Apesar dos escândalos, do “Partygate” – as festas celebradas em Downing Street durante os confinamentos – às acusações de favorecimento de amigos, Johnson ainda tem uma grande popularidade entre as bases conservadoras e muitos consideram que está magoado por ser obrigado a deixar o poder.
Mas nesta terça-feira ele reiterou o apelo por unidade do partido, que deve superar as divisões agravadas pela luta de poder entre Truss e Sunak.
“Se Dilyn (seu cachorro) e Larry (o gato de Downing Street) conseguiram deixar para trás suas dificuldades ocasionais, o Partido Conservador também pode”, brincou.
Johnson fez um balanço de seus três anos de mandato e recordou que conseguiu em 2019 a maioria conservadora mais significativa desde 1987 com a promessa de concretizar o Brexit, algo que parecia impossível após anos de caos político.
Desde “a distribuição mais rápida de vacinas na Europa” contra a covid-19 até “entrega rápida de armas às forças ucranianas” contra a invasão russa, passando por um “desemprego em níveis mínimos nunca vistos desde que eu tinha 10 anos”, ele recordou o que considera suas conquistas.
Após o último discurso, de apenas sete minutos, Johnson viajou para a residência escocesa da rainha Elizabeth II, em Balmoral, para apresentar oficialmente sua renúncia.
A transferência de poder geralmente acontece no Palácio de Buckingham, em Londres, a menos de 10 minutos de carro de Downing Street.
Mas este ano, por problemas de mobilidade da monarca, de 96 anos, tanto Johnson como sua sucessora terão que viajar mais de 800 km ao norte.
Terceira mulher a comandar o governo britânico, após Margaret Thatcher (1979-1990) e Theresa May (2016-2019), Truss representa a ala mais à direita do partido e prometeu reduzir os impostos para estimular uma economia à beira da recessão.
Na quarta-feira (7), ela presidirá o primeiro conselho de ministros e enfrentará na Câmara dos Comuns o líder da oposição, Keir Starmer, que na segunda-feira a acusou de “não estar ao lado dos trabalhadores”, pressionados por uma inflação de mais de 10%.
As famílias britânicas enfrentarão a partir de outubro um aumento de 80% nas contas de gás e energia elétrica. Muitas empresas e instituições, incluindo hospitais e escolas, alertaram que terão que fazer cortes ou até fechar devido à impossibilidade de pagar o novo valor.
Eleita em uma votação com a participação de apenas 82% dos 172.000 membros do Partido Conservador, em um país de 67 milhões de habitantes, diversas pesquisas mostraram que grande parte dos britânicos não confia na capacidade de Truss para enfrentar a crise.
Em seu primeiro discurso na segunda-feira, Truss descartou a possibilidade de convocar legislativas antecipadas, mas prometeu a vitória nas próximas, previstas para janeiro de 2025 no máximo, contra um Partido Trabalhista que não para de avançar nas pesquisas.