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Zika pode ser transmitida por mosquito “primo” do Aedes aegypti

O Aedes aegypti pode não ser mais o único mosquito a transmitir a zika. Um grupo de cientistas encontraram fragmentos de RNA do vírus em amostras de mosquitos Aedes albopictus, conhecidos popularmente como mosquito tigre asiático, coletadas na cidade de Camaçari, na Bahia.

Em maio de 2015, a Organização de Saúde Panamericana divulgou um alerta sobre os primeiros casos de transmissão da zika no Brasil. Um dos estados mais afetados pelo surto foi a Bahia. Em Camaçari, 7.391 casos suspeitos de doença infecciosa como a zika foram relatados, segundo dados de 2016 da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.

Devido a esses números alarmantes, os especialistas suspeitaram que outras espécies de mosquito poderiam estar envolvidas na transmissão. Até então, o Aedes aegypti era a única espécie conhecida como vetor da zika para seres humanos.

Por isso, no mesmo ano, os pesquisadores coletaram ovos de mosquito encontrados em diversos bairros de Camaçari para estabelecer uma colônia de laboratório. De acordo com o estudo, os ovos coletados forneceram 20 fêmeas e 19 machos adultos de Aedes albopictus. Todos passaram por exames de análise de RNA.

Após repetir os testes quatro vezes em cada amostra, os cientistas encontraram três fêmeas e dois machos do mosquito com indícios do zika. Segundo o estudo, isso significa que as fêmeas coletadas na cidade baiana foram infectadas pela zika e transmitiram fragmentos do vírus para seus descendentes.

Contudo, os pesquisadores são cautelosos e ainda não afirmam que o Aedes albopictus pode transmitir o vírus da zika verticalmente – quando uma infecção é passada do mosquito mãe para sua prole. “Detectar fragmentos de RNA sem encontrar o vírus zika vivo sugere que, ou a mãe não estava infectada com o vírus zika vivo ou que não foi capaz de transferir o vírus vivo da zika para seus ovos”, disse Chelsea Smartt, autora principal do estudo, em entrevista a EXAME.com.

Para comprovar que o mosquito é capaz de transmitir a doença, os cientistas precisam responder duas perguntas, de acordo com o estudo. A primeira é entender se o RNA do zika encontrado foi devido à contaminação durante o processamento dos mosquitos. A segunda é se esse RNA é infeccioso.

“Trabalhos futuros são necessários para caracterizar o mecanismo responsável pela transferência de RNA para os ovos de Aedes albopictus e se o vírus vivo pode acompanhar isso em várias condições ainda desconhecidas”, aponta a pesquisa.

Apesar de o estudo ainda ser inicial, Smartt explica que os resultados significam que o Aedes albopictus pode ser infectado com o vírus da zika e, por isso, deve ser motivo de preocupação para a saúde pública. “Suas amostras de saliva (do Aedes albopictus) contêm o RNA do vírus, sugerindo que ele pode ser um vetor potencial”, conta a cientista.

Aedes albopictus x Aedes aegypti

O Aedes albopictus tem uma aparência bem similar ao do Aedes aegypti. Ambos têm coloração preta com pequenas manchas brancas no corpo e listras brancas nas patas. Os dois são da mesma família (Aedes) e do mesmo gênero (Culicidae).

Há uma característica morfológica nos tórax dos dois mosquitos que os diferenciam, explica a autora Chelsea Smartt a EXAME.com. “O Aedes aegypti tem faixas prateadas em forma de escamas, enquanto o Aedes albopictus tem uma única faixa prateada.”

Como o aegypti, o albopictus tem uma relação bem próxima com os seres humanos. Nós somos fonte de alimento para essa espécie e também criamos locais de reprodução convenientes. O albopictus prefere habitar áreas urbanas, onde pode colocar seus ovos em pequenas bolsas de água.

Devido a esse contato com os humanos, muitos pesquisadores já questionaram se a espécie tem a capacidade de atuar como vetor da febre amarela e da dengue. Um estudo, publicado em 1990, demonstrou em laboratório que populações do Aedes albopictus no Brasil podem transmitir a dengue.

Outra pesquisa de 1993, realizada por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, observou na natureza que essa espécie de mosquito é capaz de transmitir o vírus da dengue verticalmente. As amostras de larvas usadas na análise foram coletadas no estado de Minas Gerais.

Controle da população

Com tantas características parecidas, o albopictus e o aegypti podem ser evitados usando as mesmas técnicas de controle de população. “É importante que o governo brasileiro continue a usar medidas para controlar o Aedes aegypti que já estão sendo implementadas”, disse Smartt. Além disso, segundo a cientista, estudos adicionais podem informar onde o mosquito “Tigre Asiático” vive para melhor monitorá-lo.

No entanto, uma pesquisa publicada no periódico Journal of Medical Entomology explica que as instituições públicas de saúde precisam ir além das técnicas de controle, como alertar a população sobre o cuidado com recipientes cheios de água e o uso de inseticidas, para vencer o mosquito.

Segundo o estudo, o uso da genética pode ajudar na empreitada. Uma das técnicas apontadas é a da liberação de insetos com letalidade dominante. Nesse tipo de estratégia, os mosquitos masculinos são geneticamente modificados para que sua prole feminina não sobreviva. Vale notar que apenas os mosquitos fêmeas são vetores de vírus.

Essa técnica já é usada no Brasil com sucesso no combate à dengue. A Oxitec, uma empresa britânica que “produz” mosquitos geneticamente modificados, revelou em julho de 2015 que uma leva desses insetos solta em Piracicaba, no interior de São Paulo, conseguiu neutralizar 70% dos ovos do mosquito na cidade.

Além disso, recentemente, a Oxitec conseguiu reduzir a quantidade de mosquitos em uma área de Piracicaba com os insetos transgênicos. Em entrevista a EXAME.com em março de 2016, a companhia afirmou que a população de mosquitos em uma área tratada foi 82% menor quando comparada com um local que teve o mesmo tratamento. A empresa espera aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar o mosquito transgênico.

Fonte: Abril



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