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Hamas, Jihad Islâmica e Hezbollah: o que querem, qual a força, onde e como agem os grupos armados islâmicos no Oriente Médio

Israel acusa a Jihad Palestina Islâmica de ser responsável pela explosão em hospital na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, fala em mais de 400 mortos. Os dois grupos são financiados pelo Irã, que alimenta ainda o Hezbollah.

A explosão de um hospital na Faixa de Gaza nesta terça-feira (17), que deixou ao menos 400 mortos, trouxe novamente o grupo armado extremista Jihad Islâmica Palestina ao noticiário da guerra entre a organização terrorista Hamas e Israel.

Logo após o episódio, o Hamas, que desde 2007 controla a Faixa de Gaza, disse que Israel promoveu um ataque contra o hospital Ahli Arab, que fica na cidade de Gaza.

No entanto, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) alegaram que a explosão foi causada por um foguete lançado pela Jihad Islâmica, organização terrorista ligada ao Hamas. Segundo essa versão, o alvo original do disparo seria o território israelense, mas o artefato acabou atingindo o hospital.

A Jihad Islâmica, por sua vez, negou ser responsável pelo ocorrido, dizendo não ter ocorrido nenhuma atividade na Cidade de Gaza, ou ao redor dela, no momento da explosão.

Já nesta quarta-feira (18), uma análise preliminar feita por membros da inteligência dos Estados Unidos indicou que a explosão teria sido causada por um foguete lançado por um grupo palestino que não teve o nome especificado.

Os mais recentes conflitos na região começaram em 7 de outubro, quando o Hamas disparou foguetes contra Israel, a partir da Faixa de Gaza. Por terra, ar e mar, homens armados invadiram o território israelense, matando e sequestrando pessoas. A Jihad afirmou que recebeu parte desses reféns.

Tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica são financiados pelo Irã, que também alimenta com armas e dinheiro o Hezbollah, grupo político e paramilitar islâmico com sede no Líbano e que também se envolveu no conflito com Israel.

Veja, abaixo, como e onde atuam, o que querem e qual a força destes três grupos armados:

Hamas

Jihad Islâmica Palestina

Hezbollah

Hamas

Onde atua:

Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ambos territórios palestinos.
Mas tem líderes espalhados por outros países, como Líbano e Catar.
O que quer:

Na língua árabe, Hamas é um acrônimo para “Movimento de Resistência Islâmica”.
Nasceu em 1987, após o início da primeira intifada palestina contra a ocupação israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

É considerado terrorista por Estados Unidos, Israel, União Europeia e Reino Unido, entre outros.
O estatuto do grupo terrorista, de 1988, definiu a Palestina histórica, incluindo a atual Israel, como terra islâmica e excluiu qualquer possibilidade de paz permanente com o Estado judeu. No documento, o Hamas clamou pela destruição de Israel.

Em 2017, o grupo atualizou o estatuto, aceitando formalmente a criação de um Estado palestino provisório na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Também afirmou que sua luta não é contra o povo judeu, apenas contra os “agressores sionistas de ocupação” – mas continuou sem reconhecer Israel.

O novo documento também insistiu que o Hamas não é uma força revolucionária que busca intervir em outros países.

Naquele ano, o líder do braço político do grupo afirmou: “O Hamas advoga pela libertação de toda a Palestina, mas está pronto para apoiar o Estado de acordo com as fronteiras de 1967, sem reconhecer Israel ou ceder quaisquer direitos”.

Na ocasião, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu afirmou que o Hamas estava tentando “enganar o mundo”.

O Hamas possui um braço armado, mas também um braço político, que, em 2006, venceu as eleições legislativas na Palestina, derrotando o Fatah. Representado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANL), Mahmoud Abbas, o Fatah é maior grupo da Organização para a Libertação Palestina (OLP).

No ano seguinte, o Hamas expulsou o Fatah da Faixa de Gaza, tomando controle político e administrativo do território, o que levou Israel a impor um bloqueio que permanece ativo até hoje.

O braço político e administrativo do Hamas inclui professores, médicos e urbanistas. O grupo implementou e geriu várias escolas e clínicas, controlando, por exemplo, todo o sistema de saúde e educação de Gaza.

O Hamas se firmou como principal grupo palestino contrário aos Acordos de Oslo, negociados de 1993 a 1995 entre Israel e a OLP. Após os acordos, o Hamas realizou atentados suicidas, matando civis israelenses.

Depois do fracasso de uma cúpula patrocinada pelo presidente americano Bill Clinton, em 2000, e da segunda intifada que ocorreu na sequência, o Hamas continuou realizando atentados suicidas e ganhou poder e influência, enquanto Israel reprimia a Autoridade Palestina, também acusada de patrocinar ataques, conforme a BBC.

Em março e abril de 2004, o líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, e seu sucessor, Abdul Aziz al-Rantissi, foram mortos em ataques com mísseis israelenses em Gaza.

Qual a força e como age:

É o maior grupo armado na Palestina.

Em 2008, os foguetes do Hamas tinham um alcance máximo de 40 km. Em 2021, o alcance chegou a 230 km, segundo afirmou Ali Baraka, um líder sênior do Hamas, que fica baseado em Londres, à agência de notícias Reuters.
O Exército israelense diz que mais de mil foguetes foram disparados contra o país em três dias de conflito em 2021 – 90% deles interceptados pelo sistema antimísseis Domo de Ferro.

Nos anos 1990, o Hamas tinha menos de 10 mil combatentes. Hoje, seriam 40 mil, segundo uma fonte próxima ao grupo afirmou à Reuters. O número total, no entanto, não é conhecido.

O Hamas desenvolveu uma rede de túneis sob Gaza para facilitar fugas e a importação de armas vindas do exterior.

O grupo também conseguiu, ao longo dos últimos anos, adquirir bombas, foguetes, morteiros, mísseis antitanque e mísseis antiaéreos.

Segundo informações da BBC, o Hamas opera atualmente uma variedade de mísseis de longo alcance, como o M-75 (que avança até 75 km), o Fajr (até 100 km) e o R-160 (até 120 km). Também conta com alguns M-302s, que chegam ainda mais longe (até 200 km).

Os foguetes de curto alcance são fabricados pelo grupo em Gaza. Mas, segundo o que afirmou um dos líderes à Al Jazeera no ano passado, os foguetes de longo alcance vêm do Irã, da Síria e pelo Egito.

Ainda segundo essa liderança, o grupo recebeu US$ 70 milhões em ajuda militar do Irã – o país já admitiu que ajuda a financiar e a treinar o grupo, mas nega envolvimento no ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel.
Segundo uma fonte da área de segurança de Israel, no último ano o Irã aumentou o financiamento do braço armado do Hamas de US$ 100 milhões para cerca de US$ 350 milhões anuais.

Além de receber armas de fora, o Hamas fabrica os próprios armamentos, usando para isso, inclusive, parte da infraestrutura destruída por ataques anteriores de Israel (chapas e tubos metálicos, estrutura elétrica), além de reciclagem de munições israelenses que não explodiram, de acordo com o palestino naturalizado americano Ahmed Fouad Alkhatib, em artigo para o Washington Institute.

No ataque de 7 de outubro, o Hamas disparou mais de 2,5 mil foguetes. Combatentes em parapentes, motocicletas e veículos de quatro rodas invadiram Israel, destruindo comunidades, matando 1,3 mil pessoas e levando dezenas como reféns.

Jihad Islâmica Palestina

Onde atua:

Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ambos territórios palestinos.

Possui escritórios em Beirute e Damasco, no Líbano, segundo a Reuters.

De acordo com o governo americano, também possui escritórios em Teerã, no Irã.

O que quer:

Aliado ocasional do Hamas, participou do ataque a Israel em 7 de outubro de 2023, recebendo reféns feitos pelo grupo terrorista.

É acusado por Israel de ser responsável pela recente explosão de um hospital na Cidade de Gaza, o que o grupo nega.

Foi fundado no início dos anos 1980 por Fathi Shiqaqi para libertar a Palestina e combater a ocupação israelense por meio da luta armada.

Shiqaqi, anteriormente envolvido com a Irmandade Muçulmana, uma organização islamita fundada no Egito, foi assassinado em Malta, em 1995.

O grupo, de início, era formado principalmente por intelectuais e estudantes universitários e, ao longo dos primeiros anos, se transformou em um movimento armado organizado.

A Jihad Islâmica Palestina almeja a libertação de toda a Palestina histórica, ou seja, não reconhece Israel e é contra a solução de dois Estados na região.

Segundo estudos mencionados no livro “A history of Palestinian Islamic Jihad: Faith, awareness, and revolution in the Middle East”, a Jihad Islâmica, diferentemente do Hamas, surgiu como um “movimento revolucionário, pequeno e contra o establishment” e se diferencia por seu “vanguardismo revolucionário por meio do qual não deseja se tornar um movimento popular de massa mais amplo”.

É considerado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Nos anos 1990 e 2000, também realizou atentados à bomba suicidas contra Israel.
O grupo é contra qualquer engajamento político com Israel.

Diferentemente do Hamas, não participa da política local e não concorre em eleições.

Qual a força e como atua:

Segundo maior grupo armado na Faixa de Gaza e o terceiro maior nos territórios ocupados.

Apesar de já ter realizado ataques em conjunto com o Hamas, o grupo também opera de forma independente e se concentra, principalmente, em confrontos militares contra Israel.

Em 2017, por exemplo, o Hamas e a Jihad Islâmica afirmaram ser responsáveis por foguetes e morteiros disparados contra Israel.

Existem poucas estimativas sobre o tamanho do grupo. Segundo a Reuters, estimativas de 2021 vão de cerca de mil a vários milhares de combatentes, conforme o CIA’s World Factbook.

Também há pouca informação sobre o arsenal do grupo. De acordo com a Reuters, a Jihad Islâmica possui uma quantidade significativa de foguetes, morteiros e mísseis antitanque.

Também recebe financiamento do Irã.

Hezbollah

Onde atua:

Líbano.

Também atuou na Guerra civil da Síria.

Afirma estar acompanhando o conflito entre Israel e Hamas.

O que quer:

Foi fundado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982, em meio à guerra civil do Líbano, para lutar contra forças israelenses, que haviam invadido o país.

O nome Hezbollah significa “Partido de Alá”. É um grupo de orientação muçulmana xiita.

Além de um grupo armado, o Hezbollah tem participação na política, com parlamentares, atuando como um partido político no Líbano, onde é denominado como “um Estado dentro de um Estado”, devido a sua ampla rede de forças políticas, militares e de serviços sociais. Tem apoio de grande parte da população xiita no país.

O grupo manteve suas armas depois do fim da guerra civil no Líbano para continuar lutando contra forças israelenses que ocupavam partes do sul do país. Anos de conflito levaram Israel a se retirar unilateralmente em 2000.

Tem como objetivo a “expulsão definitiva dos americanos, franceses e seus aliados do Líbano, pondo fim a qualquer entidade colonial”.

No manifesto publicado após sua formação, o Hezbollah diz ainda que tem como objetivo que “todos os filhos do nosso povo possam determinar seu futuro e escolher com toda liberdade a forma de governo que desejam” e sugere que a opção seja um governo islâmico. “Apenas um regime islâmico pode parar quaisquer novas tentativas de infiltração imperialista no nosso país”, diz o documento.

É considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel. A União Europeia classifica o braço armado do grupo como terrorista, mas não o braço político.

Qual a força e como age:

Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank americano, o Hezbollah é o ator não estatal mais fortemente armado do mundo, com um arsenal grande e diverso de foguetes, além de mísseis balísticos, antiaéreos, antitanques e mísseis de cruzeiro.

O grupo afirma que tem capacidade para atingir, com foguetes, todas as áreas de Israel.

Segundo informações do site Politico, alguns mísseis guiados do grupo são capazes de transportar ogivas de 500 kg por uma distância de 300 km. O Hezbollah possui, ainda, sistemas de defesa aérea e uma frota de drones de reconhecimento e combate.

Ainda de acordo com o CSIS, a maior parte do arsenal é composta por foguetes de artilharia não guiados. O grupo teria capacidade de 130 mil lançamentos.

Em 2021, o líder do Hezbollah Sayyed Hassan Nasrallah disse que o grupo tinha cerca de 100 mil combatentes.
À Al Jazeera, um especialista do Atlantic Council, outro think tank americano, estimou em 60 mil o número de combatentes. Entre eles, há uma unidade de elite foi treinada para infiltrar Israel no caso de uma guerra.

A capacidade militar do Hezbollah ficou evidente em 2006, quando o grupo sequestrou dois soldados
israelenses, desencadeando uma guerra de cinco semanas contra Israel, que deixou 1,2 mil mortos no Líbano, a maioria de civis, e 158 mortos israelenses, a maioria militares.

Em 2012, o grupo apoiou Bashar al-Assad na guerra civil na Síria.

Fonte: www.g1.globo.com



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