O assunto que tem dominado os noticiários econômico e internacional nas últimas semanas é a renegociação do teto da dívida dos Estados Unidos.
O país tem um mecanismo que foi criado em 1917 e serve para limitar a quantidade de dívidas que o governo pode ter em um ano fiscal, que por lá vai de outubro a setembro. O problema é que, ainda em janeiro, os EUA chegaram ao limite estabelecido para este ano fiscal: de US$ 31,4 trilhões.
Agora, o presidente Joe Biden e os seus aliados do partido democratas travam uma “batalha” com os republicanos, que são maioria na Câmara dos Deputados, para conseguir aumentar o teto deste ano.
É uma luta contra o tempo, já que, em pouco mais de uma semana, o governo corre o risco de ficar sem recursos para arcar com dívidas que vencem no começo de junho.
Parece uma realidade distante, mas é um consenso entre todos os especialistas ouvidos pelo g1 que, caso os partidos não cheguem a um acordo para elevar o teto e permitir que o governo arque com suas despesas, as consequências seriam “catastróficas em nível global”, como pontuou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
No Brasil, inclusive, os efeitos seriam rapidamente sentidos, com destaque para:
Entenda mais detalhes abaixo.
De acordo com Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec, quando o governo americano chega no teto do endividamento, como agora, o mecanismo desenvolvido em 1917 provoca, em tese, um “fechamento” das repartições do governo.
“Em outras palavras, ele fica sem possibilidades de cumprir suas obrigações, desde as mais básicas, como pagar salários de funcionários e manter funcionando atividades essenciais, até emitir novas dívidas. Explicando de forma simples, o governo americano pode ficar inadimplente”, afirma Espirito Santo.
O professor destaca que, nos últimos 70 anos, o teto já foi elevado em mais de 70 vezes, tanto em governos democratas, como o de Biden, quanto em mandatos republicanos, como o do ex-presidente Donald Trump.
Thomas Gibertoni, analista de cenário macroeconômico na Portofino, destaca que, desde 2010, o endividamento americano vem crescendo de forma mais recorrente e exigindo aumentos expressivos do teto — o que mostra que o caso atual não é uma novidade.
Com a elevação do teto, há a permissão para a emissão de novos títulos de dívida — as Treasuries, títulos públicos americanos, que são considerados os investimentos mais seguros do mundo.
Mas, para conseguir elevar esse teto, é necessária a aprovação do Congresso e aqui entram alguns pontos importantes:
Desde 19 de janeiro deste ano, quando foi atingido o limite de US$ 31,4 trilhões, o governo vem adotando algumas “medidas extraordinárias, uma vez que não tem a autorização para elevar (sozinho) o endividamento público”, explica Marcos de Marchi, economista-chefe da Oriz Partners.
Mas chegou o momento em que essas medidas já não são mais suficientes, e até agora não há sinais de quando os partidos chegarão a um acordo. Na tarde da última terça-feira (23), representantes das negociações disseram estar fazendo “pequenos progressos”, mas nada que levasse a uma definição.
Na opinião de todos os especialistas ouvidos pela reportagem, a renegociação do teto da dívida americana virou uma briga política para atender aos objetivos dos partidos, o que pode ser perigoso conforme se aproxima o prazo de vencimento das próximas despesas do governo.
Gibertoni, da Portofino, comenta que, se não chegarem a um acordo para elevar o teto até a data dos próximos pagamentos e os EUA não honrarem com suas dívidas, os primeiros impactos seriam sentidos nos ativos de risco.
“Afinal, se o país mais seguro do mundo deu calote, o que esperar dos emergentes?”, questiona Gibertoni”.
O economista da Oriz Partners compartilha da mesma visão e complementa que um calote poderia levar o dólar a perder valor diante das principais moedas de economias desenvolvidas. As de países emergentes, por outro lado, deveriam passar por uma depreciação, já que são consideradas bem menos seguras.
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