O açaí, fruto que tem lugar cativo em boa parte das mesas paraenses, torna-se cada vez mais a fruta dos olhos de cientistas de vários países. Agora, é a vez de o Canadá testar as propriedades do fruto no combate ao novo coronavírus, causador da Covid-19. Mas antes de atravessar fronteiras, o açaí passa pela análise técnica dos programas de educação, detecção e fiscalização desenvolvidos pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará).
Michael Farkouh, pesquisador da Universidade de Toronto, e a pesquisadora Ana Andreazza, que há cinco anos examina o efeito do açaí sobre a resposta inflamatória, iniciaram testes da eficácia do fruto contra a Covid-19. No total, 580 pacientes com resultado positivo para o novo coronavírus, no Canadá e no Brasil, participam do estudo, que deve ter resultados revelados no final deste ano.
As informações sobre a pesquisa foram originalmente publicadas pela Agence France-Presse (AFP), agência de notícias francesa considerada uma das mais prestigiadas no planeta, e ganharam os noticiários nacionais nesta semana. Porém, para que a fruta típica do Pará ultrapasse todos os tipos de fronteiras é preciso, primeiro, garantir sua sanidade e qualidade na produção. Essa é uma das missões da Adepará.
O trabalho desenvolvido pela Agência de Defesa Agropecuária do Pará tem dois objetivos: garantir o fortalecimento da cadeia produtiva do açaí, com ênfase no desenvolvimento sustentável e competitivo, e contribuir para a manutenção da saúde pública, afirma a fiscal estadual agropecuária Joselena Tavares, da unidade de Guia de Trânsito Vegetal (GTV). Segundo ela, o principal instrumento para o êxito dessa missão é o cadastro do produtor rural.
BENEFÍCIOS
“O cadastro na Adepará traz benefícios para o agricultor e para o consumidor. Ganha o produtor, que passa a ter um produto certificado e com maiores possibilidades de crescimento comercial, e ganha o consumidor, que passa a ter mais segurança na hora da compra. Por exemplo, a partir do registro é possível, em uma ocorrência de doença de Chagas, percorrer o caminho inverso ao do açaí e determinar a origem do fruto contaminado”, explica Joselena Tavares.
A cerificação do produto na Adepará também traz outras garantias para produtor e consumidor. “O registro garante que aquele açaí não foi produzido usando mão de obra escrava ou infantil, que não foram usados defensivos agrícolas e que não houve desmatamento para a sua produção”, informa a fiscal agropecuária.
A rastreabilidade de um produto só é possível a partir do controle de trânsito. No caso de vegetais, produtos e subprodutos de importância econômica para o Estado, como o açaí, o procedimento é essencial, uma vez que o trânsito de vegetais é um dos grandes responsáveis pela introdução de pragas e contaminantes em uma região.
Ela permite, na cadeia logística, acompanhar o processo de produção, armazenamento e distribuição do alimento até que chegue às mãos de quem vai consumir, garantindo mais segurança para o consumidor e o comerciante, na hora de ofertar o produto e expor informações sobre sua origem.
No Pará, esse rastreamento é feito com a emissão da GTV, que pode ser emitida pelo produtor rural previamente cadastrado na Adepará, ou seu representante legal autorizado, conforme a Portaria nº 380/2012, de 8 de fevereiro de 2012. Na cultura do açaí, a rastreabilidade foi estabelecida pela Instrução Normativa Conjunta (INC) nº 02, de 7 de fevereiro de 2018, da Agência Nacional de Vigilância de Saúde (Anvisa) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“A GTV do açaí é um documento de rastreabilidade que atestará sua origem, a manutenção da cultura, a colheita, o armazenamento, o transporte e o destino do produto. O cadastramento de produtores e extrativistas, na Adepará, é o primeiro passo para a emissão da GTV. A partir do cadastro, teremos dados sólidos para traçarmos trabalhos voltados para o incremento da cadeia produtiva, contribuindo para o planejamento de políticas públicas voltadas para o setor”, detalha Lucionila Pimentel, diretora de Defesa e Inspeção Vegetal da Adepará.
Todos que fazem parte da cadeia produtiva do açaí – produtor, independentemente do tamanho de sua unidade produtiva, agroindústria e Responsável Técnico (RT) – devem se cadastrar na Adepará de seu município ou pelo site. O cadastro é gratuito.
PRODUÇÃO
Além de fiscalizar a produção e transporte do açaí, a Adepará fornece instruções técnicas e higiênicas para a implementação ou adequação dos pontos de produção da polpa do fruto. No Pará, há 43 unidades artesanais de fabricação de polpa de açaí com autorização exclusiva para comércio local. Cada uma delas produz, em média, 26 toneladas de polpa por ano.
Estes números, porém, não representam a totalidade da produção de açaí paraense, já que grande parte do fruto produzido aqui é exportada para outros estados e países. De acordo com o levantamento mais recente, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de uma década o Pará ostenta o título de maior produtor nacional de açaí, chegando a ser responsável por 95% da produção nacional no final da década de 1990.
Atualmente, a produção paraense corresponde a 66% da totalidade produzida no Brasil. O Estado do Amazonas, segundo colocado no ranking nacional, produz 21% do açaí comercializado. O restante da produção é dividido entre os estados do Maranhão, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins. Em toneladas, a quantidade anual de açaí produzida no Pará se aproxima de 150 mil.
Produção que, segundo o gerente de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Adepará, Hamilton Altamiro, possui grande potencial de crescimento, mas que luta contra a ameaça da clandestinidade. “A produção clandestina é o maior entrave para o crescimento do setor extrativista e um grande risco para a saúde pública. O consumidor precisa estar atento na hora de consumir o açaí, sendo ele batido na hora ou processado como polpa”, alerta o gerente.
Fonte: diarioonline.com
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