O uso do termo “mesários” aumentou em grupos bolsonaristas no aplicativo de conversas Telegram em oito meses. O salto se dá no mesmo tempo em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) obrigou que o eleitor entregue seu celular ao mesário para poder votar.
De janeiro a agosto deste ano, as menções a palavra mesário saltou de 2 para 163 em 121 grupos formados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que são mapeados pelo Media Studies, da Universidade de Virginia, nos Estados Unidos.
Presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes anunciou no dia 25 de agosto que o eleitor é obrigado a entregar o seu celular para o mesário antes de votar. Caso contrário, a pessoa pode ser impedida de acessar a urna eletrônica para exercer o direito do voto.
A decisão unânime condiciona o acesso à urna eletrônica à entrega temporária do aparelho ao servidor da Justiça eleitoral. A medida visa garantir o sigilo do voto e evitar fotos ou gravações da urna eletrônica.
O prazo para inscrição voluntária de mesários acabou em maio. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 2 milhões de pessoas atuarão como mesários neste ano, sendo que 830 mil (43%) se ofereceram espontaneamente – em 2018 foram 430 mil voluntários.
O uso do termo aumenta mês a mês ao longo do ano (veja na tabela abaixo). O crescimento se dá a partir de julho, quando se começa a discutir a obrigação de o eleitor entregar o celular ao mesário. Em agosto, dobra: passa de 86 para 163.
Antes, só há números acima dos dois dígitos em abril e maio, mês em que foi encerrada a inscrição voluntária de mesários.
Houve um movimento orgânico entre os bolsonaristas para inscrição de mesários, mas a ação não ganhou maior repercussão na rede pró-presidente da República.
“Gente, o mais importante é votar. Ele [Moraes] quer aumentar a abstinência de votos e criar condições para o tumulto. Deixem os celulares em casa ou, então, levem, usem o título digital e deixe a porr* do celular com o mesário”, escreve um dos bolsonaristas preocupados com a medida.
Professor de antropologia David Nemer, a reação nos grupos se dá como uma forma de manter a base de bolsonaristas unida em volta de um mesmo inimigo através dos ataques e campanhas de desinformação. Neste caso, seria o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que preside o TSE.
“Eles entendem que o Alexandre de Moraes está o tempo todo boicotar o Bolsonaro e essa questão do celular”, afirma. “As pessoas desses grupos acham que a proibição vai inibir e desmotivar os bolsonaristas a sair a votar. Então, eles entenderam que não vão ceder, digamos assim, a essa ‘intimidação’ do Alexandre de Moraes, então estão criando essa campanha de como se comportar perante essa nova regra”, diz o professor.
O professor afirma que os apoiadores do presidente tentam encontrar formas de manter a vigilância ao processo eleitoral ao mesmo tempo que não quebrem a regra do celular na cabine de votação.
“Tem muito debate sobre deixar [o celular] em casa, levar um familiar para deixar com ele o celular, tem muito pedido para bolsonarista se inscrever como mesário para justamente deixar o celular com esse bolsonarista que está na mesa para que não haja algum problema de se perder”, diz.
“Eles têm esse tipo de desconfiança. É esse o movimento que está tendo em relação ao celular na hora da votação”.
Fonte: g1.globo.com
Divulgar sua notícia, cadastre aqui!