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Quem matou o poeta da paz?

Uma contusão com traumatismo craniano foi o que tirou a vida do escritor Eduardo Castro de Aquino Lima, de 67 anos, vice-presidente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, provavelmente na madrugada de sábado (26), em sua residência, na Rua A, no Bairro Quilômetro Sete. A princípio havia sido veiculado que a vítima havia sofrido um disparo de arma de fogo no rosto – inclusive assim foi registrado junto à 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil -, mas o exame necroscópico realizado pelo Instituto Médico Legal (IML) apontou que na realidade ele foi atingido por algum objeto na cabeça.

O caso está cercado de mistérios e ainda não se sabe se está vinculado à morte do filho dele, Marlon Gonçalves de Aquino, de 30 anos, ocorrida na mesma madrugada, quando pretensamente entrou em confronto com policiais militares durante uma abordagem na Folha 29, em frente ao Cemitério da Saudade, na Folha 29, na Nova Marabá, no início da madrugada. Foi levantada a suspeita, inclusive, de que o próprio filho pode ter envolvimento na morte do pai, porém nada foi confirmado até o momento.

O tenente Moura, da Polícia Militar, informou nesta segunda-feira que as características físicas de Marlon e da motocicleta que ele estava conduzindo – incluindo a placa – haviam sido repassadas ao Núcleo Integrado de Operações Policias (Niop-190) por vítimas que afirmavam terem sido roubadas por ele. Quando a guarnição cruzou com a motocicleta, emitiu ordem de parada. Segundo o policial, Marlon chegou a descer da moto, mas desobedeceu a ordem de colocar as mãos na cabeça. “Ele levou a mão à cintura para pegar a arma e foi alvejado”, informou.

A própria Polícia Militar socorreu o baleado e o encaminhou ao Hospital Municipal de Marabá (HMM), porém ele não resistiu ao ferimento. Max Gonçalves de Aquino, filho do escritor, informou ao Jornal que soube da morte do irmão ao amanhecer e seguiu para a casa do pai para informá-lo do ocorrido, foi quando encontrou Eduardo Castro, que era pai de cinco filhos, morto. Max afirma que o pai vivia sozinho e estava caído no chão, de bruços, ensanguentado. O filho então o ergueu e colocou em cima de uma cama, acionando o Niop-190 em seguida.

Naquele horário, o escritor já estava morto e Max diz não fazer ideia do que pode ter acontecido, já que não foi localizada nenhuma testemunha do caso. Ele acrescentou, ainda, que o irmão não costumava se alterar com o pai, achando estranha a suspeita de que ele possa ter envolvimento na morte. Emocionado, preferiu não comentar muito sobre a dupla perda. “Acabou o mundo”.

A intervenção policial que resultou na morte foi registrada junto ao plantão da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, que irá realizar a investigação do caso. Já inquérito que apura o homicídio do escritor, também registrado no plantão com poucas informações, foi encaminhado ao Departamento de Homicídios, que passa a ser o responsável por apurar a autoria do caso. A delegada titular Raíssa Beleboni não gravou entrevista nesta segunda-feira (27) sobre a situação, se comprometendo a falar com a imprensa hoje, terça (28). A equipe do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves esteve na residência do escritor realizando levantamentos no local de crime.

Junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará, Marlon respondia por um crime de furto, ocorrido em 2013, e outro por ameaça ocorrida em 2016 e pelo qual foi preso em flagrante em dezembro passado. De acordo com decisão judicial de fevereiro, assinada pelo juiz substituto Daniel Gomes Coelho, respondendo pela 3ª Vara Criminal de Marabá, no dia 21 de dezembro ele foi autuado em flagrante e dois dias depois foi arbitrada fiança no valor de R$ 8.800 para que o acusado pudesse responder ao crime em liberdade. Dois meses depois o valor não havia sido recolhido e ele continuava recolhido no Centro de Triagem Masculino de Marabá (CTMM).

O Poder Judiciário entendeu que o fato demonstrou ser impossível ao preso recolher o valor, motivo pelo qual recebeu o direito de ser colocado em liberdade, mediante medidas protetivas. Na última sexta-feira (24), uma mulher havia procurado a Seccional de Polícia Civil, com uma foto de Marlon, o acusando de roubo, ocorrido na Folha 19, Nova Marabá.

Ela registrou boletim de ocorrência informando que no mesmo dia estava em casa, sentada na sala com a filha de colo, quando ele chegou em uma motocicleta, tirou o capacete e entrou na residência, que estava com a porta aberta. Ele então deu voz de assalto e pegou dois aparelhos celulares que estavam no cômodo, em seguida questionou se havia mais alguém no local e fez ameaças, colocando novamente o capacete e fugindo. A mulher, no entanto, reconheceu Marlon, uma vez que os dois teriam crescido juntos na Folha 28, conforme ela. A vítima afirmou acreditar que ele estivesse sob efeito de alguma substância entorpecente e, por isso, não a reconheceu.

Colegas da literatura se despedem

O escritor Eduardo Castro de Aquino Lima ocupava a cadeira nº 03 da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, que tem como patrono o poeta Gonçalves Dias, sendo um dos fundadores da entidade. Nascido no município de Rio Sono, no Estado do Tocantins, quando este ainda era parte do território goiano, chegou em Marabá em 1.988. Passou a ser e escrever aos 15 anos, autodidata, quando também passou a se aproximar da literatura.

Familiares e amigos, dentre eles vários escritores desta região, se despediram do escritor durante o velório, ocorrido na Igreja Assembleia de Deus, no Bairro Km 07, no domingo (26). Os colegas falaram com respeito e admiração do vice-presidente da ALSSP. “Para mim, foi uma grande perda, ficou um vazio em Marabá e dentre os escritores. Ele era um grande amigo e tinha o sonho de ver a literatura avançar nesta região. Éramos muito amigos, frequentava a casa dele e foi uma das pessoas que foi grande incentivadora para que eu viesse a produzir minhas primeiras literaturas. Vai permanecer a saudade”, declarou Adão Almeida dos Santos.

Para Airton Souza, este é um momento difícil para todos os escritores. “É difícil tratar dessa questão, perder um poeta da nossa região, uma pessoa que militava na área, que se esforçava para incentivar a produção, a leitura. Ele amava muito a Academia de Letras, fazia questão de estar nas reuniões, de participar dos eventos e de contribuir da maneira que podia. A perda é irreparável”.

Ele diz, ainda, que Eduardo Castro foi um dos fundadores da academia e tinha orgulho de dizer que nunca faltou a uma das sessões. “Ele preservava muito a academia, reclamava muito conosco quando deixávamos de frequentar a academia, tinha muito carinho pela instituição. Eu disse hoje que ninguém amou essa academia como ele e acho que ninguém vai conseguir amar como ele”. André Melo destaca que o amigo era incansável na promoção da arte.

“O Eduardo Castro não é apenas um ídolo da literatura da região, não era apenas produtor de arte, também estava envolvido na mecânica de todo esse processo. Ajudou a desenvolver as principais casas de letras aqui da nossa região e também nos estados do Maranhão e Tocantins, de onde é natural. Fica um vão muito grande porque era uma pessoa muito representativa neste sentido”.

Francisco Xavier Pereira dos Santos também ressaltou a dedicação do vice-presidente. “O Eduardo era uma pessoa, pelo que a gente conhece dele, altamente esforçada, altamente comprometida cm a questão da poesia, da literatura e de avançar em escolas, das pessoas terem acesso. Acho que todo mundo perde em um processo desses, mas principalmente a literatura. Era muito dedicado e a grande verdade é que era comprometido com a causa, foi presidente da entidade, era vice-presidente atual e ninguém é presidente de uma entidade como esta, de intelectuais, por acaso”.

O escritor Welton Ribeiro falou da amizade que tinha com Eduardo Castro. “É um momento difícil para a gente porque ele foi o precursor desta academia e fez vários amigos, qualquer dificuldade era com ele que eu contava. E até falei com ele ontem, pra gente tomar um café juntos, falei que iria tomar café com ele semana que vem. Era muito gente boa, desnecessária essa maldade que fizeram com ele, uma pessoa muito pacífica”.

Academia de Letras emite nota

A Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, presidida por Jorge Washington Marques, divulgou nota de luto sobre o caso:

“A Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, em nome de seus membros, declara luto oficial da instituição pela morte de Poeta Eduardo Castro, que foi um dos pilares da criação desta Academia e a conduziu como presidente por dois mandatos e atualmente ocupava a função de vice-presidente.

Eduardo Castro nos deixa um importante legado poético no qual eternizou seu imaginário literário: deixa a todos grandes lições quanto cidadão de bem, batalhador e incansável; e deixa-nos, sobretudo, um vazio inaceitável, cujo espaço sabia preencher com sua valiosa amizade, de forma simples, constante e cativante. Que Deus reserve ao amigo e companheiro a paz e a eternidade.”

SAIBA MAIS

Informações sobre a morte do escritor Eduardo Castro e que levem à elucidação do caso podem ser repassadas de forma anônima ao Disque Denúncia Sudeste do Pará, por meio dos números (94) 3312-3350, (94) 3346-2250 ou (94) 98198-3350 (Whatsapp). Além disso, pode ser procurado o Departamento de Homicídios, localizado na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, na Folha 30.

(Luciana Marschall)

Fonte: CT ONLINE



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