A redação faz parte do primeiro dia do exame, realizado neste domingo (5) com as provas de linguagens e ciências humanas. É exigida a produção de uma dissertação pelo candidato, que precisa defender um ponto de vista.
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 sobre os a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil foi avaliado por professores de cursinhos como “interessante”, “pertinente” e a “cara” do Enem por tratar de um problema social relevante e exigir uma boa proposta de intervenção.
A redação faz parte do primeiro dia do exame, realizado neste domingo (5) com as provas de linguagens e ciências humanas. No próximo domingo (12), serão matemática e ciências da natureza.
A prova de redação do Enem exige a produção de uma dissertação, em que o candidato precisa defender um ponto de vista.
— Daniella Toffoli, coordenadora de linguagens do Curso Anglo
A professora do Anglo ainda comenta que:
“a mulher que cuida dos filhos e dos pais não é valorizada”;
“a sobrecarga com o trabalho fora e em casa, no geral, não é reconhecida pela sociedade”;
“a dupla jornada e as cobranças sociais são naturalizadas, ou seja, são vistas como normais”.
Para Danieli Ferreira, professora de Redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante, trata-se de um tema “extremamente interessante e pertinente dado que a mulher enfrenta no Brasil, às vezes, uma dupla ou tripla jornada de trabalho – o trabalho fora e de casa, para poder dar o sustento para a família”.
Além das questões cotidianas, dos afazeres da casa, ela pondera que, muitas vezes, sobra para a mulher o cuidado com os idosos e enfermos da família, além da responsabilidade pelos próprios filhos.
Segundo Tanay Gonçalves, professora de Redação da Plataforma Professor Ferretto, “o tema da redação traz um eixo temático que é a cara do Enem, de cunho social”.
“O candidato precisa pensar no núcleo do tema, que é essa invisibilidade relacionada ao trabalho de cuidado, e pensar que os desafios precisam ser questionados”, explica.
O diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Educação, Ademar Celedônio, ressalta que o trabalho doméstico e de cuidados, tradicionalmente executados pelas mulheres, não é contabilizado na economia formal e que isso se reflete na:
participação econômica da mulher e
desigualdade de gênero no país.
— Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Educaçã
Na elaboração da redação, o coordenador de redação do Colégio Etapa, Luiz Carlos Dias, sugere, por exemplo, a possibilidade de citar a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição que focava na questão das trabalhadoras domésticas, destacando, nesse caso, a importância da economia do cuidado como um elemento central da intervenção.
Outro ponto levantado pelos professores é o fato de que a invisibilidade desse tipo trabalho realizado pelas mulheres se trata de uma questão histórica.
É bom relembrar que, como nossa cultura e nossa história sempre colocaram a mulher nesse lugar de dona de casa, esse comportamento social de não valorizar o que ela realiza também é histórico, uma vez que, se o lugar dela é ali, e ela nasceu para exercer esse papel de ser dona de casa e cuidar dos filhos, não tem porquê valorizá-la.
A análise da coordenadora geral de redação do Poliedro, Gabrielle Cavalin, também vai na mesma linha: “é uma questão extremamente atual, que não é um problema de agora, então é muito importante”.
Para Maria Aparecida Custódio, professora do Laboratório de Redação do Objetivo, “o tema deve ter proporcionado ao candidato o reconhecimento ao trabalho tão importante e imprescindível da mulher.”
“O tema seguiu o que esperávamos em relação a trabalhar uma problemática social do Brasil que envolve um grupo prioritário que tende a ser esquecido. Neste sentido, é um assunto de grande relevância justamente para dar visibilidade a este grupo”, diz Isabela Canella, professora de Redação da Escola SEB Lafaiete.
Para Thiago Braga, professor de redação do Colégio e Sistema pH, esse tema é sensível na nossa sociedade.
“Trata-se de um tema que não é esperado, uma questão extremamente sensível e invisibilizada e, por isso, não é esperado. Daí vem a importância de uma discussão como essa para jovens de todo o Brasil. Os alunos, certamente, têm argumentos e repertórios para lidar com a questão, porque discute-se muito o papel da mulher nos eixos temáticos da redação”, afirma.
A questão da “economia do cuidado” foi objeto de um episódio do podcast “O Assunto”, que tratou, entre outros pontos, do fato de que, na média, mulheres passam o dobro do tempo que homens em funções domésticas e de cuidado com filhos e/ou demais familiares (ouça o episódio abaixo). Além disso, em setembro, o podcast tratou de “burnout materno – o colapso da maternidade ideal”.
Fonte: www.g1.globo.com
Divulgar sua notícia, cadastre aqui!