Durante a assembleia online realizada pelo Sindicato dos Docentes da Unifesspa – SINDUNIFESSPA, pela plataforma GoogleMeet, os docentes da universidade rejeitaram, por unanimidade, a minuta que se propõe regulamentar a oferta de Componentes Curriculares dos cursos de graduação durante a pandemia. “Se avaliou que essa oferta por Ensino Remoto comprometerá o processo de ensino- aprendizagem com qualidade e excluirá centenas de estudantes da Unifesspa”, diz o documento do SINDUNIFESSPA.
A entidade explica que é do conhecimento de todos os membros da administração superior que os/as alunos/as da Unifesspa são, em sua maioria, de baixa renda. Muitos não possuem computador pessoal que possibilite o acesso à internet – contando apenas com dados móveis e com pacotes de planos de dados limitados. Para o sindicato, oferecer componentes curriculares em forma de disciplinas para aqueles que estão aptos a cursá-las, por Ensino Remoto, só beneficiária uma minoria dos estudantes, e excluiria a grande parte que têm direito ao mesmo acesso que os demais. “Esta ação afirmaria valores como a meritocracia no ensino público desta universidade, afastando dela grande parte de estudantes pobres, indígenas, quilombolas e provenientes de áreas rurais. São esses discentes que particularizam com nobreza o caráter inclusivo desta Universidade”, argumenta.
Também, na avaliação dos docentes da Unifesspa, o Ensino Remoto impõe várias condições para adequação ao trabalho letivo que não serão supridas com cursos aligeirados, sem acompanhamento e suporte técnico apropriados pela instituição. Ficará sob responsabilidade dos/as docentes a devida adequação às limitações. “É preciso ressaltar que estamos passando por um momento antes nunca vivenciado, uma situação excepcional na vida de muitos de nós. Ao longo deste período, alguns ficaram doentes ou tiveram que cuidar de familiares que adoeceram ou pertencem à grupos de risco. É possível que continuaremos vivenciando essa realidade com nossa família por algum tempo, ou enquanto durar a pandemia pela covid-19”, relata o documento oficial.
Neste sentido, continua o SINDUNIFESSPA, cabe ressaltar que a implementação do Ensino Remoto alteraria ainda mais a dinâmica familiar de todos, pois, muitos professores relataram que não contam com ambiente adequado de trabalho em casa com os(as) filhos(as), os quais também estão sem aulas presenciais.
Além disso, professores também relataram que, em muitas vezes, já estão vivenciando de fato a precariedade do Ensino Remoto com a fragilidade de suportes para conexão à internet, disponibilidade de máquinas que atendam a todos os membros da família, entre outras adversidades. Esta situação demanda mais atenção e cuidados e impacta, sobretudo, a rotina das professoras, mulheres trabalhadoras que já sofrem diariamente a sobrecarga da vida profissional e familiar, pois desdobram-se em papéis múltiplos para atender as demandas dos espaços que ocupam com maior sobrecarga do trabalho doméstico.
Flexibilização
Sabe-se que há uma tendência à flexibilização dos serviços não-essenciais propostos por governadores e prefeitos neste momento no Brasil, contexto em que a pressão popular sobre o retorno às aulas das escolas e universidade públicas aumentaram. O sindicato alerta ainda que a falta de conhecimento sobre o trabalho que os docentes do ensino superior realizam leva a crer que os servidores da educação deste país estão sem atividades para desenvolver nesta pandemia. “Porém, ao contrário do que se pensa, muitos de nós estão envolvidos em pesquisas direta e indireta relacionadas a pandemia de covid-19. Outros mantiveram suas atividades administrativas em expediente home-office, além de continuarem em orientações, projetos de pesquisa e extensão, entre outras que asseguram suas atividades com práticas de segurança”, relata o SINDUNIFESSPA.
Os professores manifestaram também preocupação com o pouco tempo que foi dedicado para discussão e inserção de colaborações desta minuta que prevê o Ensino-Remoto na Unifesspa. Não foi apresentada uma consulta prévia a todas as representações da comunidade acadêmica, como normalmente é feito pela plataforma Participa.
“Neste sentido consideramos que faz-se necessário um debate amplo, organizado e com tempo hábil para definir atividades acadêmicas que poderão ser ministradas, tais como seminários, palestras, debates que podem ser combinados entre institutos e grupos de pesquisa. Seriam atividades de aproximação entre docentes e discentes da comunidade acadêmica e externa, porém, não com o mesmo sentido que o Ensino à Distância (EAD). Este sindicato acredita que é possível construir uma proposta coletiva que esteja de acordo com a realidade de professores(as), técnicos(as) e estudantes e de todos os membros da comunidade acadêmica que integram a Unifesspa”, propõe.
Diante de tudo isso, o SINDUNIFESSPA defende a rejeição da minuta sobre Aula Remota. Faz-se necessário neste momento construir alternativas e políticas de inclusão, mas, para que isso aconteça, é necessário escutar com paciência a comunidade acadêmica e avançar com segurança no desenvolvimento das atividades universitárias. “Acreditamos que essas questões sejam cruciais para o objetivo de manutenção da qualidade de ensino desta instituição, considerando, ainda, as representações discentes indígenas e quilombolas para que também estejam inseridas neste processo. Por fim, salientamos que é preciso estarmos atentos: esta pandemia não é somente um problema de saúde, é também um problema político e de responsabilidade do governo federal”, finaliza. (Chagas Filho – com informações do SINDUNIFESSPA)
Fonte: correiodecarajas.com.br
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