O que parecia ser só mais um vídeo de criança brincando com slime, de uma hora para outra, torna-se um verdadeiro filme de terror. Isso porque as imagens fofas são interrompidas pelo assustador personagem Momo, com cenas terríveis que ensinam, passo a passo, como as crianças devem fazer para, literalmente, cortar os pulsos. Esse mesmo vídeo, que burla os algoritmos de segurança até do próprio YouTube Kids, chegou ao conhecimento da professora e produtora de conteúdo Juliana Tedeschi Hodar, 41, de Campinas (SP), por meio de um grupo de WhatsApp da família do marido, o administrador de empresas Juan Hodar, 45, que propôs uma conversa em casa para orientar a filha, Bianca, 8, sobre o conteúdo desses vídeos.
Para dar mais segurança à filha, Juliana dormiu junto dela, após explicar que todo aquele terror não passava de uma mentira, afinal, a Momo jamais apareceria de verdade para ela. “Pedimos que, se acontecesse novamente, era para ela pausar o vídeo e nos chamar. Como essas imagens aparecem de maneira aleatória, essa seria a forma de denunciarmos o vídeo”, diz. A mãe conta que Bianca sempre foi muito doce, apegada aos pais e carinhosa, por isso, eles não notaram que a necessidade de ficar perto dos pais escondia um motivo maior.
Seguro para crianças?
A maior surpresa do casal foi que eles já haviam colocado filtros nos vídeos, deixando-os no modo restrito, e as crianças só tinham acesso aos conteúdos do YouTube Kids. “Achamos que assim eles estariam mais seguros. Mas agora vamos redobrar ainda mais os cuidados e supervisionar ainda mais de perto o que assistem”, afirma a professora.
As imagens e o discurso da Momo são tão chocantes que até mesmo a socialite Kim Kardashian se manifestou, no fim de fevereiro, sobre os vídeos nas redes sociais, cobrando um posicionamento do YouTube Kids. “Cuidado! Isso acabou de ser enviado para mim sobre o que tem sido inserido no YouTube Kids”, escreveu Kim.
O YouTube se manifestou com uma carta, em que conta a história da aparição do boneco e diz:
“Muitos de vocês compartilharam suas preocupações conosco nos últimos dias sobre o Desafio Momo – prestamos muita atenção nisso. Depois de muita análise, não vimos nenhuma evidência recente de vídeos promovendo o Desafio Momo no YouTube. Vídeos incentivando desafios prejudiciais e perigosos são claramente contra nossas políticas, incluindo o desafio Momo. Apesar dos relatos da imprensa sobre esse desafio, não tivemos links recentes sinalizados ou compartilhados conosco do YouTube que violem nossas Diretrizes da comunidade.
É importante notar que permitimos que os criadores discutam, denunciem ou instruam as pessoas sobre o desafio / personagem Momo no YouTube. Vimos capturas de tela de vídeos e / ou miniaturas com eles […] Essa imagem não é permitida na aplicação YouTube Kids e disponibilizamos garantias para a excluir do conteúdo no YouTube Kids.”
Vale lembrar que o próprio YouTube Kids foi lançado em 2016 justamente para atender a demanda dos pais e da sociedade a respeito da segurança do conteúdo destinado às crianças. O aplicativo, porém, seleciona os vídeos através de um algoritmo que, aparentemente, pode ser burlado, resultando em produções impróprias. Para tentar corrigir a situação, em abril do ano passado, o Google anunciou que contrataria milhares de funcionários para trabalharem como curadores da plataforma infantil.
Para Regina Assis, doutora em Educação pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e membro do conselho de especialistas do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o Youtube Kids é um caminho, mas ainda somos carentes de uma legislação específica para definir o que é ou não aceitável veicular para as crianças na internet.
Enquanto isso ainda não é decidido, o acompanhamento próximo dos pais em relação ao tempo de tela e o conteúdo de interesse dos filhos é essencial. “Por causa da superestimulação causada pelas telas, estamos encontrando nos consultórios e salas de aula crianças agitadas, intensas e com uma dificuldade imensa de atenção o que prejudica não só o processo de aprendizado, mas o desenvolvimento saudável de relacionamentos”, afirma.
A Academia Americana de Pediatria (AAP) indica no máximo 1 hora de tela dos 18 meses aos 5 anos, período que deve ser fracionado ao longo do dia e com conteúdo pedagogicamente responsável. A partir dos 6 anos, cabe aos pais estabelecer esse limite – o tempo usado para atividades escolares no computador, no caso de crianças mais velhas ou adolescentes, fica de fora dessa conta.
De acordo com a educadora, além de restringir o acesso a gadgets a um tempo adequado, os pais devem acompanhar de perto o que os filhos estão assistindo. “Saiba o que seu filho vê e converse com ele sobre aquilo antes de proibi-lo. Diga o que gosta, não gosta e por quê. O diálogo aberto ainda é o melhor caminho”, diz Regina. Para ela, mesmo se em algum dia for implementada a classificação indicativa para vídeos online, as pais continuarão sendo a última barreira e a mais segura para definir se um conteúdo é adequado ou não para o filho. (Fonte:G1/Crescer)
Fonte: Correio de Carajás
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