Cem anos após a ascensão de Benito Mussolini ao poder, a Itália está prestes a eleger a primeira mulher como chefe de governo, com raízes no fascismo. Líder do partido de extrema direita Irmãos de Itália, a deputada Giorgia Meloni reverbera o nacionalismo e a xenofobia de uma era traumática para o país e encanta eleitores, desiludidos com a política.
Carismática, aos 45 anos, ela tenta suavizar a imagem do partido e dar um verniz respeitável a ele. Define-se como “donna, madre e cristiana” (mulher, mãe e cristã), alardeia o lema “Deus, pátria e família”. Admiradora do Duce (“ele fez muito pelo país”), diz agora ter uma relação serena com o fascismo. Afastou do partido integrantes radicais e procura relegar os seus laços ao passado.
Não hesita, porém, em reafirmar sua agenda conservadora, contra os direitos LGBT, o aborto e a imigração. A candidata transmitiu, em suas redes sociais, um vídeo que mostrava uma mulher supostamente ucraniana sendo estuprada por um africano, segundo ela, requerente de asilo, para mostrar a falta de segurança no país. Seus críticos a acusaram de imprimir um tom indecente e vulgar à campanha e, diante da polêmica, o vídeo acabou sendo removido do Twitter e do Instagram.
Meloni se tornou popular ao esculachar a esquerda e é favorita nas eleições deste domingo. O partido obteve 4% dos votos há quatro anos e agora é o favorito, com 25% das preferências dos eleitores. Tem chances de conquistar a maioria no Parlamento, como líder de uma coalizão formada com a ultradireitista Liga, de Matteo Salvini, e a conservadora cristã Força Itália, de Silvio Berlusconi.
A convivência entre os três não será fácil. Apesar das bandeiras em comum, há divergências. A guerra russa na Ucrânia, por exemplo, afasta os possíveis parceiros de governo. Meloni é favorável à OTAN, à Ucrânia e às sanções contra a Rússia; Salvini e Berlusconi, fiéis a Putin.
A líder do Irmãos da Itália também preside os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), que reúne legendas direitistas no continente. Ela tem no primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, expoente da ultradireita, uma fonte de inspiração e um aliado na União Europeia.
Protestou quando, recentemente, a Hungria foi tachada pelo Parlamento Europeu como um regime híbrido, de autocracia eleitoral, e não mais uma democracia plena. “Não entendo o porquê dessa fúria. Não acho que seja inteligente a UE dividir sua frente interna no meio de uma guerra.”
Eurocética de carteirinha, ela abrandou suas posições em relação a Bruxelas. Na esteira do peso de uma dívida pública estimada em 150% do PIB e do receio de perder os fundos de recuperação anti-Covid, seu partido inverteu a oposição ao euro e prometeu uma total adesão à integração europeia, conforme um acordo firmado com os outros dois prováveis parceiros de coalizão.
Em vez da saída, Meloni agora é defensora da reforma da UE para torná-la menos burocrática e com menos influência na política doméstica. A candidata mostrou ser camaleoa para exibir a sua face mais conciliadora, que desagrada aos radicais, mas, em contrapartida, tranquiliza os investidores e seduz os moderados.
Fonte: g1.globo.com
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