário no qual especialistas recomendam a aceleração da imunização completa frente à disseminação da variante delta.
O estado de São Paulo, porém, diz que é “inadequado” falar em queda na aplicação da segunda dose “uma vez que os três imunizantes que preveem esquema vacinal com duas doses têm intervalos diferentes entre a primeira e a segunda, aplicada em tempo oportuno para cada imunobiológico.”
Além disso, o estado tem 3,9 milhões de pessoas com suas segundas doses atrasadas. Esse número cresceu depois que houve o adiantamento da Pfizer, que impactou 1,69 milhão de pessoas. Outras 1,16 milhão também estão com a segunda dose da AstraZeneca atrasada e outras 963 mil a CoronaVac.
Tanto o adiantamento da segunda da Pfizer quanto a aplicação das doses adicionais têm como motivador a variante delta, que é 70% mais transmissível que a cepa original do vírus. Por terem o sistema imunológico mais comprometido, idosos e imunossuprimidos acabam sendo os mais vulneráveis à cepa —junto com as crianças não vacinadas—, tornando uma nova dose essencial nestes grupos.
Isso abriu um alerta: se não vacinarmos idosos, vai começar a morrer mais gente de novo. Então isso foi um jeito de mitigar os óbitos nessa categoria que é a que está mais exposta com a delta”.Wallace Casaca, coordenador do Info Tracker e professor da Unesp
Outros países com grande circulação da delta, como Estados Unidos e Israel, também adotaram a dose adicional como forma de conter o aumento de seus números. A variante ainda não é predominante no Brasil, mas já é em São Paulo, onde corresponde a mais de 50% das amostras analisadas pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) em setembro.
Por problemas na divulgação dos dados da pandemia no país, está difícil analisar até o momento o impacto da delta nos números de casos, internações e óbitos. Porém, analistas de dados já alertam que há uma tendência de aumento, pelo menos nos casos, em todo o país —em especial São Paulo e Rio de Janeiro.
Em internados, o próprio Info Tracker já observa uma tendência de aumento nas hospitalizações de idosos. No início da pandemia, eles foram os mais impactados. Com a piora da segunda onda e o avanço da vacinação entre esse grupo, os mais jovens passaram a ser os mais acometidos pela forma grave da doença. Agora, porém, os idosos retornam aos hospitais.
Mas este aumento de infecções, que a delta causou em todos os países onde se tornou predominante, não necessariamente pode levar a aumento nos óbitos, justamente pelo avanço da vacinação, explica Wallace Casaca.
Ainda assim, especialistas alertam que o correto não é priorizar uma vacinação em detrimento de outra —como a dose de reforço em detrimento dos adolescentes. O correto é acelerar as duas imunizações o suficiente para atingir a imunidade coletiva de 70% a 80% de vacinados com duas doses.
“A gente tem que ter um plano de imunização capaz de atender os dois públicos”, afirma Bernadete Perez, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
“Em um cenário de falta de vacina, em que precisaria escolher, eu diria que deveriam ir primeiro, de fato, os idosos e imunossuprimidos. Mas ao mesmo tempo em que se vai garantindo a progressão da vacinação de crianças e adolescentes com duas doses”, completa.
Conforme já explicado à reportagem, não é correto observar a média móvel de vacinação contra Covid-19, pois diversos critérios devem ser levados em conta, como o cronograma da campanha em andamento, a quantidade de população prevista para cada etapa do calendário e intervalo entre as doses dos diferentes imunizantes disponibilizados para a estratégia. O Infotracker deveria considerar estes elementos em suas análises, ao invés de estimular uma avaliação incoerente do ponto de vista técnico.
Justamente por isso, também é inadequado falar em “queda da aplicação” da segunda dose, uma vez que os três imunizantes que preveem esquema vacinal com duas doses têm intervalos diferentes entre a primeira e a segunda, aplicada em tempo oportuno para cada imunobiológico. A saber: 28 dias para Coronavac; 12 semanas para Astrazeneca; e 8 semanas para Pfizer, conforme redução de intervalo anunciada no final de setembro pelo Governo do Estado (antes disso, o período era de 12 semanas).
Além disso, como é de conhecimento do UOL e amplamente noticiado, há 3,8 milhões de faltosos da 2ª dose da vacina contra a COVID-19, sendo inclusive fundamental que estas pessoas procurem os postos de vacinação para completar o esquema vacinal.
Vale lembrar que o Governo de São Paulo desde o ano passado lutou pela disponibilidade de vacinas para todo o Brasil, enquanto lideranças federais preferiam desqualificar imunizantes ou minimizar o severo impacto do novo coronavírus nas vidas e famílias brasileiras. O Plano Estadual de Imunização (PEI) tem trabalhado desde o início da campanha para imunizar o maior número de pessoas que são elegíveis para receber o imunizante e trabalha nas estratégias de cada etapa.
Resultado deste trabalho é que o estado alcançou a marca de 99% das pessoas acima de 18 anos com a primeira dose e quase 80% dessas pessoas já estão com o esquema vacinal completo. Diante de todo esse avanço da imunização e por já ter contemplados todos os públicos estabelecidos no Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, o estado está aplicando a dose adicional para reforço na proteção dos já imunizados, contemplando, neste momento, os idosos (60 anos ou mais), imunossuprimidos (18 anos ou mais) e profissionais da saúde. Mais de 1 milhão de pessoas já receberam a terceira dose no Estado de SP.
Fonte: uol.com.br
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