Um projeto-piloto feito em 35 hospitais brasileiros conseguiu evitar cerca de 10 mil cesarianas desnecessárias no período de um ano e meio. A iniciativa, encabeçada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), segue recomendação de organismos internacionais para a redução das taxas de cesáreas no Brasil, uma das maiores do mundo.
Os resultados do projeto Parto Adequado, obtidos com exclusividade pelo Estadão, serão apresentados nesta quinta-feira, 17, em evento na capital paulista e mostram ainda que a taxa de partos normais nos centros participantes cresceu 11 pontos porcentuais, passando de 23% para 34%.
Apesar da iniciativa, o índice alcançado pelos 35 hospitais ainda está distante do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo orientação do órgão, 85% dos nascimentos deveriam ocorrer por meio do parto natural e apenas 15% teriam indicação de intervenção cirúrgica, mas na rede privada brasileira a proporção é exatamente a inversa. No último ano, com a implementação do projeto, houve uma pequena queda na taxa geral de cesáreas realizadas na rede particular.
O índice de partos cirúrgicos caiu de 85,6%, em 2014, para 84,4% em 2015.
“Apesar de não ter havido uma queda significativa no índice geral, o resultado obtido nos 35 hospitais participantes representa um avanço gigante e mostra que é possível reduzir essa tendência de aumento das cesarianas no país. Só que, para isso, é preciso combinar uma série de medidas que reorganizem o modelo de atendimento”, afirma Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS, que anunciou que o projeto será agora expandido para outros 150 hospitais, com a intenção de ser replicado para toda a rede daqui a dois anos.
As intervenções feitas nas maternidades participantes foram organizadas em três grupos: mudança ou adaptação da infraestrutura dos hospitais, capacitação de profissionais de saúde e conscientização das gestantes.
No primeiro grupo de medidas, uma das principais ações implementadas foi a criação de salas de parto natural, onde ficam disponíveis objetos que aliviam as dores do trabalho de parto, como bolas, banheiras e banquinhos. Nesses quartos, os acompanhantes também podem entrar e sair a qualquer hora sem o rigor de um centro cirúrgico.
“É uma medida que tem muito efeito porque dá à gestante mais confiança. Ela tem uma sala com mais espaço e com o acompanhante o tempo todo, com a garantia de que as intervenções serão mínimas”, diz Rita Sanchez, líder clínica do projeto e coordenadora da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, parceiro da ANS na iniciativa.
Foi no centro de simulação realística do Einstein que mais de 400 profissionais de saúde dos 35 hospitais receberam capacitação teórica e prática sobre a importância da escolha de um parto adequado. No local, eles estudavam os protocolos existentes para cada caso e treinavam diferentes situações de parto em robôs.
“Colocamos tanto os médicos quanto os enfermeiros na mesma sala para reproduzir diferentes cenários de dificuldades, como parto vertical, no banquinho, de cócoras”, diz Rita.
Outra mudança na estrutura das maternidades foi a contratação de enfermeiras obstetras e de equipes de obstetras plantonistas. “As enfermeiras especializadas conseguem monitorar o trabalho de parto e acionar o médico da paciente na hora certa”, afirma Rita.
No âmbito da conscientização das gestantes, o projeto estimulou palestras e cursos sobre os riscos e benefícios de cada tipo de parto. “Tanto aqui no Einstein quanto nos demais hospitais participantes, nós reformulamos o curso de gestante. Em vez de falar das roupinhas do bebê, focamos na questão do trabalho de parto, no que é necessário para garantir uma boa evolução”, explica ela. Segundo a coordenadora da maternidade do Einstein, a taxa de partos cesáreos na unidade caiu de 78%, antes do projeto, para os atuais 57%.
A dentista Adriana Moura Foz, de 33 anos, foi uma das pacientes do hospital que optaram pelo uso das salas de parto natural, chamadas no Einstein de PPP (pré-parto, parto e pós-parto).
“Eu já preferia o parto normal, mas nunca fui radical, sabia que a decisão final seria médica. E no dia foi muito legal, porque fui para a sala PPP e não teve aquele ambiente cirúrgico. Era um espaço agradável, tinha banheira, bola de pilates, a enfermeira ficava acompanhando minha dilatação. Eu, que morria de medo da dor, me senti tranquila”, diz ela, mãe de Felipe, de 1 ano e 1 mês, e grávida de cinco meses do segundo filho.
“A recuperação foi ótima. Espero poder ter parto normal nessa segunda gestação também.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: www.uol.com.br
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