O “ritmo de contágio” do novo coronavírus desacelerou em capitais e aumentou no interior do país entre o fim de maio e o começo de julho, aponta levantamento da plataforma Farol Covid, que analisou a situação das 124 cidades mais afetadas pela pandemia. Juntas, elas somavam 29.122 mortes na segunda-feira (08), o que representa 80% do acumulado no Brasil.
O levantamento obtido com exclusividade pelo G1 detalha a situação nas 10 com maior e nas 10 com menor ritmo de contagio. Ele aponta que sete das dez cidades com maior ritmo de contágio estão no Pará. Também simbolizado por Rt, o “ritmo de contágio” é um número que traduz o potencial de propagação de um vírus: quando ele é superior a 1, cada infectado transmite a doença para mais de uma pessoa e a doença avança.
“Quando esse número é menor que 1, isso quer dizer que há doentes que não transmitem a doença a mais ninguém e nossa expectativa é que a curva da doença passe a se inclinar para baixo”, disse Ana Paula Pellegrino, coordenadora de Tecnologia e Dados na Impulso.
Os dados da Farol Covid apontam que Porto Alegre (RS) teve Rt de 0.99, o mais baixo no período entre as analisadas, enquanto Barcarena (PA) ficou no oposto, com Rt de 2.36, o mais alto. Ou seja, a estimativa é que cada infectado na cidade paraense, em média, vá transmitir a doença para mais de duas pessoas.
A análise considera dados das secretarias estaduais de saúde entre 23 de maio e a segunda-feira (8) e utiliza um modelo matemático específico para análise de epidemias que permite a produção do Rt estimado .
Abaixo, nesta reportagem, veja outros detalhes da situação das 10 cidades que tiveram o maior aumento e das 10 com a maior redução do Rt no período.
O levantamento dos especialistas da plataforma aponta que a maioria dos municípios que registraram um ritmo maior de contágio está no estado do Pará. São sete em dez cidades, das quais, seis acompanham a trajetória do Rio Tocantins.
A maior parte dos municípios que teve ritmo acelerado de infecção no Pará estão ao redor da capital Belém, que decretou lockdown entre os dias 7 e 24 de maio. Barcarena, Tucuruí, Curuçá, Marituba, Paragominas, Benevides e Abaetetuba apresentaram ritmos de contágio que variaram entre 1,81 e 2,36 – isso quer dizer que em cada um dos municípios destacados, um portador da Covid-19 chegou a infectar entre 2 e 3 novos pacientes.
Os municípios registraram seus primeiros casos de Covid-19 ainda no final de março, mas foi em abril que mais tiveram aumento no número de confirmações. Segundo o levantamento, a média de isolamento nestas cidades caiu de 44% para 41% em uma semana.
Fátima Marinho, que é médica epidemiologista e uma das consultora técnicas que apoiam a plataforma, disse ao G1 que a interiorização dos casos é “a crônica de uma morte anunciada”. Além disso, a especialista apontou que são poucos os municípios do país que ainda não têm nenhum caso de Covid-19.
“O que a gente pode fazer é ajudar na mitigação”, disse Marinho. “A primeira medida quando você tem uma alta taxa de contágio de disseminação do vírus, você trabalha com o distanciamento social, e aí se começa a fazer uma identificação dos casos e testar isolar casos e os contatos.”
Ela explicou que é apenas com esse acompanhamento que é possível reduzir o ritmo de contágio para perto de 1, que é o ideal.
“Para só assim poder discutir e reabrir as atividades de comércio, e até mesmo escolas, que são as últimas a voltarem”, disse a epidemiologista.
O relatório apontou para uma desaceleração no ritmo da transmissão da doença nas capitais do país: Porto Alegre, Fortaleza, São Paulo, Manaus e São Luís ficaram entre as dez cidades com o menor ritmo de contágio do país.
Os pesquisadores apontaram para uma “tendência geral de estabilização” entre as cidades com menor ritmo de crescimento da doença, mas alertam para a dificuldade que elas ainda encontram em barrar o surgimento de novos casos.
Entre as capitais, Porto Alegre foi a única cidade que teve ritmo de contágio com valor mais provável abaixo de 1. As outras cidades variam com taxas entre 1,03 e 1,17, ainda evidenciando uma transmissão ativa da Covid-19.
O levantamento destacou também que a capital gaúcha e Fortaleza ainda não atingiram o pico de mortes, enquanto que São Paulo parece ver um novo aumento no número de mortes reportadas diariamente.
Fátima Marinho pondera, no entanto, que é importante usar mais de um indicador para entender a epidemia. Isso porque, segundo ela, a taxa de infecção, por estar vinculada às detecções de novos casos da doença pode ser subestimada.
“Outros indicadores, como a mortalidade, mostram o tempo que o vírus está circulando e me dá um sinal também da gravidade da epidemia”, disse Marinho.
O estudo também apresentou que algumas das cidades com menor ritmo de infecção ainda não atingiram o pico de mortes por complicações da Covid-19, é o caso das capitais Porto Alegre e Fortaleza.
A escala muda gradualmente até a cor vermelha, que indica os dias com o maior número de novas mortes. Os dados consideram apenas as estatísticas oficiais, e não corrigem o atraso entre a data em que a morte ocorreu e a data em que ela foi confirmada.
São Paulo e Duque de Caxias parecem estar vendo novo aumento no número de mortes reportadas por dia. Entretanto, os pesquisadores ressaltam que Manaus, Volta Redonda, Praia Grande, Caieiras, São Luís e São Lourenço da Mata já passaram do pico.
O levantamento feito pela plataforma Farol Covid, desenvolvida pela Impulso em parceria com Instituto Arapyaú e InLoco, calculou o ritmo de contágio (também chamado de número de reprodução efetiva da doença), a partir dos dados oficiais divulgados pelas secretarias estaduais de saúde.
Os pesquisadores usaram um modelo matemático para fazer essa projeção a partir de cálculos já conhecidos, usados para distritos dos Estados Unidos. Com o modelo, é possível atualizar a expectativa de novas pessoas infectadas por cada pessoa doente (Rt) de acordo com o número de novos casos reportados no dia e outras variáveis incluídas na fórmula.
O ritmo de contágio traduz em uma estimativa a quantidade de pessoas que cada pessoa doente pode infectar em um determinado intervalo de tempo.
“Esse número muda dia a dia”, explicou Ana Paula Pellegrino. “Isso porque você tem no início mais pessoas que estão suscetíveis a doença e no final, menos pessoas suscetíveis.”
A coordenadora coordenadora de Tecnologia e Dados na Impulso disse também que o Rt mostra se as medidas tomadas por gestores públicos são efetivas para “frear cadeias de transmissão”.
Segundo ela, sem acabar com essas cadeias, é mais difícil diminuir a curva de contágios e conter o surgimento de novos casos.
(Fonte:G1)
Fonte: correiodecarajas.com.br
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