A corretora de imóveis Maria Regina Dias do Nascimento Fernandes vislumbra uma vida diferente desde que descobriu há três meses que a filha foi trocada na Santa Casa de Sertãozinho (SP) logo após o nascimento. Trinta e sete anos depois e ainda enfrentando um turbilhão de sentimentos, ela vê na descoberta uma oportunidade.
“É lógico que eu tenho muito amor aqui guardado para dar para todos. Acho que a gente consegue viver um bom período de vida. A gente pode fazer um futuro diferente e eu acredito nisso”, diz.
Maria Regina descobriu que a filha biológica havia sido entregue a outra família em abril deste ano, quando a Santa Casa enviou uma carta pedindo a ela que entrasse em contato para tratar de um assunto de interesse dela.
A carta ficou esquecida por uma semana até que a corretora de imóveis ligou para o hospital e agendou uma reunião virtual com o provedor da instituição. Maria Regina mal sabia o que estava por vir.
“Você confia no hospital, que vai cuidar do teu filho e aí trocam o teu filho. A sensação que eu tive é que um cometa caiu na minha cabeça. Fiquei paralisada. Eu não acreditei, falei ‘não é possível, eles estão loucos’. Imagina? Trinta e sete anos. Não é normal, não está certo.”
Após o parto em 1985, Maria Regina, que era mãe solteira, recebeu do hospital a menina a quem chamou Thaisa. Mas a filha biológica foi entregue a outra família.
A suspeita de que as bebês tinham sido trocadas surgiu em 2021, quando a confeiteira Mônica Tatiane Ribeiro fez um teste de DNA com a mãe e o resultado apontou a incompatibilidade entre elas.
“Descobri em setembro de 2021. Foi muito doloroso. Eu estava grávida, então foi um processo bem difícil digerir tudo isso. Esperei a gravidez para ir atrás da Santa Casa e encontrar a minha mãe biológica”, afirma.
Depois que Tatiane procurou a Santa Casa, o hospital cruzou os dados dos nascimentos ocorridos em 30 de novembro de 1985 e, por eliminação, chegou a Maria Regina para comunicar o suposto erro.
Logo após o comunicado, em maio, mães e filhas foram submetidas a novos exames de DNA que finalmente comprovaram a troca.
Logo nos primeiros meses de vida, Thaisa foi diagnosticada com epilepsia, uma doença considerada genética, e sempre recebeu os cuidados necessários e a atenção da mãe. Na adolescência, a saúde foi ainda mais fragilizada com a descoberta da esquizofrenia.
O irmão e a mãe biológicos de Thaisa também sofrem de epilepsia. O rapaz, no entanto, faleceu há dois anos, e ela se vê triste em saber que foi privada do convívio dele por um erro de terceiros.
“Eu tinha perdido um irmão e não sabia da existência dele. Hoje eu sinto um pouco de raiva ainda. Você mora com uma pessoa que te deu tudo do bom e do melhor só que não é sua mãe. Isso aí é um baque.”
Tatiane vai além e diz que enfrentou muitas dificuldades com a família que a criou.
“Eu vejo que me prejudicou bastante, porque eu poderia ter tido uma vida diferente, teria oportunidade de estudar, teria outro estilo de vida. Eu e minha mãe [de criação] a gente não se dava bem. Foi bem sofrido, não é legal descobrir uma história dessa”, afirma.
Ainda experimentando a alegria de encontrar a filha biológica, Maria Regina se depara com dias de dor. Em momento algum a corretora de imóveis lamenta tudo o que viveu até agora, mas é inevitável pensar que a vida poderia ter sido completamente diferente para todas.
“É muito difícil lidar com toda essa situação, não é fácil. É doloroso olhar para trás e ver o que você perdeu. Não podemos ficar olhando para trás, mas não tem jeito. Não desejo para ninguém passar o que estou passando. Perdi 37 anos de convivência. É uma mistura de sentimento, tem dia que tenho muita raiva e tem dia que tenho muita compaixão.”
A surpresa maior de Maria Regina após a descoberta da existência de Tatiane foi saber dos três netos.
Agora, a corretora de imóveis que teve ainda outra filha, Victória, de 23 anos, sorri ao pensar que a família cresceu de repente, e espera que a felicidade seja completa de uma vez por todas.
“Nós éramos em três, agora nós somos em sete. Eu tenho três filhas, três netos e eu. Não tem exclusão na minha casa, só inclusão. Espero poder desfrutar mais 30 anos.”
Fonte: g1.globo.com
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