Mais de um ano depois de vencer a Covid no mesmo hospital onde perdeu o pai, a 25ª morte registrada em Sorocaba (SP) pela doença na época, o mecânico Rogério Gonçalves da Silva combate as sequelas da infecção e um câncer.
Durante o tratamento, ele precisou passar por hemodiálise devido o rim estar fraco. Contudo, o paciente descobriu que tem apenas um órgão – o que é conhecido como agenesia renal unilateral. A ausência congênita de um rim, segundo os especialistas, é compatível com a vida e uma pessoa pode nem saber da anomalia.
“É uma condição que não traz riscos à vida. Quando isso acontece, o rim funcionante acaba aumentando de tamanho para compensar a ausência do outro rim. Chamamos o rim aumentado de tamanho de ‘rim vicariante'”, explicou ao g1 o nefrologista Vinícius Paulon da Costa.
Segundo Andressa Aparecida Lopes França, a irmã mais nova de Rogério, quando ele teve Covid, um enfermeiro alertou sobre uma situação que poderia estar associada com o câncer.
Neste ano, a doença se desenvolveu e, em meados de julho, a família procurou um médico. A função renal não havia sido normalizada desde a forma grave da Covid-19. Segundo a irmã, durante o exame de imagens um dos rins não apareceu. Atualmente, ele faz hemodiálise e começou a quimioterapia.
“Está acordado, se alimentando e confiante no tratamento. Serão cinco sessões. Está bem positivo durante o tratamento com grandes chances de cura. Vai sair dessa de novo”, contou a irmã.
O paciente precisa de doação de sangue no Hemocentro de Sorocaba depois que foram usadas bolsas durante o tratamento. A unidade da cidade fica na Avenida Comendador Pereira Inácio, 564 – Jardim Vergueiro.
Segundo o Hemonúcleo de Sorocaba, há queda na quantidade de doadores de sangue em 25% durante os dias da semana, de segunda a quinta-feira.
Pai de Rogério, Narcizo morreu de Covid-19 durante internação na Santa Casa de Sorocaba — Foto: Arquivo Pessoal
A nefrologista Andrea Pio de Abreu, diretora secretária-geral da Sociedade Brasileira de Nefrologia, reforça que a maior parte das pessoas com agenesia renal unilateral viverá bem com apenas um rim, sem prejuízos da função renal.
“Só terão problema renal aqueles que têm alguma condição clínica que afete o rim, e que não seja tratada adequadamente. Por exemplo, uma pessoa que tenha hipertensão ou diabetes não tratados por longo período”, diz.
Em relação aos hábitos de vida, segundo a especialista, são os mesmos de quem tem ambos os rins. Entre eles, conforme os médicos, evitar obesidade, fazer exercícios, não fumar, beber líquido adequadamente, evitar alimentos industrializados e ricos em sal.
“É preciso avaliar regularmente como está a pressão arterial. Em caso de sobrepeso, obesidade, ou histórico familiar, é importante verificar a glicemia para avaliar presença de diabetes. O cuidado maior que se deve ter é em relação ao risco de traumatismo na região do rim.”
No caso da Covid-19, o vírus pode afetar os rins. Ainda segundo Andrea Pio de Abreu, a doença pode ocasionar “injúria renal aguda” – piora abrupta da função renal -, perda de proteína e sangue pela urina.
“Para quem tem apenas um rim, a piora da função renal pode ser mais rápida. Importante ressaltar, porém, que também depende da condição clínica de cada paciente, e da forma como a doença afetou os rins. Há pacientes com os dois rins e sem doença renal prévia que podem evoluir com injúria renal aguda, enquanto outros com apenas um rim, podem evoluir sem alterações significativas”, detalha.
Conforme a médica, quando a causa é o vírus da Covid-19, o rim pode voltar a funcionar. Ao mesmo tempo, será necessário acompanhamento nefrológico.
Em 2020, a família de Rogério em menos de 48 horas foi da gratidão ao luto. Aos 69 anos, o pai dele, o mecânico Narcizo Gonçalves da Silva, morreu pelo coronavírus depois que o filho deixou a Santa Casa da cidade sob aplausos pela recuperação da Covid-19.
A saída de Rogério foi registrada em vídeo. As imagens compartilhadas na rede social do hospital mostravam o paciente sendo levado à porta, em um corredor com médicos e enfermeiros perfilados. Em uma mão ele segurava a placa e a outra fazia o sinal de “positivo”.
Na madrugada, a família do rapaz recebeu uma ligação do mesmo hospital informando que o pai não resistiu à doença e seria a 25ª morte registrada na cidade.
Segundo o Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a estimativa de pacientes em diálise em fila de espera para transplante renal em 2020 era de 33.239.
O número de unidades de diálise no Brasil em 2008 era de 684. Já em 2020 eram 834. Os dados de 2021 ainda não estão disponíveis.
O número estimado de pacientes em tratamento dialítico no ano passado era de 144.779, sendo 139.691 em 2019, um aumento de quase 4%. Em 2001 eram 46.557.
Fonte: g1.globo.com
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