Ademir Serafim Graça completa 74 anos em agosto. Desde as eleições de 2018, ele não é mais obrigado a votar, mas segue fazendo questão de comparecer às urnas. E este ano não será diferente.
Mesmo enfrentando problemas de saúde, o bancário aposentado, que vive em São Paulo com a família, resume em poucas palavras o que o motivará a sair de casa no dia 2 de outubro: “A democracia. E o voto é a democracia”.
É a oportunidade que tenho para ajudar a melhorar as coisas. Sinto que meu voto pode fazer a diferença
Ademir Serafim Graça, aposentado
Graça faz parte de um grupo de 14,8 milhões de eleitores com mais de 70 anos de idade, um crescimento de quase 24% em relação a 2018, quando eram cerca de 12 milhões, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Esse número representa 9,52% de todo o eleitorado apto a votar no dia 2 de outubro.
No Brasil, o voto é facultativo para os jovens de 16 e 17 anos, para as pessoas acima dos 70 anos e para os analfabetos. O TSE fez uma grande campanha para que adolescentes tirassem o título de eleitor e participassem do pleito, e até artistas internacionais entraram na mobilização. Como resultado, houve um crescimento de 51,14% nessa faixa etária do eleitorado. Mas os idosos também querem ajudar a decidir as eleições.
“O voto consciente oportuniza exercer a cidadania e viver plenamente a democracia”, resume Selma Quintella, 75. “Acham que o idoso não tem condição, competência [para votar], mas, pelo contrário, o idoso hoje está muito empoderado e sabe muito porque já viveu, tem experiência”, diz ela.
Moradora de Belém, ela preside a Assipa (Associação dos Idosos do Pará) e faz questão de incentivar o voto entre os participantes da organização não-governamental, onde está há 32 anos — ela entrou como professora.
“É importante colocar as pessoas para pensar. Eu sempre coloquei a importância do voto para elas e hoje todas da minha turma votam”, orgulha-se.
Selma também faz parte da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB (Ordem dos Advogados) e participou de uma campanha institucional feita pelo TRE-PA (Tribunal Regional Eleitoral do Pará) sobre acessibilidade e voto da pessoa idosa.
“A mulher lutou tanto para ter direito a votar e, agora que nós temos direito, ‘ah, eu não vou mais votar porque não tenho idade’. Eu tenho sim”, disse ela no anúncio.
Ela também faz questão de desmentir fake news sobre idosos e eleições ao seu grupo, como quando passou a circular um boato de que a Justiça Eleitoral estava cancelando títulos de eleitores com mais de 70 anos.
“Eu falo para o pessoal do TRE que, o que tiver, pode me mandar que eu coloco no canal do YouTube, no blog da associação, no Facebook. Eu sou uma idosinha empoderada, viu”, diz Selma, aos risos.
Aos 78 anos, Isaura Palazolo acorda cedo no domingo de eleição e faz uma curta caminhada de sua casa até o colégio onde vota, na zona sul de São Paulo.
Não deixou de ir às urnas nem mesmo em novembro de 2020, data em que foram realizadas as eleições municipais, e em meio à pandemia do novo coronavírus, quando ainda não havia vacinas disponíveis.
“Enquanto tiver saúde, estarei lá para dar minha contribuição para tentar mudar as coisas, dar um futuro melhor para os meus bisnetos”, diz ela.
Somados, o total de eleitores registrados que não são obrigados a comparecer às urnas passa de 23 milhões, fatia que corresponde a 14% do eleitorado, o que faz com que o voto facultativo tenha um peso importante para a escolha do próximo presidente.
Esse número é explicado pelo maior interesse dos jovens e pelo envelhecimento da população.
Para o cientista político e pesquisador Sérgio Praça, da FGV (Fundação Getulio Vargas), o acirramento do ambiente político e o agravamento da crise econômica podem fazer com que as pessoas deem um peso diferente às eleições deste ano.
“O acirramento dos ânimos e a importância dessa eleição pode fazer com que mais pessoas, embora não sejam mais obrigadas legalmente a votar, tenham vontade de participar. Acho que é razoável interpretar esse aumento como uma coisa do tipo ‘olha, essas eleições são mais importantes que o normal'”, diz.
Em relação aos eleitores da terceira idade, ele ressalta que são eles os que mais têm memória de governos anteriores. “Para quem viveu hiperinflação —claro que o cenário atual não é o mesmo, mas é preocupante—, eu acho que isso pode motivar a pensar que essas eleições vão ser mais importantes do que estava pensando há meses atrás.”
Fonte: uol.com.br
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