O Pará tem 12 hospitais da rede pública estadual que só têm estoques para mais 15 dias para uso de remédios fundamentais para intubações em casos graves de covid-19. A problemática foi tratada em reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, nesta quarta-feira (17). O cenário faz parte de uma crise nacional de fornecimento desses insumos e medicamentos, por causa do crescimento acelerado da pandemia no Brasil.
Em Belém, capital paraense, que conta com rede própria de hospitais (e não são os mesmos do governo do estado), também ainda há estoque de reserva de medicamentos garantido somente para os próximos 15 dias. Há uma semana, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), fez solicitação da compra de 2.680 drogas, com contrato regular e concluído.
Porém, a empresa, que tem sede em São Paulo com representação em Belém, ainda não apresentou a data de entrega – o que em tempos fora da pandemia levava, pelo menos, quatro dias. Segundo explica o secretário de Saúde da cidade, o médico Maurício Bezerra, a situação
não acontece somente com Belém, mas como todos os hospitais do Brasil, já que existe fila de espera devido à pandemia da covid-19.
“Temos duas a três drogas que são relaxantes musculares usadas à intubação de pacientes em UTI. Temos um estoque de reserva, que não é grande, e estamos com processo licitatório concluído para a compra e já fizemos aquisição de 2.680 frascos desses medicamentos junto à empresa fornecedora, de São Paulo, para abastecimento de três meses de atendimentos aos pacientes de UTI. Mas estamos também na fila de espera, assim como todos os hospitais do País que têm suporte de terapia intensiva e precisam desses mesmos medicamentos. A empresa tem limitação de fabricação, pois estamos numa situação gravíssima de pandemia. Esperamos que ao longo da próxima semana a gente consiga receber esses medicamentos, porque a situação vai ficar perigosa”, esclarece.
Bezerra explica que as medicações são imprescindíveis para dar condições de intubação aos pacientes de covid-19 internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Caso não haja os produtos, o paciente pode chegar à morte, pois está com o pulmão comprometido e não consegue respirar sozinho sem o auxílio de aparelhos. Alguns dos relaxantes musculares e sedativos utilizados são Rocoronho, Pancurónio, Atracúrio, Fentanil, Mitazolam e Propofol.
“São medicações que trabalham o nível de consciência do paciente e o relaxamento muscular necessário para poder dar condições de intubação. Quando não tem os medicamentos, os anestesistas usam misturas de outros produtos, mas as dificuldades técnicas são maiores para intubar os pacientes, porque elas não retiram o nível de consciência totalmente do paciente, que fica reagindo ao aparelho, pois a presença do tubo incomoda um pouco o paciente. Então, o nível de aprofundamento dessa sedação não é o mesmo que os medicamentos habituais”, enfatiza.
Se não tiver essas medicações, o paciente pode chegar a óbito, porque ele precisa ser intubado, já que está com o pulmão comprometido e pouca capacidade de respirar. “Se não auxiliar a respiração dele, por meio do tubo dentro do pulmão jogando ar lá pra dentro e respirando por ele, ele não tem capacidade de fazer isso, já que o pulmão está comprometido, a pessoa morre. Esses medicamentos são absolutamente imprescindíveis para manter o paciente intubado e vivo”, ressalta o secretário.
Atualmente, em Belém, existem 22 pacientes com covid-19 na fila de espera para leitos de UTI. Na cidade, sob administração da Prefeitura de Belém, os leitos de UTI estão 100% ocupados. Os pacientes aguardam pelos leitos estando em unidades de atendimento sob ventilação assistida e recebendo oxigenoterapia.
Hoje o giro de leito na UTI é maior hoje e varia de dez a 15 dias, tendo 60% deles ocupados por pessoas mais jovens, de 25 a 45 anos. Antes o tempo de permanência no leito de UTI era menor, porque os pacientes, geralmente, eram mais idosos e tinham menos condições de reagir à agressão da doença.
“Mas hoje não, porque a maioria é mais jovem e a condição de reação é maior, por mais tempo. Quando não melhora, demora mais para morrer, permanecendo, assim, mais tempo no leito de UTI. Então, demora mais tempo a disponibilidade de leitos de UTI. Em média, no Brasil, o nível de mortalidade em UTI varia de 70% a 80%”, alerta Bezerra.
Para ele, a única medida capaz de controlar, de fato, a pandemia é a vacinação em massa da população. “Exatamente isso a gente ainda não tem pela falta de competência operacional do governo federal”, critica o titular da Sesma.
Os leitos de UTI próprios da prefeitura estão no Hospital do Pronto Socorro Municipal (PMS) do Guamá (25 leitos) e no PSM do Umarizal (10 leitos).
Existem ainda os leitos de UTI contratados pela prefeitura no Hospital Dom Vicente Zico (14 leitos), no Marco. Além disso, a partir deste final de semana, está previsto funcionamento de nove leitos de UTI no Hospital Redentor, no Umarizal, mantidos com insumos comprados pela prefeitura, que garante ainda todos os custos operacionais, já que o hospital está sob intervenção administrativa.
Existem ainda cinco leitos de UTI no Hospital Universitário João de Barros Barreto da Universidade Federal do Pará, no Guamá, e dez leitos de UTI no Hospital da Beneficente Portuguesa, no Umarizal. A aquisição de medicamentos é feita por esses hospitais.
Em nota, o Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa) informou que enviou solicitação de informações à Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) sobre a situação de abastecimento de medicamentos no Estado.
Ainda segundo o sindicato, a Sespa respondeu que, “em apoio às unidades de saúde estaduais, já iniciou a aquisição de mais de 600 mil medicamentos relacionados a procedimentos de intubação, previstos para chegar nos próximos dias”. O Sindmepa reafirmou o compromisso de “zelar por uma saúde de qualidade e transparência nas informações fornecidas pelos entes públicos”.
A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) ainda não se manifestou sobre o assunto.
Fonte: oliberal.com.br
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