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Mãe relata violência obstétrica: ‘enfrentei peregrinação até conseguir ser internada, e ouvi uma série de piadas e sarcasmos’

Victória Ribeiro passou mal antes que pudesse entrar em trabalho de parto e passou por três hospitais até conseguir internação. “Ouvi a médica dizer para a enfermeira: ‘deixa ela cozinhando lá'”, relata.

No dia 17 de outubro, por volta de 00h45, a jornalista Victória Ribeiro começou a sentir cólica intestinal. Ela já estava com nove meses de gestação e aguardava pelas contrações para o trabalho de parto. Ela e o marido já tinham escolhido a maternidade, em Belém, e estavam com as malas prontas, apenas aguardando o momento.

“Comecei a contar os intervalos de tempo, vai que era o início no meu trabalho de parto. Não era, estavam irregulares [as contrações] e era dor de barriga mesmo. Eu gemia de dor. Não bastava isso, comecei a vomitar, tudo ao mesmo tempo, uma cena horrível. Como havíamos nos preparado nove meses para um parto normal, meu marido já estava pegando as bolsas, os documentos, arrumando uma roupa pra eu ir pro hospital. Começou a peregrinação”.

Victória conta que às 3h30 do dia 17 eles foram para o hospital que haviam escolhido para ter o bebê. Encontraram um atendimento rápido. Ela fez alguns exames e tomou remédios. O hemograma constatou infecção intestinal e a médica plantonista informou que precisava de internação para dar início aos antibióticos, porém, não havia leito e sugeriu que fosse para a maternidade retaguarda do plano de saúde.

Chegando lá, o médico plantonista informou que o caso era clínico e não obstétrico, portanto, Victória deveria ir para uma outra urgência do plano. Foi o que Victória e o marido fizeram. Na terceira urgência que davam entrada, já com o dia amanhecendo, Victória passou pelo protocolo de praxe, mas não foi internada, e ouviu do plantonista que “não era seguro internar uma gestante com infecção intestinal ali, onde não havia obstetra”.

O marido de Victória, Rodrigo Reo, precisou brigar para que o caso da esposa fosse resolvido e ela fosse internada. Só então encaminharam a paciente para a maternidade retaguarda em uma ambulância, pois somente lá poderiam atender a uma gestante.

De volta à maternidade do plano de saúde, por volta de 11h do dia 17 de outubro de 2021, o que parecia que já iria ser resolvido, se tornou horas de violência obstétrica psicológica para Victória.

Ao ser atendida, Victória escutou de forma sarcástica do médico de plantão que os outros médicos não sabiam cuidar de uma “dor de barriga besta e mandavam para maternidade”.

Ao responder que era jornalista, Victória conta que o médico riu e disse “ah entendi, então vou ter que te internar mesmo porque senão amanhã vou estar na mídia”.

“Uma outra médica entrou na sala onde estava sendo atendida e riu falando que a minha barriga era pequena e que eu era ‘a grávida da dor de barriga’. Para piorar a situação, o médico que me atendia falou ‘vamos para trás da parede, tire a calça, vou fazer um toque, já que aqui é uma maternidade, né? O que a gente faz na maternidade? Examina a mãe’. Eu indaguei que não estava em trabalho de parto, não tinha necessidade de toque, mas ele mandou eu ir e ainda falou para o meu esposo que ‘aquela cena não seria nada agradável pra ele’”, conta Victória.

Ela foi encaminhada para uma sala, onde aguardou por mais de uma hora.

“Ouvi uma enfermeira dizendo para a médica que ‘eu estava na sala’ e ela [a médica] respondeu ‘deixa ela cozinhando lá’. Eu só sabia chorar, estava muito cansada e com muita fome”, relembra.

A jornalista diz que mesmo tendo consciência de que estava passando por uma série de violências, não teve forças para brigar por direitos em um momento de vulnerabilidade.

“Me senti impotente. Mesmo sendo informada e tendo consciência de que aquilo era violência, naquele momento eu estava tão debilitada, que não tive forças pra brigar pelos meus direitos, afinal, a gente entrega nossa vida totalmente nas mãos do médico”.

Médica só olhou exame após insistência da paciente

A previsão de alta era no outro dia, 18 de outubro, após medicamentos e exames durante o dia.

“A médica, que chegou pra dar alta, não viu meu exame, só olhou depois que eu insisti, foi então que ela preferiu me manter sob hidratação por 24h, e receber alta na terça-feira, dia 19. Mais um dia se passou, eu já não estava mais com infecção intestinal, o meu único objetivo ali era beber o máximo de água possível para logo ir pra casa e esperar entrar em trabalho de parto naturalmente, como havia planejado”, conta.

Na terça-feira, dia 19 de outubro, a gestante repetiu a ultrassom por volta das 16h, e a médica informou que o líquido amniótico havia diminuído drasticamente e que o bebê não estava se mexendo e os batimentos cardíacos não estavam satisfatórios.

Ao retornar para o quarto, uma enfermeira entrou no quarto com uma bata e disse para começar os preparativos para a cirurgia. Victória chorou por não ter tido a chance de ter um parto humanizado, mas ressalta que a cesariana salvou a vida do bebê.

Fonte: g1.globo.com



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