O Ministério Público do Estado do Pará está investigando uma denúncia que chegou àquele órgão por meio de uma carta escrita à mão. E o teor, caso seja comprovada a veracidade – é de partir o coração. No documento, escrito em caneta azul, os autores se identificam como “funcionários do HMM” e protocolaram a carta no dia 1º deste mês de dezembro.
O relato começa fazendo duras críticas à forma como a Casa de Saúde tem se posicionado em relação aos acadêmicos dos cursos de Medicina, Enfermagem e Técnicos de Enfermagem que frequentam o HMM. “Todos fazem o que bem entendem com os pobres pacientes, que são cobaias em mãos de gente irresponsável”, diz um trecho.
Os funcionários que detalham a denúncia, afirmam que foram presenciadas cenas de horror realizadas tanto pelos acadêmicos como pelos próprios colegas de trabalho.
O primeiro relato, dos vários que constam no documento enviado ao MP, é de que um paciente, que estava internado em estado grave na Unidade de Cuidados Especiais (UCE), foi submetido ao toque retal por 17 acadêmicos de medicina.
De acordo com as informações, eles estavam acompanhados de um médico conhecido como Marcos Paulo. “Cada acadêmico introduziu o dedo no reto do paciente na frente de todos os presentes. Uma funcionária do setor questionou com ele como poderia fazer uma coisa desta, e ele disse que estava dando aula pra seus alunos”, relata, afirmando que o local estava lotado devido a quantidade de estudantes.
Nesse momento, outro paciente em estado grave, deitado ao lado, começou a passar mal e teve uma parada cardiorrespiratória. “Não teve como reanimá-lo, pois não tinha como se movimentar pela grande quantidade de alunos na UCE”.
Segundo a denúncia, o referido médico – que é professor – costuma levar os alunos para o hospital no horário do seu plantão.
Outra cena lamentável é descrita pelos funcionários que assinam o documento, dando conta que acadêmicos de enfermagem de uma faculdade particular tentaram passar uma sonda em um paciente. “Tinha 30 alunos em volta da maca do paciente grave e eles não conseguiam passar a sonda. Começou a sangrar, o paciente gritava com muita dor, a enfermeira que estava acompanhando a turma também não conseguiu, e todos os pacientes e acompanhantes que estavam no Pronto Socorro presenciaram a cena de horror, pois não usaram se quer um biombo”, detalha.
Os denunciantes afirmam que o problema se estende para vários setores, exemplificando a clínica médica. De acordo com eles, o setor conta com muitos pacientes idosos e graves e a assistência deixa a desejar. “Pegaram os piores enfermeiros, que davam problemas em outros setores e colocaram na clínica médica. Esses profissionais não estão nem aí para os pacientes. A noite ainda é muito pior. Depois da meia noite não se consegue encontrar nem enfermeiro, nem técnico acordado. E quando um acompanhante chama, eles ainda levantam estressados, reclamando que precisam dormir”, detalhando que existe um revezamento para o descanso. Contudo, não está sendo feito da forma correta.
Ainda falando do repouso, o documento traz detalhes de que um dos pacientes internado no HMM estava infartando e precisava fazer um eletrocardiograma. “A enfermeira viu e foi pra o repouso. A que estava voltando do repouso também não fez nada alegando que não foi no horário dela, e as duas travaram uma briga de palavras e o paciente ficou sem atendimento”.
Com cinco páginas, a denúncia segue relatando sobre a quantidade de técnicos de enfermagem que o hospital possui, e que mesmo assim os pacientes continuam sem assistência.
De acordo com as informações, são muitos plantões, mas durante os finais de semana e feriados ficam lacunas nas escalas. “As pessoas pedem plantões e depois se dizem cansadas. Procuram deitar, atendem mal os pacientes e não rendem”.
O documento finaliza com uma das mais graves denúncias, que funcionários chegam ao hospital para cumprir sua jornada de trabalho embriagados. “Este final de semana aconteceu. A funcionária bêbada, a enfermeira mandou para o repouso, e ela dormiu a noite inteira. Pela manhã acordou, bateu o ponto e foi embora”.
Assinado por “funcionários do HMM”, o documento pede providências ao MP, afirmando que a situação no hospital está totalmente sem ordem.
Prefeitura vai apurar
Procurada pela Reportagem do CORREIO, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Marabá informa que a direção do Hospital Municipal e a Secretaria de Saúde do município não receberam, até o momento, nenhuma notificação do Ministério Público a respeito da denúncia.
De qualquer forma, diante da situação, a direção do HMM já começou uma investigação interna para verificar a veracidade desta informação.
A administração da Casa de Saúde informa que não compactua com essas atitudes e, caso sejam comprovadas, haverá punição rigorosa aos envolvidos. Uma reunião com todas as direções já foi solicitada, e o médico denunciado será ouvido pela administração do hospital.
A assessoria jurídica do médico Marcos Paulo entrou em contato com a Reportagem do CORREIO para informar que ele não é professor de nenhuma instituição de ensino, particular ou pública.
Também garantiu que o referido médico trabalha em regime de plantão e não recebe alunos no horário em que presta serviços no hospital. Ela avalia que pode estar havendo equívoco por parte de quem redigiu a carta entregue ao MP, já que existe outro médico com nome parecido. “Não existe nenhuma vinculação entre o Dr. Marcos e alunos, e muito menos há conhecimento deste com relação às denúncias divulgadas. Vamos nos manifestar junto ao MP no que for necessário”, antecipou a assessoria jurídica.
(Da Redação)
Fonte: correiodecarajas.com
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