O g1 mostrou em dezembro que uma acentuação da crise nas contas públicas, a frustração das expectativas de crescimento do país, uma contínua instabilidade política em Brasília e gestão confusa da pandemia fizeram o dólar subir pelo quinto ano seguido contra o real.
Com a alta dos juros, porém, o dólar chegou aos R$ 5 no fim de fevereiro e acumulava desvalorização de 10% contra a moeda brasileira. Se a Selic desestimula o consumo e o investimento interno, por outro lado ajuda a trazer um fluxo de dinheiro estrangeiro de volta para o Brasil e fortalece o real.
Quando o horizonte parecia melhorar para a inflação, teve início a invasão da Rússia à Ucrânia, que gerou uma corrida para ativos seguros e reverteu a “queda livre”. O dólar chegou a disparar para R$ 5,20 nos momentos de maior tensão geopolítica.
“Antes da guerra, o câmbio vinha melhorando e isso teria um impacto muito positivo para a atividade. Se essa dinâmica retornasse, junto com essa alta de preços de commodities, poderíamos ter uma surpresa”, diz Barbosa.
Até agora, o conflito trouxe valorização considerável do petróleo (US$ 119 para o tipo Brent), que atingiu as máximas desde 2012 e pressiona o preço dos combustíveis, mas ainda pode impactar a produção de fertilizantes russos e aumentar o preço do trigo e seus derivados, como o pãozinho e o macarrão.
“O câmbio pode ajudar o BC nessa inflação de commodities, mas é possível que o momento de cortes de juros demore mais para chegar”, diz Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG Asset.
E agora?
A WHG projeta queda de 0,3% no PIB de 2022 — e não descarta nova queda em 2023. Fenolio explica que dois fatores podem trazer algum impulso para o PIB, mas ambos sem o poder de arranque que o país precisaria.
O primeiro é a agropecuária, que tinha promessa de boas safras e tem preços subindo no mercado internacional. Mas condições climáticas, como a seca no Sul e enchentes no Norte e Nordeste do país, causaram algum prejuízo nas estimativas.
Outro ponto é o maior gasto do governo em ano eleitoral. O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 64,7 bilhões em 2021, primeiro resultado positivo desde 2013. O indicador reúne as contas da União, dos governos estaduais e municipais, além de empresas estatais.
“É um caixa que pode ser gasto com obras, por exemplo. Mas, tirando isso, o investimento privado deve ser restrito pela falta de confiança no país, pelo juro alto e pela falta de renda real por conta da inflação”, diz Fenolio.
E a pandemia?
Ainda que o Brasil tenha retornado para a ‘armadilha’ do baixo crescimento, a pandemia foi inegavelmente o estopim para os principais problemas econômicos da atualidade e deixa rastros perversos em setores que dependem da circulação de pessoas, como o de serviços.
Mas, nos cálculos da maioria das instituições financeiras, a situação sanitária perdeu espaço nas preocupações. Isso porque, mesmo a variante ômicron, não teve o poder de destruição da atividade econômica como as ondas anteriores da Covid-19.
“A pandemia teve impactos muito relevantes no fechamento e abertura de serviços. A ômicron atrapalhou janeiro, mas os índices logo retornaram em fevereiro. O grosso do ciclo da Covid já passou”, diz Barbosa, do Itaú.
O banco faz uma medição diária de atividade econômica, e o resultado é latente: tal como o PIB, os níveis estão praticamente iguais aos de março de 2020, pré-pandemia.